terça-feira, 21 de agosto de 2012

Falso cordeiro e o delegado

Um caso emblemático e que muito despertou atenção em Campinas foi o homem flagrado ao furtar um queijo tipo minas. A ação dele foi em um supermercado do bairro Cambuí no final de uma tarde. Após a detenção, foi levado pela PM para uma delegacia.

Foi o que ocorreu. Mas, como não era incomum acontecer, era o delegado Oswaldo que lá estava. Já protagonista de outras histórias, Oswaldo analisou o caso. Sempre  cuidadoso, verificou a situação é decidiu pela autuação do homem.

No dia seguinte, até um político entrou na história e criticou a prisão do "pobre " homem, preso apenas por um queijo. Horas depois,  se descobriu que o tal homem estava com nome falso,  era fugitivo e estuprado. Moral da história: deixem a Polícia trabalhar.  Que cada um faça o seu papel.  Novamente o Oswaldo acertou.

Fogo no carro e delegacia

Um carro Fiesta, um trio de rapazes e uma ideia: se apoderar do carro para dar uns rolês em Campinas. Os três colocaram, então, o plano em andamento no Jardim Guarani. Mas a falta de prática do trio impediu o êxito.

Irritados por não conseguirem abrir o Fiesta, eles tomaram uma decisão no calor, literalmente, da situação. Resolveram atear fogo no carro.  E mais. Uma vez demonstraram despreparo. Logo após provocarem o incêndio, a PM apareceu e deteve o trio. Resultado : todos levados para a delegacia.

domingo, 19 de agosto de 2012

Preso quer BO para explicar atraso

Um detento, que teve direito à saída temporária de Dia dos Pais para no 1º Distrito Policial de Campinas. Entra, olha para o policial, e diz: "Senhor, eu saí da cadeia para a festa dos pais. Me atrasei e perdi o horário de retornar. Posso fazer um Boletim de Ocorrência (BO) para explicar o motivo?

De boca aberta, o policial afirma: "Não precisa não. Mesmo porque a penitenciária tem administração de outra secretaria do governo. E os papéis são diferentes". O preso ainda questiona: "Mas vou poder e entrar sem problema no presídio. Vão me aceitar?".

A resposta do policial: "É claro que vão te receber. Afinal, você não precisa terminar de cumprir a pena? Aliás, qual seu presídio?" O preso responde: "Cidade de Itápolis. Tenho mais uns três anos para cumprir de pena".

"Então corre para a rodoviária, para pegar o ônibus e chegar o mais cedo possível", afirma o investigador. "Vou sim então, para não perder a vaga", responde o detento, que enfia a mochila nas costas e vai embora. pelo atraso de retorno, o detento perderia o direito de passar outras festas em casa. Mas... Faz parte da lei...

"Rei do Código Penal" volta para cadeia

Recebi, em certo sábado de plantão, a informação sobre prisão de um homem, que era fugitivo da Justiça. Ele havia escapado de penitenciária em 1999. Estava em 2012. Bem legal, nas ruas da cidade de Vinhedo, vizinha de Campinas, em SP. Eis que ao saber do fato, não podia sair da redação. Apenas sabia que se tratava de "cana" (prisão) efetuada pela Polícia Militar (PM), mas não dispunha de maiores dados, além de um primordial: era um homem com extensa ficha criminal.

É lógico que esta "extensa ficha criminal" precisava ser melhor aquilatada, para explicar ao leitor, caso quisesse publicar no site em que trabalhava, a prisão do homem. Não pensei duas vezes. Ligações para a PM, onde obtive alguns dados. Para a Polícia Civil, onde consegui outros. A história aumentou. Na delegacia, inclusive, consegui falar com um dos soldados que efetuaram a prisão.

Em meio à conversa, dados importantes foram se somando: tempo em que estava fugitivo, crimes que praticou, como foi a detenção. E daí por diante. Ainda faltava um daod importante: como dimensionar a ficha criminal. Após conversar com outro policial, encontrei a forma. Multiplicar o número de folhas impressas da "capivara" (ficha criminal) pelo tamanho de cada folha; assim, teria, em centímetros, a extensão da ficha da Divisão de Vigilância e Capturas (DVC). Resultado? Cerca de 50 metros. Bem longa, mesmo... Um verdadeiro "Rei do Código Penal".

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Ursinho tem drogas no estômago

Um ingênuo ursinho de pelúcia foi parar no 9º Distrito Policial (Jardim Aeroporto) de Campinas, no último  dia de julho de 2012. Ele, ou melhor, o seu dono foi acusado de tráfico de drogas. Policiais militares do 47º Batalhão, quando verificavam uma denúncia anônima, descobriram o bichinho, em casa do Parque Universitário de Viracopos, na região Sul de Campinas, recheado com drogas.

O ursinho azul, com uma pequena saia, guardava, em seu 'estômago', 76 pedras de crack e 13 porções de cocaína. Diante da descoberta dos PMs, o homem e o ursinho acabaram levados para o 9º DP. O proprietário do bichinho foi autuado em flagrante por acusação de tráfico de drofas e depois encaminhado para a cadeia anexa ao 2º DP (São Bernardo). Já as drogas e o ursinho foram mandados para a perícia.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

As idas e vindas do "Setor"

Quando se é estudante, especialmente, tudo é motivo para festa. Não era diferente quando fazia universidade. Acostumado a festas, nada era impossível. Mesmo quando se estudava pela manhã e trabalhava à tarde ou noite, a intenção de ir para as festas era permanente. Assim, o trabalho parecia menos desgastante.

Tantos lugares e muitas chances para a diversão. Assim, praticamente de segunda-feira a domingo era período de passeios e festas. Para viabilizar o encontro com os amigos, em Campinas, havia uma região, que era batizada de "Setor". Esta área, no começo de um bairro chamado Cambuí, é que a moçada se reunia com maior intensidade. Desta forma, havia um quadrilátero, onde as pessoas mais ficavam, divididas em seis bares.

Na verdade, não ficávamos apenas em um destes bares. Pelo contrário. Na real, era feita uma verdadeira via-sacra. Costumava-se ir inicialmente a um destes bares e depois passar por outros. Às vezes, até por todos estes seis. E com muita alegria e bate-papo, as noites e madrugadas passavam. Neste ritmo efervescente é que o curso de Comunicação Social era tocado. Muito aprendi nestas idas ao "Setor" - por mais que pessoas possam desconfiar...

Em vez de namoro, roubo e prisão

A ida à casa da namorada deve ser um momento de bem-estar e tranquilidade. Para se poder curtir o amor em uma boa. Mas não foi  bem isto que aconteceu, entre Americana e Campinas, em uma noite de julho de 2012. Isto pois o homem, além de não namorar a moça, ainda a envolveu em um roubo, que resultou na prisão do casal e de outros dos rapazes.

A falta do "namoro ideal" aconteceu quando o homem saiu de Campinas e foi até Americana com seu carro Polo. Foi com dois rapazes. Ao chegar em Americana, passou na casa da namorada e, então, veio a ideia do assalto a um posto de gasolina. Porém, logo após o roubo, policiais militares foram chamados, e passaram a seguir os suspeitos.

Foram cerca de 30 quilômetros de perseguição por duas rodovias - Luiz de Queiróz e Anhanguera. Apenas terminou quando o homem que dirigia o Polo perdeu o controle do carro, que bateu na traseira de um caminhão. A única sorte das quatro pessoas foi nenhuma delas se ferir no acidente. Após a batida, os quatro foram presos. E os policiais militares descobriram que até embalagens de camisinhas tinham sido saqueadas do posto de gasolina. Resultado: com a prisão, o casal de namorados teve de se separar. Não se sabia por quanto tempo...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Carro cor-de-rosa "entrega" casal

Três pessoas - dois homens e uma mulher  resolvem assaltar uma padaria em Campinas. A decisão é pelo ataque na noite de um domingo, período em que a onda de frio do mês de julho já estava em baixa. Inicialmente entra na loja um dos homens. Ele lá está, no Parque Prado, para dar uma "filmada" - forma de se dizer que procurava descobrir o ambiente e, se possível, detectar câmeras de segurança.

Após minuciosa vistoria, dá um sinal e aparece seu comparsa, com uma faca. Este segundo bandido rende algumas pessoas e anuncia o assalto. O outro homem trata de se apossar de dois telefones celulares, 11 maços de cigarros e alguns reais. A dupla sai da padaria e a Polícia Militar é chamada. Eis que uma pessoa nota a forma de fuga: os ladrões entraram em uma Parati cor-de-rosa para a fuga.

Assim, saem do local. Mas são presas fáceis pela cor do carro, é óbvio. Em poucos minutos, um dos homens desapareceu, mas um casal de comparsas permanece com o carro ano 1984. Não tardaria para estes dois fugitivos acabarem por ser cercados e presos pela PM. O casal foi para a cadeia e o carro, cor-de-rosa, "bandeiroso", ficou apreendido. Os acusados não ficaram nem com os produtos nem com o dinheiro roubados e, ainda, sem o carro.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Queria autorização para pedir


No dia a dia conturbado da vida de jiornalista, sempre se pensa que tudo foi visto. Mas isto não condiz com a realidade. Estava a passar diante de delegacia de Polícia Civil, no começo de julho de 2012, quando um rapaz se aproximou. Estava eu a conversar com um colega policial.


Jeito simples do homem, ele se aproximou. Aparentava acanhamento, olhar desconfiado, duvidoso. Conforme se chegou perto nos olhou e pediu licença. "Os senhores podem dar um minuto?, perguntou. Ao ver o homem, eu e o amigo policial passamos a ouvi-lo.

"Eu sou de Moji Mirim, vim pra Campinas e agora estou sem dinheiro para voltar. Será que eu consigo se pedir?". Eu e o amigo nos olhamos. O homem prosseguiu: "Mas pra poder pedir o dinheiro será que o sei policial podia dar uma autorização?"

Pois é. Isto mesmo. O homem queria autorização para ser pedinte! Diante da situação, o encaminhamos para local onde há assistente social. Assim, o homem seguiu seu dia. E eu e meu amigo. Os nossos. Com mais uma história na vida.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ladrão rouba, dorme e é preso

Quando um ladrão não  tem descanso, fica sem suportar a pressão. E pode até dormir em "serviço". Bem, isto, por incrível que pareça, aconteceu em julho de 2012 em Campinas. Um rapaz foi preso pela Polícia Militar (PM) exatamente quando dormia dentro do Prisma que tinha sido furtado de uma mulher, horas antes.

O acusado de participar do furto estava em uma chácara, que foi encontrada pelos policiais militares, após denúncia. Eles surpreenderam o suspeito, de 24 anos, e outros rapazes, mas fora do Prisma. O homem que estava no carro afirmou ter furtado o veículo. Foi para uma festa na chácara e acabou por adormecer, o que facilitou a ação policial. Foi parar na cadeia.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sexta-feira 13: Dia de sorte

Existe a conversa popular que "sexta-feira 13 é dia de azar". Mas na sexta-feira, 13 de julho de 2012, o que ocorreu, em Campinas, foi exatamente o oposto. Um operador de radar móvel, que trabalhava no bairro Alto Taquaral, escapou da morte. Como?

Simplesmente por um homem, que desceu de uma picape Strada ter apontado revólver em sua direção, apertar o gatilho e... Nada. Em uma segunda tentativa, nova falha da arma. Diante do inusitado, este homem fugiu do local. E o operador de radar pôde, de forma profunda, respirar aliviado.Quem ouviu o relato também ficou boquiaberto: uma arma falhar por duas vezes, quando apontada para a cabeça do alvo do ataque. Esta sexta-feira 13, com certeza, valeu como um renascimento para este operador de radar, então com 24 anos.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Comprimidos com duas funções

Para as pessoas que desejam atuar no tráfico de drogas, realmente, não existem limites. No começo de julho de 2012 policiais e guardas municipais observaram uma nova forma de os microtraficantes agirem na região central de Campinas. Na área conhecida por "Boca do Lixo", onde existem diversas lanchonetes, bares, hotéis de alta rotatividade e garotas de programas, os traficantes começaram a vender, também, comprimidos.

Mas, e o por quê deste ato? Pois muitos destes comprimidos eram repassados como contra a disfunção erétil, como Viagra, ou o Pramil, que é proibido no Brasil. Desta forma, caso o traficantes fossem pegos, além das drogas, como crack e cocaína, estariam com os comprimidos. Ao perceberem que seriam cercados e detidos por agentes de segurança, jogaram os entorpecentes (como o crack e a coca) fora, e apenas ficariam com os comprimidos.

Deste jeito, poderiam alegar que apenas vendiam estes comprimidos para os que fossem fazer programas com as mulheres. Além desta forma de tentar a prisão em flagrante, os traficantes enxergaram, efetivamente, um novo nicho - o de vender mesmo os comprimidos com a função deles, ou seja, para que o homem tivesse melhor desempenho sexual.

Assim, fugiriam do flagrante (quando possível) e ainda ganhariam mesmo com a venda dos comprimidos. Mas um tipo de crime associado aos diversos que são apêndices da prostituição, como o próprio tráfico, o furto e o roubo.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Tráfico: 20% de ganho nas vendas

O tráfico de drogas sempre a criar novas formas de burlar as ações policiais e a ser a tentação dos usuários. É isto que se fez descobrir, neste mês de junho de 2012, em Campinas. Como jeito de manter os seus vendedores em ações, os traficantes começaram a ceder o crack em kits, cada um deles com 25 pedras.

Como forma de incentivar o "serviço dos microtraficantes", os homens que detêm o entorpecente visualizaram uma forma diferenciada: para cada kit de 25 pedras, cada uma passada a R$ 10, o vendedor teria direito a R$ 50. Ou seja: 20% de ganho. Assim, se vendesse 100 pedras em um período, receberia R$ 200. Caso atuasse no tráfico por 25 dias no mês, obteria R$ 5 mil - quase dez salários-mínimos no valor vigente em maio/2012. Grande tentação, não??

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Munição de fuzil e Hosmany Ramos

Após alguns anos de cobertura jornalística, poucos, na verdade, tive minha primeira experiência com um caso em que foram usados fuzis. Foi em uma manhã fria de domingo, em Campinas, perto de uma base da empresa de segurança Brinks, que vi os primeiros cartuchos deflagrados de munição 5.56 - usada em fuzis. Eram os anos 1990, mais ou menos na metade da década.

A quantidade de cápsulas deflagradas, no Jardim Aurélia, era espantosa. Policiais militares e civis no começo da manhã na Rua Concheta Padula. Muito mistério em relação à munição até então muito rara. Nem eu podia entender o que ocorrera. Após uma conversa informal com a delegada Maria Fernanda, pude deduzir que algo, realmente grande, havia ocorrido.

Durante todo o dia fiquei a apurar o caso. Na época, não havia internet e as informações de fora da cidade chegavam por telex. As máquinas barulhentas traziam informes de todos os lados. Apenas no final da tarde, pude ter ideia do que ocorrera, após juntar diversos fatos, como se fosse um quebra-cabeça. E o caso era, efetivamente, grande.

Tratava-se, nada mais, nada menos, de ter como envolvido o ex-cirurgião plástico Hosmany Ramos. Ele, na época, estava envolvido no sequestro de um cafeicultour do Sul de Minas Gerais. O desfecho do caso foi em Campinas. Hosmany e um comparsa foram presos após confronto com policiais mineiros do Deoep. Eram destes agentes as munições deflagradas achadas no bairro campineiro. Durante o embate, Hosmany e o comparsa foram baleados. Mas socorridos ao Hospital de Base da cidade mineira de Pouso Alegre.

Apenas na noite é que se pôde descobrir esta relação de Hosmany com os tiros de fuzil. Foi após este confronto que o sequestro terminou. E a Polícia de Campinas nada sabia sobre a ação dos colegas mineiros. Hosmany, um médico e playboy dos anos 1970 e que enveredou pelo mundo do crime, inclusive com roubo de avião, estava preso, após a ação em Campinas. Pois é: um criminoso famoso em uma história em que eu apurava. Foi uma grande surpresa. Jamais iria imaginar que Hosmany escreveria depois livros, fugiria para fora do país e continuaria na mídia.

Os encontros e o profissional

Uma das melhores formas para se tornar um profissional legal e sempre ligado é participar de encontros estudantis, seja apenas com o pessoal do mesmo curso, como também de outros. Durante o período de universidade posso dizer que muito aproveitei e cresci com estes eventos. De Campinas fui a vários encontros, nos anos 1980. Ribeirão Preto, Bauru, Brasília, Campinas mesmo, São Paulo.

Foram momentos de muita emoção e total entrega, pois pude trocar ideias, experiências com pessoas de diversos lugares. Isto me propiciou o ententimento de como a vida profissional pode ser, da importância do respeito entre as pessoas e do jeito de entender posições diferentes.

Penso que dois eventos mais marcantes foi o Encontro Nacional de Comunicação, ocorrido na Universidade de Brasília, em 1986. Saímos de trem de Campinas e, após 22 horas, desembarcamos na Capital Federal. Foram seis dias de muita discussão, muitos assuntos tratados, avaliações políticas. Mas, é lógico, regado a festas e visita a alguns pontos de Brasília. Momentos de muita emoção ao conhecer pessoas de vários Estados do Brasil. Tudo transcorreu na mais perfeita ordem. Cresci muito com este evento. Até hoje guardo grandes lembranças. Tempo bom... De muita emoção...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Nika, a mulher sem rosto

Crime sempre choca e é cruel, idependente de quem seja a vítima ou a forma como é praticado. Discordo da expressão de algumas pessoas, quando falam ou escrevem "assassinato violento" ou "crime com requintes de crueldade". Esta característica de como encarar estas situações é que, em anos de tralhalho na apuração de assuntos policiais, o assassinato de uma moça, simplesmente identificada como Nika, fez-me jamais esquecer o crime.

Embora ocorrido nos anos 2000, ainda permanece bem claro, em minha mente, a forma como a moça, possivelmente usuária de drogas, foi morta. O corpo foi encontrado jogado em terreno baldio da Avenida Carlos Lacerda, na região do Campos Elíseos, em Campinas. Muita magra, a moça, branca, apresentava diversas lesões pelo corpo.

Mas o que mais despertou a atenção foi a forma como estava seu rosto. Quem praticou o crime, praticamente fez um trabalho de cirurgião, pois toda a pele do rosto de Nika foi retirada, como que a usar um bisturi. Ela se transformou na "mulher sem rosto". Ficou apenas parte do cabelo na nuca. Dos olhos, apenas se notava existirem por causa dos buracos profundos, onde ficavam antes de o corpo perder sua pele. Os olhos podem ter sido comidos por animais, como cães.

Os cortes feitos para a retirada da pele do rosto eram, efetivamente, perfeitos, sem deixar marcas a mais do que as necessárias, como em cirurgia plática. Era como se a moça tivesse uma máscara, que fora arrancada dela. Ela morava perto de onde o corpo foi encontrado pela Polícia Militar. Possivelmente foi assassinada e desfigurada por traficantes, a quem, de acordo com informações à época, tinha dívidas. A imagem da "mulher sem rosto" ficou como marca em minha vida profissional.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cortou órgão e disse ter matado a mãe

Uma das histórias mais complexas com que me deparei, em vários anos, ocorreu por volta de 2010. em um final de semana, um rapaz se trancou em sua casa, em Campinas, e, em um acesso de fúria ou de estar fora de si, autoflagelou-se. Simplesmente arrancou seu pênis, com o uso de uma faca. Ainda tentou cortar os pulsos, mas em vão.

Diante do ocorrido, o pai do rapaz providenciou o socorro para um hospital. Ele foi medicado e permaneceu internado por bom tempo. Eis que, durante a verificação de policiais pelo motivo que o levara a automutilação, uma descoberta: o rapaz relatou que cortara o pênis por ter atentado contra a própria mãe, que ouvira uma voz a ordenar que fizesse o corte do órgão.

Como se não bastasse esta explicação, outra dado na história: ele alegou que matara a mãe. Que cortara o corpo dela e jogara em terreno de uma bairro da cidade. Como muito falou sobre isto, equipes do Setor de Homicídios de Campinas foram para este local à procura do corpo. Até uma retroescavadeira foi utilizada. Mas nada de corpo.

Assim, mesmo com a afirmativa do rapaz, jamais se encontrou o cadáver da mulher que, pelo que consta, também nunca mais foi vista. O investigado passou bom tempo internado e depois poderia responder na Justiça pelo crime. A situação ficou em aberto então. De corpo, nada; as vozes que o rapaz disse ouvir, também nada. Se ele melhorou as histórias que contara, não sei... Mas por bom tempo ele foi notícia...

A delicada checagem de um assunto

Um jornalista para se sair bem tem que ter muito cuidado no momento de abordar os assuntos para os quais é destinado. Um dado básico: jamais acredite em apenas uma plavra, ou seja, em uma só fonte. Cruzar informações com diversas pessoas é, pelo menos, um ato decente e de cuidado, mesmo que a fonte seja sua e de extrema confiança. Pois fontes podem se enganar.

Ponto importante na forma como encadear uma apuração, a fonte pode ser de anos, de alguns meses ou dias. Mas sempre dá uma versão do fato apenas. Por isto, é preciso conversar com outros lados, como forma de compor o cenário do assunto que está a apurar. Um grande exemplo é que questão de informações obitdas em registros policiais, como o Boletim de Ocorrência (BO).

Não é de boa ação crer, de forma integral, no BO. Mesmo pois, como se fala, "o papel aceita tudo". Ainda mais em termos de nomes. Quando se tiver uma identificação, por exemplo, em caso de assassinato, sempre é, de bom grado, cruzar dados com o Instituto Médico Legal (IML), que é o local onde a vítima é identificada oficialmente, ou com parentes.

Se isto não for possível, o melhor é deixar sem citar nome e depois, em continuidade à história, que em jornalismo chamamos de suíte, apontar o nome da pessoa. Todo cuidado sempre é e será pouco para se evitar erros. É para pensar muito nisto mesmo...

Cadeirante se dá mal no tráfico de drogas

Tudo se encontra no mundo do crime. As mais variadas pessoas, os mais diversos modos de atuação, uma diversidade incontável de vítimas. Desta vez, a história é sobre um traficante. Aproveitando-se de ser paraplégico, ele agia na venda de drogas no Centro de Campinas. Crack e cocaína eram sua especialidade. Até o dia, ou melhor, noite, em que guardas municipais acabaram com a brincadeira.

Ao ser abordado, perto de um terminal de ônibus, os guardas encontraram com o homem, sentado em uma cadeira de rodas, pedras de crack. O dinheiro ele guardava na cintura, por dentro da calça, de forma a dificultar ser encontrado, pois ele ficava quase sentado em cima da grana. Ainda tentou se desvencilhar da droga, mas não houve êxito, e acabou detido.

Anos antes, na metade da década de 1990, um homem, também com deficiência nas pernas, foi preso, mas em Sumaré, cidade perto de Campinas, também na venda de drogas. Com uma diferença: não usava cadeira de rodas, mas um jipe, daqueles que possuem pedais e crianças usam. Tanto que o apelido do traficante era "Jipinho". Para ser levado para a delegacia, policiais militares tiveram de pegar o jipe por dois lados e depois colocá-lo junto da mesa do delegado.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Caixa, caixão, mistério na redação

Em qualquer atividade profissional, sempre existem situações vivenciadas no dia a dia que ficam na memória. No jornalismo não é diferente. Cada profissional tem sua forma de escrever, de entrevistar, de anotar... e até de guardar seus pertences. E eu, como ser comum, não poderia ser diferente. Eis que para guardar minhas coisas no trabalho, sempre procurei ser racional e organizado.

Após certo tempo na mesma empresa, a gente começa a juntar uma série de coisas, de forma que parte delas não são tão necessárias, mas passam a compor o cenário do local de trabalho. Eu tive, por vários anos, uma enorme caixa de papelão, retangular, que deveria ter 1,5 metro por uns 90 centímetros. Usava-a para guardar blocos de anotações que entendia que, um dia, ainda poderiam ser usados para verificação, alguns livros, fotocópias de reportagens e, até, vejam só, um pedaço de cadeado e outro de grade (recordações de duas cadeias anexas a delegacias e que, ao serem "desmontadas", guardei como recordação.

Mas com o passar do tempo, muita gente mudou na redação, estagiários passaram, funcionários de diversos setores mudaram... Assim, não restou outra alternativa para explicar a existência da tal caixa, já com ares de caixão. Ao perguntarem o que nela havia, a resposta passou a ser rápida e rasteira: restos de um corpo, que retirei de um local de assassinato.

 Assim, a caixa, caixão passou a ser um tipo de lenda urbana jornalística. Assim, a cada nova pessoa que aparecia, a história do caixão era relatada. Nem o pessoal da limpeza ousava pôr as mãos nela. E assim ficou por muito tempo, até que a joguei fora. Pensam que o conteúdo foi embora? Não...Arrumei uma caixa menor, joguei algumas coisas fora, mas continuei com outras, ainda. E acho que por um bom tempo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sequestro-relâmpago: a expressão

Tipo de crime bastante difundido, infelizmente, desde os anos 2000, o sequestro-relâmpago - quando bandidos mantêm uma pessoa refém e a levam para obter algum ganho - seja roubar pertences ou efetuar saques em caixa eletrônico - teve, como ponto de partida, Campinas, no Estado de São Paulo. Pelo menos em termos de a mídia passar a qualificar o crime com este nome. Ou seja: este tipo de delito foi batizado em redação de jornal de Campinas.

O surgimento do termo não é incomum a tantos outros da Língua Portuguesa. Quando você tem algo, alguma coisa, que aparece, se cria de uma hora para outra, é preciso ter uma designação. Foi assim com o sequestro relâmpago. Começaram, no final dos anos 1990 a acontecerem casos em que as pessoas, vítimas, eram rendidas e levadas pelos bandidos. Mas soltas, geralmente, em pouco tempo. Daí o termo relâmpago, acoplado ao sequestro - que mostra uma pessoa retida por ladrões.

Assim, não demorou para que o termo passasse a compor o dia a dia das reportagens policiais. Começou, também, por este motivo, a chamar a atenção da Polícia. Se bem que por muitos anos o sequestro-relâmpago entrava nas estatísticas de roubo. Até que o governo paulista decidiu por uma contagem de casos separadamente. Foi uma vitória da mídia que, mais uma vez, colocou o dedo em uma questão da sociedade e conseguiu alterar o rumo de determinado assunto, que ficou mais claro à população.

Ataíde, policial e fazedor de café

Um policial à antiga. Assim era Ataíde. Depois de muitos anos no corre-corre de trabalhos externos, no começo dos anos 1990 ele tomou decisão. Foi trabalhar nos plantões de Campinas da Polícia Civil. Assim, atuava 15, 18 horas seguidas e ia para casa. Retornava pouco mais de um dia depois para novo embate no distrito.

De voz rouca e sonora, o agente policial (uma das categorias em que a Polícia Civil de São Paulo é dividida) estava sempre à disposição dos colegas da equipe de plantão. Mesmo que não fosse o delegado. Conhecedor da vida nas ruas, consegui, à distância, sacar quando uma pessoa aparecia na delegacia, contava uma história, e que não era real, em que posava de vítima, mas não o era.

Ataíde, sempre pronto para atender as pessoas no balcão, olhava fundo nos olhos destas pessoas e sentia o cheiro da verdade ou da mentira. Carregava sempre seu revólver 38, surrado, mas sempre bem cuidado. E municiado. Quando algum colega precisava de ajuda em alguma ocorrência, lá estava o homem de bigode para estender a mão.

Além do serviço na delegacia, ele também estava sempre ligado no que ocorria em outros distritos policiais. Era um poço  de informações. Ainda mais para repórteres que ele gostava e respeitava. Servia até café - era dele o melhor café que já tomei em uma delegacia. Água quente na temperatura correta, coador de pano, garrafa térmica toda arrumada. E mais um cafezinho delicioso.

Mas, como toda história tem um mas, um dia Ataíde, o coração do homem do bigode, da ajuda mútua e do cafezinho, fora de serviço, vacilou. E parou. A notícia da morte caiu como um pesadelo sobre todos. Por muito tempo, ainda entrava na delegacia, quando era a equipe dele em serviço, e esperava encontrá-lo, para contar histórias e oferecer aquele cafezinho.


                                       em memória de Ataíde

Golpe do bilhete e a ganância

Desde que me recordo, lá pela metade dos anos 1980, quando comecei oficialmente no jornalismo, um golpe permeia o cotidiano. É o que envolve o bilhete, o golpe do bilhete premiado. E não me digam que em eras de tecnologia avançada, como em 2012, ele não mais seja aplicado. Como, podem me perguntar? Quando todo o mundo, com a globalização, tem acesso à informação, o que motiva uma pessoa a cair na cilada? Vamos por partes, então.

Primeiro, o que vem a ser o tal golpe do bilhete. É um jogo feito, em que, geralmente, duas pessoas ardilosas participam na ação. Uma delas, que é comum fazer o papel de "caipirão", que não conhece a vida direito, com pouca instrução, que aborda a pessoa olhada como a vítima. Este bobão se aproxima, diz que tem em mãos um bilhete premiado e que precisa ir a um banco para receber o dinheiro. Mas há um problema: não tem como efetuar o saque, pois não possui conta bancária.

Assim alega que necessita de alguém para fazê-lo. Por vezes, o trapaceiro muda o roteiro. Troca a necessidade da conta em banco para uma pessoa que saiba ler e escrever, pois é analfabeto. Seguindo: como precisa de alguém para ajudar, o golpista diz que dará uma recompensa para quem lhe auxiliar na empreitada, seja no banco ou na hora de escrever algo para receber o pagamento.

Então entra o tópico dois do golpe: o trapaceiro oferece uma bonificação para ser ajudado. Diz ao alvo do golpe que dará um prêmio por ser auxiliado. Então entra, aí, o que encaro como fator ganância: a pessoa que é abordada se interessa para a ajuda, já com olho na recompensa, que normalmente, por incrível que pareça, é de um valor alto, por vezes semelhante ao do próprio prêmio do bilhetes.

Vamos ao terceiro ato: chega um segundo golpista, que também se propõe a ajudar e que, em tese, fica de olho na recompensa - tudo mentira, apenas para o eleito-vítima ficar ainda com a vontade mais aguçada. Feito isto, o bobão diz que precisa de certa quantia para abrir a conta no banco. Para tal, a pessoa lhe daria o dinheiro e ficaria com o bilhete prêmiado até que o bobão fizesse a ficha no banco e retirasse a grana. Depoies ele devolveria o dinheiro emprestado, somado a um montante sacado no banco.

E aí é que o plano fecha: o golpista pega o dinheiro da vítima e some; a vítima fica com o bilhete com prêmio em valor superior ao que emprestou nas mãos. Mas com  premiação fajuta. Então temos o quarto ponto do golpe: a pessoa descobre, depois de algum tempo, quando o golpista não retorna, que foi ludibriada.

Agora em análise racional: no mundo em que vivemos, como alguém com bilhete premiado, deixa-o nas mãos de um desconhecido, que lhe empresta uma quantia menor? E ainda diz que irá devolver o dinheiro, somado a uma recompensa? O que levou a vítima a se transformar em vítima: a bondade ou a vontade de levar vantagem sobre o suposto bobao? Vale refletir....

terça-feira, 5 de junho de 2012

Atenção: marca exemplar de repórter

O repórter é, sempre bom, ter boa memória. E estar antenado com as informações com que lida. Em determinado dia, de junho de 2012, apurei o caso de um Honda Civic, roubado na noite anterior, por dois bandidos em uma moto. A informação se transformou em uma nota. Isto por volta das 10h.

Eis que, depois de umas quatro horas, outra história surge: o assalto em uma casa em bairro de Campinas. Após as primeiras informações, obtenho oportunidade para escrever algumas linhas e alimentar o site, inclusive com a prisão de um dos ladrões. Pouco depois, em novo telefonema (foi uma época em que estava interno na redação), policial militar me conta que dosi carros foram recuperados.

"Os dois carros foram roubados da casa?", questiono. O policial diz que sim, ambos os veículos roubados, mas apenas um da casa. Volto com mais uma pergunta: "Quais os modelos?". A resposta: Palio e Honda Civic.

Diante desta informações, comentei com o policial militar que, horas antes, havia escrito nota sobre o roubo, na noite anterior, de um Civic. "Nossa, fiz a nota sobre um Civic prata, ano 2000, roubado no bairro Cambuí". O policial se atém: "Como, onde?" Respondo; "No Cambuí. O carro é de placa EGL...". Nem acabei de falar a placa.

O policial completou com a numeração. Ou seja: achei coincidência ter feito nota sobre roubo de um Honda Civic e um carro de mesmo modelo ser usado no assalto á casa. E mais; minha desconfiança gerou resultado. Por estar ligado nas histórias, consegui juntar as duas neste dia. A do mero roubo do carro e do assalto à casa e recuperação dos veículos. Se não estivesse atento...

Alicate-arma não resolve para bandido

Existem situações em que bandidos se deixam levar muito pela imaginação e acham que sempre vão levar a melhor. Pois este é um caso exemplar ocorrido em Campinas: um homem, de 33 anos, invadiu casa de bairro da região Oeste da cidade, em uma madrugada. Sabe o que empunhava para render os moradores? Um alicate de corte. Sim, exatamente, um alicate de corte.

Após pular um muro e uma janela, o bandido se viu no quarto de um dos moradores. Anunciou o assalto. Mas eis que, enquanto fazia ameaças com o alicate, que simulava, por baixo da blusa, ser um revólver, outro morador entrou no cômodo. Subitamente, o ladrão se viu cercado pelas duas vítimas. Atracou-se com um dos homens. E levou a pior.

Desarmado, sem seu alicate-arma, o bandido foi em seguida entregue para a Polícia Militar (PM), que o levou para uma delegacia da Polícia Civil. O alicate ficou apreendido. E a lição para o acusado: alicate é alicate, arma é arma... Teve tempo para pensar nisto na cadeia.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Iguana é motivo de briga familiar

Uma disputa familiar motivada pela posse de uma iguana levou todos os envolvidos, inclusive o animal, para a Polícia Civil em Campinas, em uma manhã de maio de 2012. Foi um dos casos mais incríveis com que tive contato nos últimos anos.

Entre várias versões, investigadores do 5º Distrito Policial (Jardim Amazonas) foram até a casa de dois irmãos, na Avenida da Saudade, bairro Ponte Preta, para que fossem para a delegacia com a iguana a fim de prestarem depoimento. Era uma quinta-feira.

Um tio dos rapazes, vindo do Rio de Janeiro, também esteve no 5º DP e falou sobre o caso para os policiais. Após as alegações dos envolvidos, policiais civis levaram a iguana fêmea a um veterinário, que elaborou laudo e onde o bicho permanecerá até a decisão final da Polícia Militar Ambiental sobre onde ficará depois. Os irmãos já deram entrada em documentação para que fiquem com a iguana Esmeralda.

A história da iguana teve em Campinas seu primeiro capítulo em um sábado à  tarde, três horas após os dois irmãos desembarcarem do ônibus que os trouxe do Rio de Janeiro. A denúncia de que o animal foi trazido da cidade carioca de forma irregular, retirada de um local e sem documentação partiu do tio dos rapazes.

O homem ligou para a Polícia Militar Ambiental de Campinas, que achou os acusados e o bicho. Um Boletim de Ocorrência (BO) foi elaborado no 1º Distrito Policial (Botafogo). A iguana ficou com os rapazes, que se prontificaram de ser fiéis depositários (responsáveis) pelo bicho até que o caso fosse apurado pela Polícia Civil.

Na quinta-feira, os irmãos foram levados para o 5º DP. O tio veio do Rio de Janeiro e os encontrou na delegacia. Então partiram para os depoimentos. O homem quer o animal de volta. Os irmãos, que moraram durante três meses com o tio e voltaram a Campinas, disseram na Polícia Civil que ganharam a iguana de um outro rapaz, que não queria mais o animal. Diante das várias versões, foi determinado que o réptil fique no veterinário até o final dos trâmites na Polícia Ambiental.

Crack "naquele lugar" para não se achar

Já é de pleno conhecimento que para garantir o "serviço", quem atua no tráfico de drogas não nega esforços para ter boa "produtividade" e, para isto, se precisa não perder a mercadoria. Era isto que uma moça fazia, em Campinas, ao ser descoberta por policiais civis da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise).

Ela foi detida pelos agentes da Dise quando estava em um bairro onde se tem informações sobre esquinas amplamente usadas como pontos de vendas pelos traficantes. Ela foi surpreendida quando guardava seis pedras de crack no ânus, como forma de, ao ser revistada, nada ser achado e não perder a "mercadoria".

Ela, entretanto, não contava com a desconfiança dos agentes da Dise, que a detiveram e que seria passada por revista de uma policial civil mulher. Qual não foi a estranheza da policial ao achar o entorpecente "naquele lugar". "Não houve jeito. A droga foi achada. "Era o lugar onde ela armazenava o crack", ponderou o delegado Oswaldo Diez Jr.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O assassino clama se afastar do crack

Certa vez, diante de um homem, acusado em investigação policial de assassinato, tive que parar bastante tempo com ele. Isto porque quando estava no meio da entrevista, acabei por me ver a dar conselhos a ele. O homem falava sobre suas desventuras sobre o uso constante do crack, que apenas cometera o crime por causa da droga e que estava arrependido.

Por vezes é difícil saber sobre o arrependimento de uma pessoa. Mas desta vez, no Setor de Homicídios da Polícia Civil de Campinas, acreditei. Cri no que o homem me contava e em sua afirmativa de arrependimento a partir do momento em que se deixou gravar, em vídeo. Ele disse que desejava falar mesmo.

Questionei: "Já que você quer falar, que tal dar uma mensagem para que jovens não entrem neste túnel sem fim, que é o crack Que acha?". Após meditar, o homem me olhou: "Tudo bem. Não quero que mais gente fica perdida como eu. Vou falar".

Foi um dos depoimentos mais graves e emocionantes que presenciei em mais de duas décadas de trabalho no jornalismo. O homem chegou a chorar e a pedir perdão para toda a sociedade. Neste dia, saí do serviço com a impressão de que tinha sido correto, convencido de que eu ouvira a verdade da boca daquele homem.

Preguiçoso furta painel inteiro de ônibus

Ladrão que age durante o dia é ousado. Agora, para furtar todo o painel de um ônibus deve ser, além de ousado, preguiçoso. Foi isto que aconteceu em Campinas, em maio de 2012. O motorista e o cobrador de um coletivo saíram para almoçar e, no retorno, tiveram a surpresa: o painel do ônibus do Jardim Santa Terezinha tinha sumido.

Pois é. Para evitar o trabalho de desmontar o painel e depois o regorganizar de novo, os ladrões foram mais racionais: retiraram-no inteirinho. No painel havia instalados diversos "instrumentos" do ônibus, como velocímetro, odômetro, marcador de combustível, abre e fecha das portas, luzes de emergência, tacógrafo. Diante do fato, ocorrido na Rua João Costa, Jardim Santa Terezinha, restou aos funcionários da empresa ir ao 6º Distrito Policial (Campos Elíseos) para registro do caso.

Além de painel "integral" (risos) de ônibus, neste mês de maio pelo menos outro furto despertou a atenção de policiais. Dupla simplesmente entrou em empresa do Jardim do Lago, na madrugada, para se apossar de duas câmeras de segurança. Exatamente os dispositivos instalados para espantar os ladrões. Só que estes dois homens não deram sorte: foram presos em seguida por PMs do 35º Batalhão.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Traficante preso em 1º dia de serviço

Como ocorrem em todas as profissões, existem riscos a serem observados e bem pensados antes de se aceitar um serviço. Foi o que ocorreu com um rapaz, em Campinas, em maio de 2012, quando foi preso pela Guarda Municipal (GM), acusado de tráfico de drogas.

"Este é meu primeiro dia de serviço!" afirmou o rapaz, logo após ser cercado pelos guardas, que dele desconfiaram. Estava no Centro de Campinas, em uma área conhecida por Boca do Lixo, por concentrar lanchonetes e garotas de programas à disposição.

Efetivamente, era o primeiro dia em ele vendia drogas. Mas foi logo descoberto pelos guardas municipais, com sete pedras de crack, um comprimido azul para disfunção erétil e ainda R$ 19. "Comecei a vender porque estava sem emprego e precisava de dinheiro para minha família", tentou explicar o açougueiro desempregado de 18 anos. Mas existem leis. E ser traficante não é trabalho reconhecido no Brasil. Mas um crime. Pelo menos, por enquanto.

Adolescentes roubam e vão para igreja

Dois adolescentes não respeitaram sequer igreja e, após assalto, entraram em uma, num sábado à tarde. Os dois bandidos, de 15 e 16 anos, empunhavam revólver e roubaram telefone celular de um homem, na Vila Industrial, em Campinas.

Mas após o roubo e entrarem na igreja evangélica, a vítima foi para o mesmo local, a fim de pedir socorro. E eis qual não foi sua surpresa ao se deparar com um dos ladrões. Diante deste bandido, o homem cobrou dele o aparelho. Como resposta, obteve apenas um sorrido. Mas eis que na igreja havia um policial militar, que deteve o ladrão.

Sem chance de qualquer reação, o bandido mostrou onde havia escondido o revólver calibre 32; embaixo da escada da igreja. Assim, o policial chegou ao segundo assalttante, que estava do lado de fora do prédio, com o celular, mas sem chip. Assim, a dupla acabou mandada para a Fundação Casa - tipo de cadeia para adolescentes. Realmente, a ação de Deus foi imediata, sem chance de fuga para os adolescentes. Quem sabe entrem em uma igreja, em breve, para outro fim: orar...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O queijo e o tricô na delegacia

O dia a dia do profissional de imprensa é, em geral, bastante diversificado. Mesmo que ele seja um setorista, ou seja, aquele repórter que trabalha exclusivamente, ou quase, com um só assunto. Como por bastante tempo tenho as atribuições de seguir os  fatos policiais, ou de segurança pública (como começaram a denominar pra ficar mais bonito, acho), é lógico, que guardo muitas passagens.

Desta vez quero falar sobre algumas engraçadas e inusitadas. Duas delas, uma mais recente, maio de 2012, e outro com bom tempo. Mas ambas tiveram uma mesma personagem: uma colega policial civil, que, nas duas datas, estava em plantão e fez os atendimentos.

"Eu preciso fazer um Boletim de Ocorrência para depois ir no Procon, minha senhora", afirmou o homem, meia-idade, bem aparentado, logo após entrar em uma delegacia de Campinas. A policial, uma pessoa sempre de bem com a vida, questionou ao homem qual era o assunto, antes de iniciar o BO. É lógico, precisa-se saber o assunto, para caracterizar o registro.

"Pois bem, quero o BO mesmo. Sei que é fim de semana, mas na segunda-feira, com o documento da Polícia, já posso fazer minha queixa", explicava o homem. Diante da insistência, a policial civil novamente perguntou qual era o problema. "Comprei um queijo e vei um absorvente (daqueles femininos) junto", relatou o homem, constrangido.

Diante de tal afirmação, a policial questionou se a pessoa havia guardado alguma coisa desta compra inusitada. O homem disse que sim. E lhe mostrou o queijo com o tal absorvente. Qual não foi a surpresa da policial quando olhou nas mãos do homem; o queijo estava em uma bandeja de isopor e, com esta bandeja, uma daquelas embalagens brancas em papel mais fofo e com um plástico, exatamente usadas para evitar que o alimento estrague mais facilmente. Não se pode dizer que não pareça absorvente, mas... O difícil foi explicar isto para o homem...

Já em outra oportunidade, também em período de plantão, quando trabalham menos policiais, estava a intrépida funcionária da Polícia Civil a correr para dar conta do número grande de pessoas que ali estavam para prestar uma queixa. Uma delas era um senhorinha, baixa, magra, com olhar sereno.

Enquanto as pessoas se entreolhavam e por vezes reclamavam da demora, em virtude do pequeno número de funcionários, a mulher permanecia impassível. De uma coisa ela não tirava a atenção: de seu tricô. Era bastante hábil nesta arte.

Eis que já passada mais de uma hora, aproxima-se o momento da mulher idosa ser atendida. As pessoas próximas dela começar a lhe dizer para ficar preparada, para assim que for chamada, correr ao balcão e contar sua história. Finalmente ela foi chamada. Neste momento, olhou para a policial, e, com tranquilidade, falou: "a senhora pode esperar mais um pouquinho para me atender, porque faltam pouquinhos pontos para eu acabar o tricô que estou fazendo..." A policial, diante do pedido, ficou boquiaberta. E acatou o pedido. Chamou uma outra pessoa para ser atendida antes da idosa.

Ladrão é assaltado em Campinas

Um ladrão foi assaltado, em Campinas, e ficou sem o telefone celular que, minutos antes, tomara de um estudante de 16 anos. A história pode parecer insólita, mas está registrada na Polícia Civil da cidade desde a noite 21 de maio de 2012, e mostra que nem entre bandidos 'existe mais perdão'.

Este rouba e assalta aconteceu no Centro e o 'ladrão inicial' acabou preso por policiais militares, que o cercaram quando estava desolado pelo ataque de assaltantes, na esquina das Ruas General Osório e Regente Feijó, diante do Fórum Central.

Os policiais militares receberam a confissão do roubo do celular Motorola EX 128 por parte do ladrão, que também se tornou vítima. Ele reclamou de moradores de rua que o assaltaram. Foi levado para a Central de Flagrantes da Polícia Civil, autuado por roubo e mandado para a cadeia anexa à Delegacia do 2º Distrito Policial (São Bernardo).

Toda a história do celular Motorola começou às 21h15, quando o "primeiro ladrão", com uso de um objeto pontiagudo, que não foi encontrado, rendeu o estudante na esquina das Ruas Ernesto Kuhlmann e Bernardino de Campos.

O adolescente, após perder o aparelho, correu pela Avenida Francisco Glicério e, nervosos, pediu ajuda no posto da PM diante da Catedral. O estudante contou que andava, quando o bandido apareceu, pediu dinheiro e, em seguida, com o objeto pontiagudo por baixo da camiseta, enfiou a mão em um dos bolsos da calça da vítima e roubou o telefone celuar. Em seguida, o ladrão fugiu.

O estudante passou as características físicas do acusado, assim como relatou que o bandido usava camisa azul. O adolescente saiu com os policiais para procurar o ladrão. Foi quando o suspeito foi visto e detido.

Ao notar que era cercado e detido, o ladrão nem reagiu. Os policiais militares então, ouviram dele que também tinha sido vítima de roubo, logo após assaltar o estudante. Diante da situação, o rapaz foi autuado por acusação de roubo e mandado para a cadeia. Ele e o estudante ficaram sem o celular no final da história.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A morte do presidente e o blog

Na data em que consegui chegar - e até ultrapassar!! - os mil acessos no blog, 21 de maio de 2012, permito-me relembrar um momento de minha vida, quando engatinhava no jornalismo. Foi em uma noite de 21, mas de abril de 1985. A TV ligada, 22h30. A notícia pela voz do jornalista Antônio Brito: morte do presidente eleito Tancredo Neves. O homem, civil, que depois de 21 anos, mesmo de forma indireta, fora eleito para o cargo e não assumira. Um dia antes da posse, marcada para 15 de março, foi anunciada sua doença no intestino. A partir daí, foi um martírio, apenas encerrado na data de um personagem tido como mártir - Tiradentes.

Após o anúncio da morte, uma série de pensamentos permearam minha cabeça. O que poderia ocorrer? Eu, na época representante estudantil, lembrei-me de parte das décadas de 1960 e 1970, quando houve uma verdadeira caça às bruxas no país. Com a notícia da morte de Tancredo, uma de minhas primeiras medidas foi retirar da estante os livros que poderiam ser considerados "subversivos", caso ocorresse uma ação de algum grupo.

A noite e a madrugada foram de quase vigília. Era difícil entender como o país responderia a aquele fato. E, de fato, a incógnita causava uma insônia quase que premeditada, pois, eu, em momento algum nos últimos dias, acreditava que o político internado em São Paulo assumiria o cargo de presidente. Ele que fora primeiro-ministro do governo João Goulart, deposto em 1964, não seria o mandatário da nação.

Apesar de sabedor da morte e da decretação de luto oficial, na manhã  de 22 de abril, não me fiz de rogado a ficar deitado até tarde. Pulei da cama no horário que seria normal para ir à universidade. Porém, tomei rumo diferente. Troquei, inicialmente, o campus pelo centro de Campinas. Era uma manhã fria, mas com sol. Temperatura que considerava agradável. Lembro-me das ruas vazias. Pessoas procuravam as bancas de jornais.

Eu caminhava lento, a olhar os carros que passavam. As pessoas que passavam. O mundo que girava. Qual seria o futuro do país? Esta era a questão. Até que, em certo momento, reparei em um garoto, que passou ao meu lado. Ele assoviava a canção "Coração de Estudante", de Milton Nascimento, e que fora elevada ao patamar praticamente de um hino na campanha eleitoral. Neste instante consegui entender que, como aquele garoto, o país cresceria, mesmo sem aquela personagem perdida. Apesar de ter incurtido este pensamento, que se concretizou, algo ocorreu que jamais pensaria: poder contar esta história em um espaço denominado blog, que, hoje, tenho em mãos, e com que posso, de alguma forma, ajudar a sociedade a crescer, mediante reflexão.

domingo, 20 de maio de 2012

Nem câmeras de segurança são poupadas

Como se não bastassem as várias formas de ações dos ladrões, não se poupam nem mais os dispositivos de segurança. Pelo menos fato neste sentido pôde se ver notado, em maio de 2012, em Campinas. Por incrível que pareça, dois bandidos não semostraram de rogado e tomaram em mão, nada mais, nada menos, que as câmeras instaladas em uma firma.

Pois é. Os equipamentos que colocados em pontos estratégicos para defender o local dos ladrões, para gravar imagens ou mesmo dar um susto em quem pretende agir, foram os alvos da dupla. Para colocar as mãos em duas câmeras, não se preocuparam em escalar muro. E arrancaram as câmeras.

Mas não era a madrugada da dupla moradora de rua. Poucos minutos se passaram até que policiais militares vissem os homens e tomassem conhecimento do furto dos dispositivos. Um dos equipamentos foi achado com os suspeitos, que disseram ter achado em uma caçamba. Mas a história deles "não colou". Assim, ficaram presos e uma das câmeras foi recuperada. A outra, ninguém soube onde foi parar.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Jornalista no lugar certo e na hora correta

Por algumas vezes, o mundo parece que conspira a nosso favor. Isto pude comprovar em várias vezes no trabalho. Sabe aquela oportunidade em que você está no lugar certo, na hora certa? Pois é. No caso do jornalista, é quando você está em um local onde ocorre um fato, que poderá ser transformado em notícia.

Foram várias vezes em que o dia começava devagar, sem nada de importante. Mas. De repente... Parece que o mundo desabava. Eram aqueles dias em que tinha uma história em certo local da cidade. Mas de outro lado da cidade, mais um caso, ambos importantes.

E estava nos locais exatamente na hora em que ocorriam. Seja um flagrante de prisão de ladrão de carga, que entrava pela porta da delegacia, quando estava lá para olhar os Boletins de Ocorrência (BOs) da noite, seja quando passava por uma rua, percebia viaturas da Polícia que passavam e as seguia. E acabava em algum local de crime. Ou seja: em muitas oportunidades, o jornalista conta com a sorte, para ser um bom profissional.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Longos caminhos e conhecimento

Conhecer a cidade. Este foi um ganho que obtive ao ficar, por bastante
tempo, a cobrir reportagens policiais por Campinas e região. A
experiência adquirida até me levava a dizer que após me aposentar na
função, poderia exercer cargo de taxista ou caminhoneiro. E sem
precisar de GPS.

O conhecimento era tamanho que até os motoristas novos na empresa
eram, geralmente, recrutados para "fazer os DPs" - forma usada para
dizer que iriam circular a cidade com o repórter que cobria polícia. E
olha que, pelo tempo de serviço, por vezes conhecia melhor os caminhos
mesmo que os motoristas mais antigos da empresa.

Assim, para poder rodar tanto todos os dias era preciso, antes de
tudo, muita vontade. E ser meio aloprado... Pois cruzar a cidade de
Leste a Oeste não era nada tranquilo no serviço, ainda mais para fazer
isto todos os dias. De segunda a segunda, quando havia plantão de
final de semana. A vantagem: aprender a traçar rotas para chegar
rapidamente aos locais e também ter um olhar de o que seria
prioritário para determinado momento. Com certeza, uma baita escola...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Polícia sob um olhar diferente

Quando se fala em delegacias de Polícia, sempre se pensa em locais escuros, onde trabalham pessoas mal-humoradas e que poucas palavras. Mas esta é uma visão que não tem nada a ver com a realidade. Em vários anos de trabalho como repórter nos distritos policiais e nas ruas, descobri um mundo totalmente diferente deste.

Pessoas alegres, descontraídas, engraçadas, educadas, inteligentes. Como em qualquer gama de profissionais. Vejo, então, que os jornalistas ainda guardam um rancor muito grande em relação aos policiais. Pelo menos parte dos jornalistas. É como se ainda estivéssemos nos tempos de repressão e de embates.

Das pessoas que encontrei nas polícias civil e militar, além de guardas municipais, posso dizer que muito vi e descobri. Desde discussões acirradas sobre futebol, bate-papos sobre músicas, filmes, livros, transporte, política e brincadeiras. Vi de tudo. Como se não bastasse, nesta quarta-feira (16/05/2012) até um policial amigo a escutar música grega no DP.

Realmente situações diferenciadas, que apenas os que vão aos locais e os vivenciam é que podem traçar qualqueropinião acerca deles. Uma surpresa depois de outra. Situações que ficaram em minha memória, que muito me deixaram feliz e me esclareceram que não se pode "comprar imagem" de alguém ou de alguma profissão sem, no fundo, conviver com ela. Ainda bem!!!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Quando as máquinas de escrever caíram

Começo dos anos 1990 e uma revolução. As máquinas de escrever cederam lugar aos computadores. Fazia pouco mais de um ano em que estava na redação do jornal, de volta, quando, em um determinado dia, cheguei para o trabalho e ouvi: "Hoje haverá uma mudança".

Após esta frase, passei a trabalhar normalmente. Porém, notei que havia um corre-corre incomum na redação do jornal em Campinas. Em determinada hora, as máquinas de escrever começaram a ser retiradas. Rapidamente.

Máquinas diferentes colocadas no lugar. Eram os computadores. Desde meu primeiro contato com um jornal, para trabalhar, em 1985, jamais tinha visto tal mudança. Drástica. De hora para outra. Como uma avalanche.

Era como a cena do filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço". A cena em que os homens da caverna jogam um osso para o alto e, instantaneamente, aparece uma nave espacial. Pois era o que ocorria naquele dia. Os repórteres se entreolhavam. E temiam o que poderia ocorrer.

Até que uma das máquinas foi ligada. Monitor com fundo preto e letras em um verdinho. Era para funcionar no que, depois, saberia ser o MS-DOS. Pois é. Preto e verde. Assim era o monitor. Com relação a escrever, era como na máquina, como se pôde depreender rapidamente. Mas, com certeza, a mudança foi drástica. E o mundo continuou a girar...

sábado, 12 de maio de 2012

A prudência e as pessoas

Existem algumas situações em que é melhor ficar calado. Isto aprendi no dia a dia do trabalho. Eis que durante bastante tempo no serviço de campo, a coletar informações para as reportagens, notei que, por vezes, algumas pessoas com quem eu falava, referiam-se com críticas a outras.

Até aí nada mais normal, dentro da vida de cada um. Somente uma distinção. Ocorriam oportunidades em que as pessoas criticadas também eram minhas interlocutoras, fontes de informação e até mantinha laços de amizade mais próximo.

Assim, o que fazer quando ouvir falar de pessoa que você curte e respeita. E a pessoa que fala também é respeitada por você? Aprendi, de forma prática, como proceder. Ficar calado, ouvir e não emitir a opinião. Isto não é se esconder ou ser alienado. É uma forma de se poder manter com bons vínculos com todas as partes envolvidas. Mesmo porque as divergências não eram entre eu e a pessoa criticada, mas de quem eu ouvia naquele momento. Assim, melhor calar por vezes... É prudente e não faz mal.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Rael, adolescente que atirava sem dó

Era ainda adolescente. Mas com fama de mal. Assim foi a passagem de Israel, apelidado Rael, pela mídia de Campinas, durante o final dos anos 1990. Ele morava na região do Jardim São Marcos, mesma do já mencionado no blog, Capeta. Rael, muitos disseram, chegou a agir com Capeta em alguns planos.

Considerado "dedo mole" por policiais - aquela pessoa que atirar sem muito pensar, sem dó - Rael tinha cerca de 13 anos quando começou no mundo do crime. Mas foi ao 15 anos que, definitivamente, passou, inclusive, a empunhar uma pistola semiautomática calibre 9 milímetros - a arma que era "menina dos olhos" de todos, de policiais a bandidos.

Diversos roubos, assassinatos e confrontos ocorreram com participação do rapaz na região de Campinas. Alguns até diziam que era ele quem atirava com frequência nas ações do bando de Capeta. Seria um tipo de "escudeiro" do outro bandido.

Mas a história dele cedo terminou. Em determinado ataque, a um caminhão com carga em Minas Gerais, Rael tombou morto. aos 17 anos. Morreu antes de chegar à maioridade criminal.

Chuva e sapato sem amarrar: não dá certo

Por vezes, nosso dia a dia nos prega boas peças. Mas que muito nos ensinam. Esta foi para eu aprender. E diz respeito ao vestuário. Nunca fui adepto de sapato ou tênis que não fossem de amarrar ou pelo menos de serem presos por velcro. Mas em um determinado dia, ganhei um e decidi usá-lo.

Era lá pelos anos 1990. Um período em que eu começava a trabalhar por volta das 13h. Em determinada data, dia extremamente chuvoso, tive de sair às ruas para acompanhar o trabalho de bombeiros, que procuravam um garoto, que caíra em córrego de Campinas, perto do Parque Brasília.

Eis que depois de mais de 2 horas na região, houve informação de que, realmente, a criança tinha sido arrastada pela correnteza e levada para outro ponto. Eu precisava ir até lá. Assim, com um descuido, pés na enxurrada. E um dos sapatos começou a sair do pé.

A água o puxava e eu não sabia se defendia o sapato, se jogava o bloco de anotações na enxurrada. Em suma: santa confusão. Por sorte, consegui defender os dois. E fui, de carro, para o outro ponto onde bombeiros tinham achado o corpo da criança.

Após esta data, fiquei por mais de uma década sem usar sapatos que não fossem de amarrar com cardaços ou velcros. Até que ganhei outro par. Passei a usá-lo. Curti. Mas em dias de chuva não o uso. Aprendi a lição. Com certeza.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Codinomes "braço curto" no trabalho

Quando se trabalha no meio jornalístico, em muitas vezes ocorrem situações em que não se pode, ou pelo menos é melhor evitar, falar muita coisa de forma aberta. Para evitar algum problema, eu e uma fonte (informante) passamos a nos tratar por apelidos, ou, pensando de outra foram, por codinomes.

Como falávamos muito sobre as pessoas que trabalhavam pouco, que enganavam no serviço, e assim as chamávamos de braço curto. Para que não houvesse dúvida, a gente passou a se considerar, na brincadeira, "braço curto alfa" e braço curto "beta". Eu, repórter, que recebia a informação, era o "beta. E assim passamos a nos falar ao telefone. Desta forma, mesmo quando eu usava o telefone com número restrito, o "alfa" sabia que era eu, por dizer "braço curto beta" rapidamente.

Em determinada época de 2012, quando a fonte efetuou mais uma de suas grandes operações para prender bandidos, passei a me referir a ela como "braço longo". Pois foi uma prova de que tinha amplas condições de desenvolver grandes trabalhos.

Marley e o debate sobre crack

Em um dia com debate sobre drogas, especialmente o crack, na Cãmara de Campinas, a detenção de dois rapazes, horas antes, apenas demonstrava mais um episódio dos já tantos em que gente nova é presa pela Polícia com entorpecentes na cidade. No ano de 2012, a impressão é de que principalmente o crack tomou todas as ruas da cidade.

Durante o debate, ocorre um comentário sobre o uso de drogas e o músico Bob Marley. Houve alusão à situação de que os jovens precisavam deixar de pensar que o músico era "filosofia de vida". Houve muita conversa sobre isto após a reunião na Câmara.

Eis que, como um exemplo do que havia sido dito, no final de tarde, na redação, recebi informação, que dava conta de que dois rapazes, acusados de tráfico, estavam em moto e em um dos capacetes que usavam havia a estampa de uma caricatura do Bob Marley, seguida de inscrições como Jamaica, Haiti e Caribe. Foram apreendidos pelos policiais militares crack, cocaína e maconha. E o Bob Marley mais uma vez marcou espaço no debate sobre o tráfico de drogas.

terça-feira, 8 de maio de 2012

"Objetos do prazer" de bandidos

Durante vários anos de cobertura policial, um dos fatos que consegui depreender: de tempos em tempos, os ladrões mudam o "seu objeto do desejo". Assim como migram dos tipos de crimes, também alteram os "produtos" que mais visam. De televisores diferentes, como tela plano e atualmente de LEDs, até os games. Playstations nao saem de moda. Modelo 1, 2, 3. Sempre enchem os olhos dos bandidos.

Outro chamariz, no final dos anos 2000, foi o telefone celular, pela constante mudaça pelo que passam sempre, praticamente de dias em dias. Os ladrões passaram a invadir casas para se apoderarem de produtos pequenos, como os celulares, notebooks e videogames. Valem mais que joias, muitas vezes.

São fáceis de carregar e não precisam ser passados para frente, podem ficar nas mãos dos próprios bandidos. Pois é: "objetos do prazer" serão sempre mudados de tempos em tempos, para trauma de nós, cidadãos, que não temos muita escolha para fugir da ação dos "amigos do alheio".

Reflexão: celular e a preguiça

Telefone celular. Grande aliado do jornalista, mas, ao mesmo tempo, um inimigo. Pois bem, vou para minhas consideração acerca do uso deste aparelho que, desde o finalzinho dos anos 1990, vem a compor, obrigatoriamente, o dia a dia do jornalista. Antes dele, os informes que precisavam ser repassados para chefias em redações eram pelo telefone público, o conhecido "orelhão".

Mas com o advento do celular, muita, muita mesmo, coisa mudou. O aparelho era grande, passou a ser minúsculo e, nos anos 2008, voltou a crescer - smartphones. Apesar das mudanças, o celular jamais deixou a vida do jornalista. Ajuda na profissão. Sim. Pois você pode fazer contatos rápidos a todo instante.

Porém, sempre há um MAS. O aparelho, como já falei em uma entrevista para universitários, em minha opinião, transformou alguns colegas de profissão. Deixou-os "meio preguiçosos". Como assim? Em vez de os jornalistas irem aos locais onde ocorrem os fatos, por oportunidades limitam-se a telefonar e obter as informações. Mesmo quando o entrevistado é de alguma instituição e tem local de trabalho conhecido, não mais se usa o acesso pelo telefone fixo. Ou ir até ele. É o celular o caminho.

Vejo o aparelho com bons olhos. Mas também entendo que deveria ser o último recurso em relação a uma entrevista. E nunca o princípio; Tal qual a pauta. Não é o fim, mas o começo de tudo. Bem, é para se refletir...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sasquati e o respeito pelo repórter

Existem entrevistas e entrevistas. Reportagens e reportagens. Vejo que, até hoje, maio de 2012, após vários anos de trabalho jornalístico posso pontuar algumas entrevistas que considero "mais contundentes", sejam pelo caso que envolveram, seja pelas respostas do entrevistado, seja pela repercussão diante da sociedade e daí por diante. Para eu, como jornalista, as respostas obtidas com um homem, preso em 2003 e apontado pela Polícia como um dos "generais" do Primeiro Comando da Capital (PCC), foi que colocaram este personagem como dos principais com que já pude relatar uma história.

Começo de trabalho em 24 de outubro de 2003 - antevéspera de aniversário de 40 anos e sem estar de plantão no jornal. Logo de manhã vem a informação; Sasquati foi preso pela Delegacia Antissequestro de Campinas (Deas). Ele era um dos homens mais procurados no Estado de São Paulo. A detenção foi em Itapetininga, região de Sorocaba, e logo ele chegaria em Campinas.

Horas depois estava ele ali, Sasquati. Estatura mediana, magro, com cabelo despenteado e aspecto ainda assustado. Policiais civis que participaram da operação bem-sucedida davam informações, contavam sobre bastidores da ação, a primeira bomba de efeito moral atirada, o barulho, a invasão da casa e o domínio sobre o homem-alvo antes que ele pusesse as mãos em alguma arma. Ação sem nenhum tiro.

Conversa vai, conversa vem, e o homem preso fica a olhar todo um cenário de mídia ao seu redor. Não afeto às câmeras, procurava abaixar a cabeça. Respostas apenas uma ou outra, em tom baixo. Até que disse. "Não falo mais nada".

Esta afirmação foi como um raio sobre meu corpo, pois ainda queria saber mais sobre aquele homem. Então, aproximei-me mais dele e, com voz mansa e baixa, tal qual a dele, passei a fazer algumas perguntas, inserindo-o no cenário com outros homens considerados bandidos, como ele. "Você passou por presídios de Hortolândia. Ficou no mesmo que Bandoleiro (outro homem apontado como integrante de facção criminosa)?"

"Tua fuga foi naquela ação em que 12 homens saltaram muro, caíram perto da linha de tiro e conseguiram, como que dançando, espacar de forma fantástica dos disparos?" E tuas ligações são apenas com o PCC ou quando esteve perto de Sorocaba teve contato com o pessoal do TCC (Terceiro Comando da Capital)?"

Após estas perguntas, que foram respondidas "na boa", Sasquati ou Manoel Alves da Silva, na época com 31 anos, afirmou: "Você é gente boa, conhece bem o nosso meio e faz perguntas com respeito. Eu também te respeito e respondo mais o que você quiser".

Assustado com a afirmativa, continuei por mais alguns minutos a entrevista. E não me contive, antes de encerrar: "Por que Sasquati?" A resposta veio rápida: "Quando eu era criança, tinha os pés grandes, como aquel personagem de desenho. Aí o apelido pegou e ficou". Fato: com respeito, muito se consegue...

Vida estrangeira no Brasil

Quando ainda era estudante e vislumbrava o dia a dia em redações de jornal, deparei-me com uma situação inusitada: morar em uma república onde a maioria dos residentes não era de brasileiros. Pois é. 1984, começo de curso em  Campinas. Um amigo, de São Caetano do Sul, cidade onde estudara antes, estava em Campinas já fazia bom tempo, encontrou-me e fez convite para morar na casa dele.

Aceitei, pois niguém conhecia em Campinas. Eis que houve momento em que eu e meu amigo Júnior éramos minoria na república: dois contra quatro rapazes do Panamá. Sim, Panamá, não Paraná. Estudavam na Universidade Estadual de Campinas em diversos cursos. Procuravam ficar juntos, pois seria mias fácil a vida em outro país.

Apesar de ser minoria, o período foi fantástico. A troca de ideias por causa das culturas diferentes fez-me crescer muito. Muito mesmo! Trocávamos ideias sobre política, esportes, músicas. Enfim, sobre tudo, até mesmo expressões de palavrões. E como se não bastasse, poucos meses antes do final de 1984, eu fiquei como único brasileiro, pois meu amigo foi para outra casa. Assim, terminei o ano a conhecer o espanhol até que de forma legal. Ainda guardo alguns amigos de lá.


                                             in memória de Aquiles, que morou junto e já se foi

A altura que mete medo

Um dos meus maiores medos, se não o maior, é estar em lugares altos. A ponto de quando visito alguém que esteja em apartamento, procuro, de todas as formas, não chegar perto da varanda. Mas eis que, na profissão, existem momento em que a gente tem de se suplantar. E fazer o que integra o serviço, como forma de ser o mais profissional possível.

Assim foi com o receio com altura. Determinada manhã, ida para Piracicaba. O "Cadeião" estava a ferver. Rebelião de presos corria solta. Saí de Campinas e, cerca de 50 minutos depois, estava diante do prédio. Eis que a gritaria era intensa. Os presos ateavam fogo em colchões e cobertures. Atiravam comida em quem se aproximasse das celas.

Em determinado momento, queriam a imprensa para encerrar o motim. Mais uma vez a velha história: garantir que não sofreriam retaliações. Até este ponto, sem problemas, pois já tinha passado por situações semelhantes. Mas agora havia uma diferença. Em outros casos, entrei na ala da carceragem e perto das grades conversei com os presos. Mas agora a carceragem estava bloqueada.

Qual a única solução? Conversar com os presos pelo telhado, pela tela de arame que cobria o pátio de sol. Assim foi preciso fazer: subir uma escada longa e estreita. Chegar lá em cima e, para que tudo desse certo, ficar na parede que delimitava a cadeia. A uma altura de cerca de 5 metros. Espaço estreito para se apoiar. Ainda mais para olhar para baixo e fazer anotações, para demonstrar atenção com os homens ali encarcerados. E ventava um pouco. Ao descer deste local, estava suspergelado. Não por causa do vento. Adivinhe por que...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Andrezinho: primeiro caso seguido

Se a memória não falha - e olha que ainda está em perfeitas condições neste 2012 - um rapaz chamado nos meios policiais como Andrezinho foi o primeiro sobre quem escrevi e era tido como bandido. Começo dos anos 1990. Apontado como ladrão perigoso, ele era procurado por policiais de Campinas em todos os cantos, apesar de normalmente se esconder pelos lados da região Oeste da cidade.

Os policiais também apontavam alguns crimes de homicídio sobre ele. Fiz umas cinco ou seis histórias sobre o rapaz. Em determinado sábado, que não estava de plantão, liguei para o jornal para comentar sobre uma história e soube que Andrezinho havia caído morto em tiroteio. E depois de alguns meses a acompanhar a história dele, eu fiquei de fora da cobertura final do "capítulo" de Andrezinho.

Mesmo desta forma, na segunda-feira seguinte, fui eu, com alguns policiais, até uma pequena casa no Jardim Satélite Íris. Os policiais apontavam que era o esconderijo de Andrezinho. Várias coisas foram achadas no local, inclusive instrumento musical. Foi difícil chegar até a casa, já que ficava em um tipo de vale e era preciso caminhar bastante. Mas foi deste jeito que terminei minhas histórias sobre Andrezinho.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Grilo escapa em latão de lixo

Uma fuga espetacular. Foi isto que proporcionou para a imprensa de Campinas um dos nomes mais ligados pelos policiais ao tráfico de drogas na cidade até o começo dos anos 2000: o Grilo, morador da Vila Rica (VR). Ele, simplesmente, escapou  da Penitenciária do São Bernardo dentro de um tonel de lixo. Isto em um sábado pela manhã. Justamente meu plantão.

Para a fuga, ele tinha bom comportamento e por isto tinha chance de ajudar na coleta do lixo. Mas naquela manhã, resolveu "dar linha" (fugir). Ao se aproveitar do transportes dos latões com lixo para frente do presídio, Grilo entrou em um deles. A grande lata rolou pela frente da unidade prisional, localizada na Rua Alagoas, em trecho de descida.

Assim que o latão parou, Grilo saiu de dentro dele, correu e subiu na garupa de uma moto, que deixou o local em alta velocidade. Ele escapou sem olhar para trás. O preso que estava a colocar os latões para fora, ficou na mira da direção da penitenciária.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

"Vai tomar café de canequinha"

Repórter de rádio da antiga, Ari sempre corria as delegacias de Campinas com muita sede de notícia. Ele tinha extrema pressa, pois o rádio requeria notícias breves, com gravações e que fossem apuradas de forma detalhada. O rádio tinha uma importância tal qual a internet de alguns anos para cá (2012). Apesar da pressa, Ari usava voz mansa e tranquila.

Convencia quem não queria falar, a até gravar. Tirava o gravador da bolsa, colocava à frente da pessoa e obtinha o discurso necessário para "dar caldo" em sua reportagem. Já havia sido policial militar, contavam alguns policiais. Também fazia uso de um bordão, que se tornou famoso: "Vai tomar café de canequinha", afirmava, quando queria mostrar que um suspeito de crime tinha sido preso e mandado para a cadeia.

Mas os áureos tempos do rádio migraram para a internet. E, não somente Ari, mas outros porfissionais de imprensa da época, como Vanderlei Doná, "ficaram vencidos" com a revolução. Entre o começo dos anos 1990 e o final, os homens da imprensa pularam da máquina de escrever para o computador no Brasil.

Saltaram do uso de grandes gravadores para os digitais. Uma verdadeira revolução, que as empresas de comunicação puseram em andamento e atingiu, com certeza, todos os profissionais de imprensa. Assim, Ari ficou meio sem chão. E desestimulado após alguns problemas pessoais. Mas tenho convicção de ele ter usado a profissão para tentar ajudar a sociedade.


                                                                         em lembrança a Ari Costa

Fuga de casa por um beijo

Existem histórias, quando se trabalha no jornalismo, em que se chega a elas por um grande acaso. Esta que conto agora foi um destas. Lá pelos idos da primeira década dos anos 2000, um garoto de Hortolândia desapareceu. A mãe dele foi quem ligou para o jornal e me procurou. Isto porque, tempo antes, um menino da mesma cidade veio para Campinas, foi alvo de uma reportagem e acabou encontrado. Foi esta mãe ajudada antes que passou meu fone para outra mulher desesperada.

Os dados eram parcos. Nome do garoto, idade de 11 anos, a roupa que vestia e suas características físicas. Eis que no dia em que recebi a informação passei a ficar atento em alguma criança encontrada em Campinas, porventura. Mas eis que fiquei assustado, quando na TV, em uma emissora, via um garoto, que estava em cidade do Norte de Minas Gerais e dizia que vinha de São Paulo.

Olhei bem o menino e achei parecido com as características fornecidas pela mãe. A pessoa que abrigou o garoto mostrou as roupas com que ele chegou na casa dela. Eram parecidas com as descritas pela mãe desesperada. Era tarde da noite. Aguardei e, logo pela manhã, telefonei para a delegacia de Polícia Civil da cidade.

Conversei com policiais, que foram à casa onde o garoto estava, E, bingo!! Era o próprio sumido de Hortolândia. Por telefone da delegacia, havia poucos na cidade, conversei com ele, que relatou ter pego ônibus com dinheiro que a mãe guardava. Havia deixado a casa pois colegas de escola estavam a tirar "sarro" dele, pois diziam que havia beijado uma menina.

Diante da conversa com o garoto, a mãe foi avisada e parentes o buscaram em Minas Gerais. No retorno para Hortolândia, que fica ao lado de Campinas, ele contou que tinha medo do pai da menina e, depois que deixou sua casa, da mãe, de apanhar. Mas nada de ruim aconteceu. História com final feliz: garoto de volta para sua casa, família contente e a certeza, possivelmente na cabeça dele, que um beijo nenhum mal faz a ninguém. E acho, até hoje, que ele gostou...

terça-feira, 1 de maio de 2012

A exibição do filme proibido por Sarney

Esta oportunidade não é para relatar fatos do trabalho de jornalista, mas relembrar um fato que me ajudou, e muito, na formação profissional. Mais, com certeza, que uma pós-graduação ou qualquer curso em qualquer nível. Já atuava no jornalismo, porém ainda estudante, e cheio de "pegada", contestação, briga na veia e no coração.

A indignação se fez muito presente em 1986. Por causa da censura a um filme de Jean-Luc Godard - "Je vous salue Marie". Como se tratava de uma história atual para Jesus, onde Maria era uma jogadora de basquete e |José, um taxista, a Igreja Católica fez todo tido de pressão contra o governo do então presidente, José Sarney. Pois é, veja a história! Sarney mesmo.

Ele havia herdado a cadeira da Presidência de Tancredo Neves, morto um ano antes, após martírio de mais de um mês. Quem diria que o primeiro presidente pós-governos militares censuraria um filme. Ledo engano de quem pensou que ele não faria isto. Com toda a Igreja na pressão, Sarney impediu o lançamento do filme. Assim, a película se tornou um ponto de honra para a democracia. E foi aí que entrou o sangue jornalístico.

Com diversos colegas de curso foi decida a obtenção do filme para ser exibido. Como estava proibido, todas as cópias eram de má qualidade. Quem fosse pego com elas seria preso pela Polícia Federal. Assim, foi montada toda uma estratégia para que o plano desse certo. Coube a mim e um amigo a obtenção da fita. Ele trabalhava em aeroporto, o que facilitaria chegar à película.

Por cerca de 20 dias nos falávamos para que o filme pudesse ser exibido. Até codinomes assumimos, pois temíamos ser flagrados pelos agentes em ligações - e olha que não havia celulares. Com a certeza da fita, decidimos pelo local de exibição: o Diretório Acadêmico do curso de Comunicação Social da PUC de Campinas.. Por que? Pois se tratava de um "território livre" dentro da universidade ligada à Igreja. Conseguimos o videocassete. Mas faltou a TV.

Qual a solução? Eu pedir para o amigo com quem morava a TV da república. E assim foi feito. Na data marcada, colocamos a TV dentro do diretório, com a tela voltada para o pátio da lanchonete. Na  segunda sala do diretório ficamos com janelas abertas. Aproveitamos que do lado de fora, encostado na parede, havia um freezer desativado. Ele seria usado para esconder a fita.

Assim se fez: exibimos o filme, com uma imagem turva, mas mostramos e quebramos a censura. Logo ao final da fita, mesmo antes  do final dos créditos, arrancamos a fita do videocassete, corremos para a outra sala do diretório e jogamos a VHS dentro do freezer. Passado um tempo, quando todos tinham ido embora, retiramos a fita do freezer e saímos  com ela em uma mochila. Eu a levei embora.

Peguei carona e voltei para casa, também com o televisor. Ainda bem!, pois caso contrário eu e meus amigos Júnior e Wilson teríamos ficado sem TV por bom tempo. Fiquei com o filme por bastante tempo, até  que a então presidente do Diretório Acadêmico foi chamada na Polícia Federal. Ela quis a fita, mas não a entregou. Não sei o final que a deu para o filme. Mas de uma coisa tenho certeza absoluta: esta tomada de atitude na exibição do "Je vous salue Marie" me apontou que o jornalisrmo era meu destino, quer pela luta por liberdade, quer pelas ideias de cidadania, quer pela formulação de modos de burlar o prestabelecido e de criar maneiras para abordar os assuntos, quando entrei, definitivamente, no mercado de trabalho.

Estepe e tapetes levam 2 para cadeia

Quando a gente pensa que já viu de tudo, acaba por aparecer uma nova. Foi o que aconteceu na Rodovia dos Bandeirantes, em Campinas, no 30 de abril de 2012. Policiais rodoviários prenderam dois homens que, ao passar pela estrada e notarem um carro envolvido em acidente, pararam a fim de fazer "um rapa". Apanharam dois tapetes e um estepe de dentro de um Celta.

Eis que já tinham levado os tapetes para dentro da caminhonete deles, os homens deixaram o pneu escorado atrás de uma defensa de concreto do acostamento. Foi quando os rodoviários apareceram. A dupla, encharcada, ainda tentou despistar. Mas não houve jeito.

Os rodoviários acharam o estepe escondido e os tapetes na F-1000. Resultado: os dois homens presos por furto. O carro que foi alvo do ataque tinha capotado na rodovia algumas horas antes. O motorista, por sorte, sofrera ferimentos leves. Agora os ladrões não tiveram tanta sorte assim...

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Quando o mundo parou

Vivemos em um mundo de correria, sem tempo, por vezes, de tomar fôlego para realizarmos nossas tarefas diárias e, de vez em quando, mesmo comer direito. Este cenário nos faz, cada vez mais, não nos recordarmos de determinados momentos. Ainda mais no trabalho. Mas tenho aquela "luzinha" na cabeça, que ainda, que sorte!, permite-me lembrar de várias passagens da vida cotidiana e do trabalho.

Pois bem: quem se lembra o que fazia na manhã de 11 de Setembro de 2001, quando as Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, vieram abaixo, atingidas por aviões, em ato terrorista? Uma dica: pelo horário brasileiro, era em torno de 10 horas da manhã.... Tá difícil? No meu caso não. Pois estava, fazia cerca de 12 horas, a acompanhar um fato que mudou a vida de uma cidade, Campinas, no Estado de São Paulo.

Praticamente 12 horas antes de as torres caírem, um evento que atingiu todo o mundo, Campinas tinha sido atingida pela sua tragédia: o assassinato do então prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho (PT). Ou seja, em pequeno período, eu, como ser social, e depois  como profissional de imprensa, lidava com dois fatos históricos, um de caráter próximo (o assassinato do prefeito) e outro de nível mundial. Certeza: ambos mudaram muitas vidas.

Afinal, e o que eu fazia naquela manhã de 11 de Setembro? Participava da cobertura do assassinato do prefeito de Campinas. Sabedor desde a noite anterior do fato, após um policial me ligar e relatar o fato, sabia que no dia seguinte teria de ir preparado para tudo, pois a cobertura seria intensa. Desta forma, coube-me o acompanhamento da perícia no carro do prefeito, um Palio, e em um Vectra prata, tido, inicialmente, como usado pelos criminosos.

A minha missão depositada foi esta, uma vez que possuía bom trâmite com os policiais e peritos, o que poderia, e de fato ocorreu, facilitar a aquisição das informações. Eis que no momento em que o segundo avião colidia contra uma das torres, eu havia saído de onde estavam os veículos, um estacionamento fechado do 4º Distrito Policial (Taquaral) de Campinas, para ir tomar água dentro da delegacia, uma vez que fazia muito calor.

Ao passar diante do balcão da delegacia, onde havia um televisor, vi a cena do avião e diversos policiais e pessoas que esperavam para registro de ocorrências correrem para frente da tela. Em seguida, o replay passado pela TV CNN. Parecia algo impossível. Mas era real. Tão real quanto 12 horas antes o prefeito Toninho tivera sido executado.

Após presenciar esta cena inicialmente insólita, da torre despencando, vi a do primeiro avião. Sem conseguir até falar direito, fui ao local onde os carros eram periciados e relatei o que tivera visto. Parte dos poucos colegas de imprensa que conseguiram entrar no estacionamento para acompanhar a perícia até acharam que eu brincava, falava algo "mentiroso", talvez para tirar alguma vantagem ao falar a sós com os peritos. Mas era real. Verdadeiro. O mundo boquiaberto para a queda das torres. Doze horas após Campinas ficar boquiaberta com o assassinato de seu prefeito. Difícil esquecer o que fazia neste dia, não é mesmo?

Ladrão invade comércio e dorme

Certo dia, no começo do dia de trabalho, descobri uma história que parecia impossível: um homem entrou em pequeno mercado da periferia de Campinas e, "pelo cansaço', acabou por dormir no local do crime. Resultado: quando o proprietário do comércio chegou para o trababalho, encontrou aquele homem, magro, "cara amassada" - daquelas que pessoas que dormem demais.

O comerciante, de forma rápida, chamou a Polícia Militar. Os soldados chegaram no local e detiveram o homem. Ele relatou que entrara no prédio para tentar o furto de uns chocolates e cigarros, que pretendia vender, para comprar um prato de comida.

Levado para o 5º Distrito Policial (Jardim Amazonas) de Campinas, o homem foi autuado em flagrante pela tentativa de furto. Durante o interrogatório, chegou a cochilar por várias vezes. Em algumas, teve de ser chacoalhado pelos policiais civis e militares, a fim de que a papelada fosse terminada e ele mandado para a cadeia. Foi tomar café em canequinha depois.

Anjos da PM salvam crianças

Abril de 2012 teve os últimos dias de grande emoção para policiais militares no salvamento de crianças. Isto pois em três cidades do interior do Estado de São Paulo - Sumaré, ribeirão Preto e Campinas - policiais usaram de toda a perícia para orientar mães e outros parentes das crianças a salvá-las, todas engasgadas.

Em um dos casos, em Sumaré, os PMs faziam ronda na área central da cidade quando viram uma mulher, que chorava e gritava, e pararam a viatura. Enquanto a levavam para hospital, davam instruções para mãe da menina de 1 ano a fim de que obtivesse o retorno da respiração de criança. E deu certo. Quando a menina chegou no Hospital Estadual de Sumaré, já respirava e ficou apenas algumas horas internada para exames de praxe.

Já em outra situação marcante, policiais militares de Ribeirão Preto ajudaram uma mãe a salvar menina de oito meses. Desta vez, pelo telefone. Um soldado dava orientações de procedimento para a mulher e, ao mesmo tempo, procurava acalmá-la. E deu certo. A criança foi salva e a  história terminou de forma feliz. Mais um trabalho de "anjos da PM". Parabéns a estes salvadores!!!

"Tinha turno" no serviço do tráfico

Um adolescente, em abril de 2012, surpreendeu a policiais militares de Campinas ao relatar, sem o menor constrangimento, que recebia R$ 60 por "trabalho" no tráfico de drogas. Flagrado no Jardim Rossim, bairro da região Oeste de Campinas, o rapaz, de 17 anos, contou que fazia o "turno" das 19h às 2h para ter direito ao pagamento.

Deste jeito, ele explicou aos policiais militares do 47º Batalhão que vendia cocaína, crack e maconha. Também que não havia quantidade obrigatória para comercializar pelo seu "turno de trabalho". Mas quanto maior a venda, melhor seria visto pelo "gerente do tráfico". Assim, asseguraria seu serviço. Eis que na madrugada de 30 de abril se deu mal.

Foi detido pelos PMs e acabou internado em unidade da Fundação Casa. Mas, com certeza, outro "trabalhador" já estaria no lugar dele às 19h do mesmo dia. Ao fazer as contas, se ele atuasse por 25 dias, teria no mês R$ 1.500.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O telefone e as linhas derrubadas

Existem momentos da profissão que são difíceis de serem esquecidos. Um deles, com certeza, é a briga por linhas telefônicas em jornal onde trabalhava no começo dos anos 1990. Havia cinco ou seis linhas, apenas. E ainda por cima, as ligações tinham, quando para fora da cidade de Campinas, precisavam ser completadas pela telefonista.

Desta forma, é inimaginável para quem não trabalha em um jornal ter ideia do que é a tensão e correria quando o dia vai findando, os minutos passando, e a chefia a cobrar os resultados do serviço. Ainda mais quando se precisa de um telefonema. E no período em questão não havia celulares.

Pois bem, neste cenário, o uso das cinco ou seis linhas telefônicas no jornal se tratavam de uma verdadeira batalhan naqueles tempos. Não era para menos. Os aparelhos tinham algumas teclas que, quando acesas, mostravam que a linha estava em uso. Assim, para se ter uma chance de obter a linha, o que por vezes não se fazia.

Gritava-se para um colega, que estava no fone e ocupava a linha. Quando ele olhava para quem o chamava, apertava-se a tecla, derrubava-se a linha dele, que era tomada pela pessoa que o chamara antes, para distrair. Quantas e quantas destas ações não presenciei. Se usei o expediente? Fica para o leitor imaginar e decidir...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Onde as ruas não têm nomes

Já vivenciava fazia um bom tempo as coberturas policiais em Campinas. Conhecia de forma legal os bairros dos quatro cantos da cidade a tal ponto de quando chegava um motorista novo na empresa, ele era designado para "fazer a ronda" comigo. Pois eu poderia dar uns toques por conhecer vários caminhos. E não somente em Campinas, mas cidades próximas, como Hortolândia, Sumaré e Monte Mor.

Mas eis que a partir da segunda metade dos anos 1990 Campinas passa a ter um novo desenho. Surgem muitas comunidades, chamadas invasões ou ocupações (como a mídia preferia). Com estes pontos mais recentes, a vida no dia a dia das ruas também foi modificado. Assim, já ocorriam crimes que eram em áreas antes inabitáveis.

Desta forma, houve uma drástica alteração no dia a dia. Casos aconteciam em locais que nomes, por vezes, que eram os mesmos de bairros já existentes, só que de outro lado da cidade. Foi quando se começou a rodar mais e mais, mesmo por não ter GPS naquele tempo. Campituba, Parque Oziel, Jardim Santo Antônio, Eldorado dos Carajás, DIC 5 de Março.... E mais e mais locais. Com o passar do tempo, descobri serem invasões "onde as ruas não tinham nomes" - lembrando uma música do grupo U2.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Coceira por crack entrega traficante

De todos os esquemas montados para traficantes agirem, um dos que mais chamou atenção, em 2010, em Campinas, foi o de esconder as porções de drogas na cueca. O encontro de várias pedras de crack, nesta peça íntima de um rapaz, na região do Jardim Ouro Verde, deixou policiais militares intrigados.

Eis que os policiais abordaram o rapaz em uma noite e, inicialmente, nada acharam com ele. Porém, em certo momento, o suspeito começou a sentir a calça incomodar ainda mais. Começou a se coçar com bastante frequência. Questionado, ainda tentou desviar a atenção e disse se tratar de uma simples irritação.

Mas o jeito nervoso o denunciou. Após alguns minutos, a revista do rapaz terminou e as pedras de crack foram encontradas, divididas em kits, na cueca do indivíduo. Mesmo de cara muito lavada, ele não pôde escapar da prisão. Descobriu que em alguns lugares não adiantava esconder entorpecentes.







Consciência faz ladrão devolver cavalo

Um cavalo, marrom e branco, com cerca de 3 anos, foi personagem de uma história nos anos 1990. O animal foi levado por ladrões, de onde estava armarrado, em rua do Parque da Figueira, em Campinas. O sumiço do cavalo, ao ser descoberto, levou uma família inteira ao desespero. Crianças choravam. A mãe delas também.

O animal estava fazia cerca de dois anos com a família e era o xodó de todos da rua, não somente da família. O furto do cavalo fez  com que todos se mobilizassem. Cartazes foram espalhados. De posse do registro policial do caso, achei a família. Reportagem com foto e tudo, com a dona do animal a segurar uma foto dele.

Muita conversa e procura pelo Parque da Figueira e bairros próximos, como Vila Campos Sales e Jardim Nova Europa. Eis que três dias após o furto, o cavalo reapareceu, no mesmo local, e amarrado, tal qual estava da última vez visto pelos donos. Nesta situação, pelo que pareceu, o ladrão se comoveu, fez exame de consciência e decidiu pela inversão do crime.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Angela, a felicidade em pessoa

Uma só alegria. Assim era Angela. Plantonista no 1º Distrito Policial de Campinas, no Bairro Botafogo, nos anos 1990, ela, toda serelepe, estava sempre de bem com a vida. Mesmo quando as 18 horas de plantão tinham sido daquelas horrrendas, com vários flagrantes, pessoas que brigavam na delegacia por causa da demora de atendimento e até mesmo pessoas envolvidas em ocorrências que tentavam se pegar mesmo dentro do DP.

Para a Angela, que tinha o cargo de oficial administrativa no governo estadual e poderia estar em serviço em qualquer órgão, não tinha problemas. Relaxava, atendia as pessoas, acalmava os mais afoitos, oferecia café e até pão com manteiga (margarina, acho...) para quem estava naquele lugar, sempre cheio e recheado de más histórias.

Magrinha, cerca de 1,65 metro, morena clara, cabelos curtos, Angela não media esforços para prestar um bom serviço. Até já pela manhã, quando estava em trabalho desde 18 horas do dia anterior, ela ainda era capaz de sorrir e ajudar os repórteres, fosse contando histórias da noite ou mesmo a chamar os policiais que porventura ainda estivessem na delegacia e participado dos casos, para fornecer detalhes.

Mas chegou um período em que o governo estadual fez uma reestruturação e Angela deixou o 1º DP. Infelizmente. Foi mandada para trabalhar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Depois disto, eu a vi por umas três vezes. Somente anos depois, sem a vir, soube que havia morrido. Doença grave que a acometeu e a levou rapidamente, com seu sorrido, para lado de Deus. Saudade que ficou...

                                                                   em memória da Angela, sempre feliz e bem com a vida

Uso de furadeira em roubo dá errado

Por vezes, a mente criminosa usa artimanhas que mais levam a enredo de um filme cômico que mesmo ao crime. Foi uma situação destas com que me deparei, lá por 2008, em Campinas. A fim de praticar assalto, um homem usou, nada mais nada menos, que uma furadeira. O alvo dele foi casal de namorados.

O bandido, de uns 20 anos, aproveitou-se de horário em que o movimento na Avenida Governador Pedro de Toledo, bairro Bonfim, eram menor, para "enquadrar" o casal, que retornava para casa. O ladrão não pensou duas vezes ao ver aquelas duas pessoas.

De posse de uma furadeira elétrica, possivelmente furtada de alguma loja, colocou-a por baixo do blusão - era uma noite de frio. Assim, simulava ser um revólver ou uma pistola. Aproximou-se e anunciou o assalto. Tomou alguns pertences do casal, como celulares, cartões de banco e de passes. Mas, eis que houve um mas...

Ao gritar para os namorados ficarem de rostos voltados para as portas de uma loja, a fim de que fugisse, uma viatura da Polícia Militar apareceu. Os soldados perceberam a ação do criminoso e foram para cima dele. Com pistolas semiautomáticas de calibre Ponto 40, o bandido não teve o que fazer. Rendeu-se e mostrou sua "arma": a furadeira. Preso, foi tomar café na cadeia.

Piratas passam pé em rastreador

Como existem venenos e seus antídotos, parece que os ladrões têm a característica de sempre ter uma resposta a novidades em segurança. Foi isto que percebi, de forma intensa, lá pelos idos de 2005. Um caminhão, com carga (a mercadoria realmente não me lembro mais) foi roubado. O que despertou atenção ainda mais da empresa-proprietária do veículo foi a ação dos piratas do asfalto, como ficaram conhecidos os ladrões de cargas, que conseguiram burlar todo um esquema de segurança novo.

Tratava-se do monitoramento via satélite. Como aqueles homens tinham conseguido efetuar o roubo do veículo com mercadorias? Como a localização do caminhão não podia ser detectada pelos sistemas de rastreamento? O motorista foi libertado em Campinas, na Rodovia Dom Pedro I, e pediu ajuda para policiais rodoviários. Foi levado para o 8º Distrito Policial, em Nova Aparecida, área Norte da cidade.

Eis que quando relatava o caso na Polícia Civil, veio a notícia de que o caminhão fora encontrado. Assim, rodoviários foram a uma via marginal da Dom Pedro e acharam o veículo, sem a carga, é óbvio. O caminhão foi levado para a delegacia. Apenas depois é que se notou e descobriu como o rastreador foi bloqueado. Os ladrões colocaram papel alumínio na antena do veículo e, assim, o rastreador "ficou louco". Depois de algum tempo, policiais descobriram que outra técnica para burlar o rastreamento era cobrir a antena com manta acrílica.

Desta forma, especialistas em segurança tiveram de modificar características dos rastreadores, como disponibilizar antenas internas pequenas e escondidas no veículo ou mesmo colocar chips de transmissão em determinadas partes das cargas, pois assim ficaria mais difícil de os piratas levarem tanta vantagem. Mas é isto: o que não falta aos bandidos é engenhosidade...

Cobra é furtada de bosque

Quando se acha que tudo foi visto na vida, sempre há uma novidade. Foi desta forma que encarei, em 20 de abril de 2012, quase em final de expediente, uma história: o furto de uma cobra do Bosque dos Jequitibás, um parque de Campinas.

Tocou o telefone. Atendi. Do outro lado da linha: "sumiram com uma cobra do bosque. Interessa?" Diante da pergunta, ainda questionei de novo a pergunta, para tirar dúvida. E ouvi a mesma resposta. "Mas tem registro na Polícia já". "Sim, quer que passe". Respondi mais que depressa: "Vamos lá".

A Cobra do Milho, com cerca de 1 metro de comprimento, foi furtada de um terrário, que teve a fechadura estourada. O crime foi descoberto na sexta-feira. A cobra não é venenosa, alaranjada e bege e "dócil", conforme registro na Polícia Civil. O réptil tinha cerca de 10 anos.

O que mais me chamou a atenção: neste mesmo blog, poucos dias antes, havia relatado uma cobertura que fiz, uns 15 anos antes, quando do furto de três tartarugas do mesmo bosque. Coincidência ou não, a história da cobra fica aqui também registrada agora.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A tristeza de uma perda anunciada

Pedrosinho, como era conhecido, era daqueles investigadores da pá virada. No bom sentido. Jovem, impetuoso, em nenhum momento se fez valer da condição de filho de delegado para subir na Polícia Civil. Sequer pensava ser delegada. Queria mesmo era rua, correr atrás de bandido, prender traficantes, salvar pessoas vítimas de assalto.

Sempre bastante falador, quando te pegava, "senta que lá vem história". Casos mirabolantes, droga dentro de Papai-Noel e dentro de motor de carro, assaltante de banco metido a galã que ao ser preso pediu para não machucarem rosto dele, ladrão que era trombadão no Centro de Campinas e que ao ser preso levou uns "tabefes" de várias pessoas, por atacar velhinhas. Tudo isto era Pedrosinho. Conheci-o nos anos 1990.

Logo houve empatia entre nós. Eu, ainda praticamente novo de profissão na cobertura policial, o investigador me chamava de grande repórter, por sempre estar alerta e correr atrás dos casos. Eu o achava bastante empreendedor, mas, por vezes, deixava-se levar pela emoção e desguarnecia a guarda. E foi em um momento destes, em uma operação da Polícia Civil perto do Jardim Itatinga, onde era a zona oficial de prostituição, em um tiroteio, Pedrosinho foi baleado.

Naquela época eram poucos os coletes à prova de bala que o governo. Assim como armas melhores, se os policiais querem mesmo colete, precisavam comprar. Mas Pedrosinho sempre abriu mão do colete. "Pesa muito, incomoda. Troco  arma, mas não compro o colete. É coisa de governo", falava. E numa sexta-feira, baleado, morreu em hospital de Campinas. O jovem policial deixou rastro de histórias e de planos para a família, inclusive seu pai que, por anos, foi professor da Academia de Polícia. Saudades do amigo.

Elias, profeta da Polícia, repórter da vida

Elias, este era o cara. Dos maiores jornalistas policiais que conheci. Sem ter diploma, sem viver da profissão. Repórter da vida. Mas ele tinha, como o profeta da Bíblia, a voz de Deus a acompanhá-lo. Vou-me explicar então. Elias era dono de uma banca de jornais e revistas, na esquina da Rua Marechal Deodoro com Avenida Andrade Neves, bairro Botafogo, em Campinas, SP. Esta esquina era, sem sombra de dúvidas, como a mais movimentada da Polícia Civil da cidade. Conheci-o no comecinho dos anos 1990, salvo engano, agosto de 91.

A localização da banca era demasiadamente estratégica. Bem na esquina de onde ficam vários prédios da instituição, onde ficam os senhores que cuidam da Polícia Civil na cidade e região. Assim, com copinhos de café nas mãos, toda manhã era aquela rotina. Conforme chegavam os policiais, aglomeravam-se no comércio do Elias, talvez pudesse chamá-lo de "o profeta da Polícia".

Não que ele adivinhasse as coisas, mas por saber de tudo, sempre, sempre mesmo. Nenhum jornalista tinha esta categoria de saber tudo, com tanta nitidez, como Elias. Todas as manhãs, sua banca era minha parda obrigatória, é claro. Como ele tinha um sobrinho jornalista, gostava muito de mim, ainda mais por parecer um pouco com seu parente.

"Fica esperto porque chegaram uns caras algemados aí pelas 5h30. Fica de olho porque tem coisa", revelava ele, com toda propriedade. Era batata. Tinha mesmo. Até os casos que aconteciam quando ele ainda não tinha começado o serviço do dia, ele sabia. Por vezes, eu ficava na banca, enquanto ele ia na lanchonete da esquina tomar um café. Apesar de uma lesão em um dos pés (era torto), Elias se fazia suficiente até nisto. Ele mesmo queria ir à lanchonete.

Por vezes, fugia um pouco do papo Polícia e me dava dicas de novas coleções que chegavam. Ele guardava exemplares e eu acertava tudo mensalmente. Até quando a instituição teria mudanças na alta cúpula, Elias apontava um provável novo chefe. E, oras, acertava.

Certo dia, passei diante da banca. Estava fechada. Ninguém sabia ao certo o que tinha ocorrido. Era uma segunda-feira e eu não havia trabalhado no final de semana. Passaram-se alguns dias, já descoberto que Elias teve um problema gastrointestinal grave e estava internado. Até que veio a data trágica. O profeta morreu. Talvez tenha ido para contar mais umas histórias policiais a Deus. Um dia, quem sabe, terei o sabor de desfrutar de seu companheirismo de novo.

                                              em memória de Elias, um repórter policial natural