segunda-feira, 30 de abril de 2012

Quando o mundo parou

Vivemos em um mundo de correria, sem tempo, por vezes, de tomar fôlego para realizarmos nossas tarefas diárias e, de vez em quando, mesmo comer direito. Este cenário nos faz, cada vez mais, não nos recordarmos de determinados momentos. Ainda mais no trabalho. Mas tenho aquela "luzinha" na cabeça, que ainda, que sorte!, permite-me lembrar de várias passagens da vida cotidiana e do trabalho.

Pois bem: quem se lembra o que fazia na manhã de 11 de Setembro de 2001, quando as Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, vieram abaixo, atingidas por aviões, em ato terrorista? Uma dica: pelo horário brasileiro, era em torno de 10 horas da manhã.... Tá difícil? No meu caso não. Pois estava, fazia cerca de 12 horas, a acompanhar um fato que mudou a vida de uma cidade, Campinas, no Estado de São Paulo.

Praticamente 12 horas antes de as torres caírem, um evento que atingiu todo o mundo, Campinas tinha sido atingida pela sua tragédia: o assassinato do então prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho (PT). Ou seja, em pequeno período, eu, como ser social, e depois  como profissional de imprensa, lidava com dois fatos históricos, um de caráter próximo (o assassinato do prefeito) e outro de nível mundial. Certeza: ambos mudaram muitas vidas.

Afinal, e o que eu fazia naquela manhã de 11 de Setembro? Participava da cobertura do assassinato do prefeito de Campinas. Sabedor desde a noite anterior do fato, após um policial me ligar e relatar o fato, sabia que no dia seguinte teria de ir preparado para tudo, pois a cobertura seria intensa. Desta forma, coube-me o acompanhamento da perícia no carro do prefeito, um Palio, e em um Vectra prata, tido, inicialmente, como usado pelos criminosos.

A minha missão depositada foi esta, uma vez que possuía bom trâmite com os policiais e peritos, o que poderia, e de fato ocorreu, facilitar a aquisição das informações. Eis que no momento em que o segundo avião colidia contra uma das torres, eu havia saído de onde estavam os veículos, um estacionamento fechado do 4º Distrito Policial (Taquaral) de Campinas, para ir tomar água dentro da delegacia, uma vez que fazia muito calor.

Ao passar diante do balcão da delegacia, onde havia um televisor, vi a cena do avião e diversos policiais e pessoas que esperavam para registro de ocorrências correrem para frente da tela. Em seguida, o replay passado pela TV CNN. Parecia algo impossível. Mas era real. Tão real quanto 12 horas antes o prefeito Toninho tivera sido executado.

Após presenciar esta cena inicialmente insólita, da torre despencando, vi a do primeiro avião. Sem conseguir até falar direito, fui ao local onde os carros eram periciados e relatei o que tivera visto. Parte dos poucos colegas de imprensa que conseguiram entrar no estacionamento para acompanhar a perícia até acharam que eu brincava, falava algo "mentiroso", talvez para tirar alguma vantagem ao falar a sós com os peritos. Mas era real. Verdadeiro. O mundo boquiaberto para a queda das torres. Doze horas após Campinas ficar boquiaberta com o assassinato de seu prefeito. Difícil esquecer o que fazia neste dia, não é mesmo?

Ladrão invade comércio e dorme

Certo dia, no começo do dia de trabalho, descobri uma história que parecia impossível: um homem entrou em pequeno mercado da periferia de Campinas e, "pelo cansaço', acabou por dormir no local do crime. Resultado: quando o proprietário do comércio chegou para o trababalho, encontrou aquele homem, magro, "cara amassada" - daquelas que pessoas que dormem demais.

O comerciante, de forma rápida, chamou a Polícia Militar. Os soldados chegaram no local e detiveram o homem. Ele relatou que entrara no prédio para tentar o furto de uns chocolates e cigarros, que pretendia vender, para comprar um prato de comida.

Levado para o 5º Distrito Policial (Jardim Amazonas) de Campinas, o homem foi autuado em flagrante pela tentativa de furto. Durante o interrogatório, chegou a cochilar por várias vezes. Em algumas, teve de ser chacoalhado pelos policiais civis e militares, a fim de que a papelada fosse terminada e ele mandado para a cadeia. Foi tomar café em canequinha depois.

Anjos da PM salvam crianças

Abril de 2012 teve os últimos dias de grande emoção para policiais militares no salvamento de crianças. Isto pois em três cidades do interior do Estado de São Paulo - Sumaré, ribeirão Preto e Campinas - policiais usaram de toda a perícia para orientar mães e outros parentes das crianças a salvá-las, todas engasgadas.

Em um dos casos, em Sumaré, os PMs faziam ronda na área central da cidade quando viram uma mulher, que chorava e gritava, e pararam a viatura. Enquanto a levavam para hospital, davam instruções para mãe da menina de 1 ano a fim de que obtivesse o retorno da respiração de criança. E deu certo. Quando a menina chegou no Hospital Estadual de Sumaré, já respirava e ficou apenas algumas horas internada para exames de praxe.

Já em outra situação marcante, policiais militares de Ribeirão Preto ajudaram uma mãe a salvar menina de oito meses. Desta vez, pelo telefone. Um soldado dava orientações de procedimento para a mulher e, ao mesmo tempo, procurava acalmá-la. E deu certo. A criança foi salva e a  história terminou de forma feliz. Mais um trabalho de "anjos da PM". Parabéns a estes salvadores!!!

"Tinha turno" no serviço do tráfico

Um adolescente, em abril de 2012, surpreendeu a policiais militares de Campinas ao relatar, sem o menor constrangimento, que recebia R$ 60 por "trabalho" no tráfico de drogas. Flagrado no Jardim Rossim, bairro da região Oeste de Campinas, o rapaz, de 17 anos, contou que fazia o "turno" das 19h às 2h para ter direito ao pagamento.

Deste jeito, ele explicou aos policiais militares do 47º Batalhão que vendia cocaína, crack e maconha. Também que não havia quantidade obrigatória para comercializar pelo seu "turno de trabalho". Mas quanto maior a venda, melhor seria visto pelo "gerente do tráfico". Assim, asseguraria seu serviço. Eis que na madrugada de 30 de abril se deu mal.

Foi detido pelos PMs e acabou internado em unidade da Fundação Casa. Mas, com certeza, outro "trabalhador" já estaria no lugar dele às 19h do mesmo dia. Ao fazer as contas, se ele atuasse por 25 dias, teria no mês R$ 1.500.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O telefone e as linhas derrubadas

Existem momentos da profissão que são difíceis de serem esquecidos. Um deles, com certeza, é a briga por linhas telefônicas em jornal onde trabalhava no começo dos anos 1990. Havia cinco ou seis linhas, apenas. E ainda por cima, as ligações tinham, quando para fora da cidade de Campinas, precisavam ser completadas pela telefonista.

Desta forma, é inimaginável para quem não trabalha em um jornal ter ideia do que é a tensão e correria quando o dia vai findando, os minutos passando, e a chefia a cobrar os resultados do serviço. Ainda mais quando se precisa de um telefonema. E no período em questão não havia celulares.

Pois bem, neste cenário, o uso das cinco ou seis linhas telefônicas no jornal se tratavam de uma verdadeira batalhan naqueles tempos. Não era para menos. Os aparelhos tinham algumas teclas que, quando acesas, mostravam que a linha estava em uso. Assim, para se ter uma chance de obter a linha, o que por vezes não se fazia.

Gritava-se para um colega, que estava no fone e ocupava a linha. Quando ele olhava para quem o chamava, apertava-se a tecla, derrubava-se a linha dele, que era tomada pela pessoa que o chamara antes, para distrair. Quantas e quantas destas ações não presenciei. Se usei o expediente? Fica para o leitor imaginar e decidir...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Onde as ruas não têm nomes

Já vivenciava fazia um bom tempo as coberturas policiais em Campinas. Conhecia de forma legal os bairros dos quatro cantos da cidade a tal ponto de quando chegava um motorista novo na empresa, ele era designado para "fazer a ronda" comigo. Pois eu poderia dar uns toques por conhecer vários caminhos. E não somente em Campinas, mas cidades próximas, como Hortolândia, Sumaré e Monte Mor.

Mas eis que a partir da segunda metade dos anos 1990 Campinas passa a ter um novo desenho. Surgem muitas comunidades, chamadas invasões ou ocupações (como a mídia preferia). Com estes pontos mais recentes, a vida no dia a dia das ruas também foi modificado. Assim, já ocorriam crimes que eram em áreas antes inabitáveis.

Desta forma, houve uma drástica alteração no dia a dia. Casos aconteciam em locais que nomes, por vezes, que eram os mesmos de bairros já existentes, só que de outro lado da cidade. Foi quando se começou a rodar mais e mais, mesmo por não ter GPS naquele tempo. Campituba, Parque Oziel, Jardim Santo Antônio, Eldorado dos Carajás, DIC 5 de Março.... E mais e mais locais. Com o passar do tempo, descobri serem invasões "onde as ruas não tinham nomes" - lembrando uma música do grupo U2.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Coceira por crack entrega traficante

De todos os esquemas montados para traficantes agirem, um dos que mais chamou atenção, em 2010, em Campinas, foi o de esconder as porções de drogas na cueca. O encontro de várias pedras de crack, nesta peça íntima de um rapaz, na região do Jardim Ouro Verde, deixou policiais militares intrigados.

Eis que os policiais abordaram o rapaz em uma noite e, inicialmente, nada acharam com ele. Porém, em certo momento, o suspeito começou a sentir a calça incomodar ainda mais. Começou a se coçar com bastante frequência. Questionado, ainda tentou desviar a atenção e disse se tratar de uma simples irritação.

Mas o jeito nervoso o denunciou. Após alguns minutos, a revista do rapaz terminou e as pedras de crack foram encontradas, divididas em kits, na cueca do indivíduo. Mesmo de cara muito lavada, ele não pôde escapar da prisão. Descobriu que em alguns lugares não adiantava esconder entorpecentes.







Consciência faz ladrão devolver cavalo

Um cavalo, marrom e branco, com cerca de 3 anos, foi personagem de uma história nos anos 1990. O animal foi levado por ladrões, de onde estava armarrado, em rua do Parque da Figueira, em Campinas. O sumiço do cavalo, ao ser descoberto, levou uma família inteira ao desespero. Crianças choravam. A mãe delas também.

O animal estava fazia cerca de dois anos com a família e era o xodó de todos da rua, não somente da família. O furto do cavalo fez  com que todos se mobilizassem. Cartazes foram espalhados. De posse do registro policial do caso, achei a família. Reportagem com foto e tudo, com a dona do animal a segurar uma foto dele.

Muita conversa e procura pelo Parque da Figueira e bairros próximos, como Vila Campos Sales e Jardim Nova Europa. Eis que três dias após o furto, o cavalo reapareceu, no mesmo local, e amarrado, tal qual estava da última vez visto pelos donos. Nesta situação, pelo que pareceu, o ladrão se comoveu, fez exame de consciência e decidiu pela inversão do crime.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Angela, a felicidade em pessoa

Uma só alegria. Assim era Angela. Plantonista no 1º Distrito Policial de Campinas, no Bairro Botafogo, nos anos 1990, ela, toda serelepe, estava sempre de bem com a vida. Mesmo quando as 18 horas de plantão tinham sido daquelas horrrendas, com vários flagrantes, pessoas que brigavam na delegacia por causa da demora de atendimento e até mesmo pessoas envolvidas em ocorrências que tentavam se pegar mesmo dentro do DP.

Para a Angela, que tinha o cargo de oficial administrativa no governo estadual e poderia estar em serviço em qualquer órgão, não tinha problemas. Relaxava, atendia as pessoas, acalmava os mais afoitos, oferecia café e até pão com manteiga (margarina, acho...) para quem estava naquele lugar, sempre cheio e recheado de más histórias.

Magrinha, cerca de 1,65 metro, morena clara, cabelos curtos, Angela não media esforços para prestar um bom serviço. Até já pela manhã, quando estava em trabalho desde 18 horas do dia anterior, ela ainda era capaz de sorrir e ajudar os repórteres, fosse contando histórias da noite ou mesmo a chamar os policiais que porventura ainda estivessem na delegacia e participado dos casos, para fornecer detalhes.

Mas chegou um período em que o governo estadual fez uma reestruturação e Angela deixou o 1º DP. Infelizmente. Foi mandada para trabalhar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Depois disto, eu a vi por umas três vezes. Somente anos depois, sem a vir, soube que havia morrido. Doença grave que a acometeu e a levou rapidamente, com seu sorrido, para lado de Deus. Saudade que ficou...

                                                                   em memória da Angela, sempre feliz e bem com a vida

Uso de furadeira em roubo dá errado

Por vezes, a mente criminosa usa artimanhas que mais levam a enredo de um filme cômico que mesmo ao crime. Foi uma situação destas com que me deparei, lá por 2008, em Campinas. A fim de praticar assalto, um homem usou, nada mais nada menos, que uma furadeira. O alvo dele foi casal de namorados.

O bandido, de uns 20 anos, aproveitou-se de horário em que o movimento na Avenida Governador Pedro de Toledo, bairro Bonfim, eram menor, para "enquadrar" o casal, que retornava para casa. O ladrão não pensou duas vezes ao ver aquelas duas pessoas.

De posse de uma furadeira elétrica, possivelmente furtada de alguma loja, colocou-a por baixo do blusão - era uma noite de frio. Assim, simulava ser um revólver ou uma pistola. Aproximou-se e anunciou o assalto. Tomou alguns pertences do casal, como celulares, cartões de banco e de passes. Mas, eis que houve um mas...

Ao gritar para os namorados ficarem de rostos voltados para as portas de uma loja, a fim de que fugisse, uma viatura da Polícia Militar apareceu. Os soldados perceberam a ação do criminoso e foram para cima dele. Com pistolas semiautomáticas de calibre Ponto 40, o bandido não teve o que fazer. Rendeu-se e mostrou sua "arma": a furadeira. Preso, foi tomar café na cadeia.

Piratas passam pé em rastreador

Como existem venenos e seus antídotos, parece que os ladrões têm a característica de sempre ter uma resposta a novidades em segurança. Foi isto que percebi, de forma intensa, lá pelos idos de 2005. Um caminhão, com carga (a mercadoria realmente não me lembro mais) foi roubado. O que despertou atenção ainda mais da empresa-proprietária do veículo foi a ação dos piratas do asfalto, como ficaram conhecidos os ladrões de cargas, que conseguiram burlar todo um esquema de segurança novo.

Tratava-se do monitoramento via satélite. Como aqueles homens tinham conseguido efetuar o roubo do veículo com mercadorias? Como a localização do caminhão não podia ser detectada pelos sistemas de rastreamento? O motorista foi libertado em Campinas, na Rodovia Dom Pedro I, e pediu ajuda para policiais rodoviários. Foi levado para o 8º Distrito Policial, em Nova Aparecida, área Norte da cidade.

Eis que quando relatava o caso na Polícia Civil, veio a notícia de que o caminhão fora encontrado. Assim, rodoviários foram a uma via marginal da Dom Pedro e acharam o veículo, sem a carga, é óbvio. O caminhão foi levado para a delegacia. Apenas depois é que se notou e descobriu como o rastreador foi bloqueado. Os ladrões colocaram papel alumínio na antena do veículo e, assim, o rastreador "ficou louco". Depois de algum tempo, policiais descobriram que outra técnica para burlar o rastreamento era cobrir a antena com manta acrílica.

Desta forma, especialistas em segurança tiveram de modificar características dos rastreadores, como disponibilizar antenas internas pequenas e escondidas no veículo ou mesmo colocar chips de transmissão em determinadas partes das cargas, pois assim ficaria mais difícil de os piratas levarem tanta vantagem. Mas é isto: o que não falta aos bandidos é engenhosidade...

Cobra é furtada de bosque

Quando se acha que tudo foi visto na vida, sempre há uma novidade. Foi desta forma que encarei, em 20 de abril de 2012, quase em final de expediente, uma história: o furto de uma cobra do Bosque dos Jequitibás, um parque de Campinas.

Tocou o telefone. Atendi. Do outro lado da linha: "sumiram com uma cobra do bosque. Interessa?" Diante da pergunta, ainda questionei de novo a pergunta, para tirar dúvida. E ouvi a mesma resposta. "Mas tem registro na Polícia já". "Sim, quer que passe". Respondi mais que depressa: "Vamos lá".

A Cobra do Milho, com cerca de 1 metro de comprimento, foi furtada de um terrário, que teve a fechadura estourada. O crime foi descoberto na sexta-feira. A cobra não é venenosa, alaranjada e bege e "dócil", conforme registro na Polícia Civil. O réptil tinha cerca de 10 anos.

O que mais me chamou a atenção: neste mesmo blog, poucos dias antes, havia relatado uma cobertura que fiz, uns 15 anos antes, quando do furto de três tartarugas do mesmo bosque. Coincidência ou não, a história da cobra fica aqui também registrada agora.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A tristeza de uma perda anunciada

Pedrosinho, como era conhecido, era daqueles investigadores da pá virada. No bom sentido. Jovem, impetuoso, em nenhum momento se fez valer da condição de filho de delegado para subir na Polícia Civil. Sequer pensava ser delegada. Queria mesmo era rua, correr atrás de bandido, prender traficantes, salvar pessoas vítimas de assalto.

Sempre bastante falador, quando te pegava, "senta que lá vem história". Casos mirabolantes, droga dentro de Papai-Noel e dentro de motor de carro, assaltante de banco metido a galã que ao ser preso pediu para não machucarem rosto dele, ladrão que era trombadão no Centro de Campinas e que ao ser preso levou uns "tabefes" de várias pessoas, por atacar velhinhas. Tudo isto era Pedrosinho. Conheci-o nos anos 1990.

Logo houve empatia entre nós. Eu, ainda praticamente novo de profissão na cobertura policial, o investigador me chamava de grande repórter, por sempre estar alerta e correr atrás dos casos. Eu o achava bastante empreendedor, mas, por vezes, deixava-se levar pela emoção e desguarnecia a guarda. E foi em um momento destes, em uma operação da Polícia Civil perto do Jardim Itatinga, onde era a zona oficial de prostituição, em um tiroteio, Pedrosinho foi baleado.

Naquela época eram poucos os coletes à prova de bala que o governo. Assim como armas melhores, se os policiais querem mesmo colete, precisavam comprar. Mas Pedrosinho sempre abriu mão do colete. "Pesa muito, incomoda. Troco  arma, mas não compro o colete. É coisa de governo", falava. E numa sexta-feira, baleado, morreu em hospital de Campinas. O jovem policial deixou rastro de histórias e de planos para a família, inclusive seu pai que, por anos, foi professor da Academia de Polícia. Saudades do amigo.

Elias, profeta da Polícia, repórter da vida

Elias, este era o cara. Dos maiores jornalistas policiais que conheci. Sem ter diploma, sem viver da profissão. Repórter da vida. Mas ele tinha, como o profeta da Bíblia, a voz de Deus a acompanhá-lo. Vou-me explicar então. Elias era dono de uma banca de jornais e revistas, na esquina da Rua Marechal Deodoro com Avenida Andrade Neves, bairro Botafogo, em Campinas, SP. Esta esquina era, sem sombra de dúvidas, como a mais movimentada da Polícia Civil da cidade. Conheci-o no comecinho dos anos 1990, salvo engano, agosto de 91.

A localização da banca era demasiadamente estratégica. Bem na esquina de onde ficam vários prédios da instituição, onde ficam os senhores que cuidam da Polícia Civil na cidade e região. Assim, com copinhos de café nas mãos, toda manhã era aquela rotina. Conforme chegavam os policiais, aglomeravam-se no comércio do Elias, talvez pudesse chamá-lo de "o profeta da Polícia".

Não que ele adivinhasse as coisas, mas por saber de tudo, sempre, sempre mesmo. Nenhum jornalista tinha esta categoria de saber tudo, com tanta nitidez, como Elias. Todas as manhãs, sua banca era minha parda obrigatória, é claro. Como ele tinha um sobrinho jornalista, gostava muito de mim, ainda mais por parecer um pouco com seu parente.

"Fica esperto porque chegaram uns caras algemados aí pelas 5h30. Fica de olho porque tem coisa", revelava ele, com toda propriedade. Era batata. Tinha mesmo. Até os casos que aconteciam quando ele ainda não tinha começado o serviço do dia, ele sabia. Por vezes, eu ficava na banca, enquanto ele ia na lanchonete da esquina tomar um café. Apesar de uma lesão em um dos pés (era torto), Elias se fazia suficiente até nisto. Ele mesmo queria ir à lanchonete.

Por vezes, fugia um pouco do papo Polícia e me dava dicas de novas coleções que chegavam. Ele guardava exemplares e eu acertava tudo mensalmente. Até quando a instituição teria mudanças na alta cúpula, Elias apontava um provável novo chefe. E, oras, acertava.

Certo dia, passei diante da banca. Estava fechada. Ninguém sabia ao certo o que tinha ocorrido. Era uma segunda-feira e eu não havia trabalhado no final de semana. Passaram-se alguns dias, já descoberto que Elias teve um problema gastrointestinal grave e estava internado. Até que veio a data trágica. O profeta morreu. Talvez tenha ido para contar mais umas histórias policiais a Deus. Um dia, quem sabe, terei o sabor de desfrutar de seu companheirismo de novo.

                                              em memória de Elias, um repórter policial natural

segunda-feira, 16 de abril de 2012

No lugar de beijo, furto no cinema

Ao aproveitar o escurinho do cinema, dupla furtou pertences de uma moça, dentro de cinema de Campinas, mas foi detida pela Polícia Militar (PM), na noite de uma quinta-feira de abril de 2012. Os suspeitos foram ousados e rápidos na ação, pois após furtarem bolsa de uma comissária de 30 anos em cinema do Shopping Iguatemi, foram para outro centro de compras, o Galleria, para realizar compras com os cartões de crédito da vítima. Mas a comissária foi informada pela administradora de um dos cartões que os bandidos tentavam efetuar compras em loja do outro shopping.

A segurança dos dois centros de compras se mantiveram em contato sobre o caso. A comissária foi para o segundo shopping com policiais militares, que detiveram a dupla. Quando os PMs chegaram no outro shopping, os ladrões estavam em um segundo estabelecimento comercial, para tentar comprar perfumes, pois na primeira loja não conseguiram concluir a transação.

Um adolescente de 17 anos, que disse morar em Jundiaí, e o amigo de 18 anos, residente em Cabreúva, foram detidos pelos PMs do 8º Batalhão. Eles estavam com cartões bancários e documentos da comissária A.M.A. Eles foram autuados em flagrante por furto qualificado pelo delegado Rubens Urbano.

O adolescente foi entregue para sua mãe e o comparsa mandado para a cadeia anexa à Delegacia do 2º Distrito Policial (São Bernardo). O carro usado pelos acusados, um Fox, era do pai do acusado.

A PM orienta as pessoas que forem a cinemas para manter seus pertences próximos (no colo ou junto aos pés), sejam bolsas, mochilas e carteiras. Colocá-los em poltrona vazia, mesmo que não haja pessoa perto, não é aconselhável.

'Ô menino, vê a droga'

Sábado de plantão. Aquele dia em que, por vezes, se torce para tudo ficar tranquilo. Em determinado horário, começo de tarde - ainda bem! - soa o telefone. Uma voz conhecida, do outro lado, diz: "Corre pra cá que temos uns quilos de maconha apreendidos". Eu questiono: "Onde estão?". A resposta: "No 3º DP". Replico: "Mas o 3º DP não abre de final de semana".

Novamente a voz: "Não acredita em mim? Já te passei informação furada?". Percebi que era preciso ir para o local mesmo. Ao chegar lá, encontrei o investigador que me chamara. Todo paramentado de preto, com munições que compunham cintos, Lazinho fala: "Ô, menino, vê a droga". Eu olho para ele. O policial aponta para uma picape. "Sobe aí e conta", orienta.

Resolvo olhar. Também subir no veículo coberto. O cheiro da erva dominou meu nariz. Eram dezenas de tijolos de maconha prensada. Cerca de 300 quilos. Ao descer da picape, o investigador, zombeiteiro, ainda diz: "Nunca tinha visto tanto né; ficou até tonto". Era verdade. Voltei para redação e escrevi a história da apreensão. Lazinho continuou a trabalhar na Polícia Civil até os anos 2010. Sempre com as roupas pretas. Sempre com as munições.

'Dançando na Chuva'

Janeiro de 1993. Este mês jamais esqueço. Tinha, fazia pouco tempo, sido retirado da cobertura de Esportes e passado para Cidades, especialmente, já, Polícia. Mas entrava às 13h ou 14h. Assim, ficava até muito tarde na redação. Foi exatamente neste mês que enfrentei o maior número de casos de chuvas que cobri na carreira.

Todo final de tarde, entre o final de dezembro de 92 e janeiro de 93, era a mesma coisa: temporais. Por vezes, até eram dois, intercalados por período pouco mais quente. Houve uma data em que, já pelas 22h, prestes a ir embora, veio a notícia: estouro de um cano de água em bairro da região Oeste de Campinas. Restou-me ir para o carro, com o fotógrafo, e rumar para os jardins Rossim e Florence 1, pois o encanamento danificado ficava nesta região.

Foi uma tristeza ao chegar no local. A água jorrava alto, por causa da pressão. A chuva eraa forte. Como fazer? Era preciso olhar de perto do estrago, que ficava sobre uma ponte, inteiramente enlameada. Um, dois, três, quatro, fui... A água escorria, esfriava o corpo, detonava o bloquinho que tinha em mãos. Parecia cena de filme. Lembrei-me do "Dançando na Chuva". Aliás, estava eu mesmo 'dançando' na chuva, mas metaforicamente falando. Voltei para a redação, escrevi texto e fui embora. Inteiramente molhado. Mas houve outros dias ainda neste janeiro de 1993.

Tartarugas Ninjas somem de Bosque

Tartarugas são animais dóceis e reconhecidamente lentos. Menos as Ninjas. Mas lá pelo anos 2000, entendo que em Campinas, algum Donatelo ou Michelângelo deve ter passado pelo Bosque dos Jequitibás. Isto pois em um dos lugares mais visitados da cidade, três tartarugas sumiram. E o desaparecimento delas deu no que falar...

Manhã de uma segunda-feira. Ao se saber do sumiço dos bichinhos, praticamente toda a imprensa da cidade foi para o Bosque. Era uma situação insólita até. Repórteres que já tinham "boa quilometragem" de vida profissional a fazer a cobertura de sumiço de tartarugas. O caso foi registrado na Polícia Civil como furto. Entre os olhares de repórtes, o que restava era minha análise do cenário de crime.

Cercas altas ao rerdor do Bosque. Muitas árvores e vegetação, que facilitariam que os bichos estivessem escondidos. Mas o pessoal do parque apontava para um furto mesmo. O jeito foi entrevistar bióloga e vigilância do Bosque para compor aquela história. Tal qual as tartarugas, foi uma tarefa lenta. Uma manhã inteira de serviço para relatar o desaparecimento dos animais. Nunca obtivemos notícia de que as tartarugas tenham sido achadas. Ficou o mistério...

domingo, 15 de abril de 2012

Garoto zomba, mas cai na mão do tráfico

Poderia ter sido um dia tranquilo para aquele garoto de 11 anos. Mas ele não gostava da passividade. Já conhecido por policiais pelo envolvimento com drogas, naquela manhã de 2007 estava ele lá, no estacionamento do 4º Distrito Policial (Taquaral), em Campinas, em prédio onde também funcionava a Delegacia da Infância e Juventude (DIJ).

Naquela oportunidade, o garoto tinha sido pego com 141 porções de cocaína, além de dinheiro, já originado de vendas. Aparentando tranquilidade de irritar, o garoto relatava que pegava mesmo a droga, vendia e ganhava dinheiro. "Pra que, senhor, eu faço isto?" "Pra ter tênis bom, roupa de marca. Estudar pra que?". Diante de uma forma tão vil de ver o mundo naquela tenra idade, eu senti meu estômago ruir. Enroscar-se.

A vontade era um misto de sair daquele local e também de dar uma bordoada naquele garoto, que ria, zombava na forma de falar. Restou-me uma única colocação:"Droga mata, carinha. Ou por uso ou por tiro". Cerca de dois anos após este episódio, soube da morte do garoto. Não morreu por usar a droga ainda, mas por ter tentado ser mais esperto que outros, que arrumaram para que levasse uns 15 tiros. A alma dele aprendeu pela dor.

Quando estive diante de Capeta

Como repórter exclusivamente de assuntos policiais, acho que Jonas foi o primeiro acusado de bandido que acompanhei de perto. Foi por cerca de 1 ano e meio. Tempo em que ele, Jonas Artur Gomes, chamado nos meios policiais como Capeta, foi o chamariz do noticiário. Todo tipo de crime era atribuído a ele, de assassinatos a grandes roubos. Era apontado por policiais como "rei do Jardim São Marcos", bairro que na década de 1990 era extremamente castigado pelos homicídios.

E foi exatamente com um assassinato que fiquei diante de Capeta. A morte dele. Era difícil de acreditar que aquela figura com a qual convivi, mesmo à distância, que vivia no imaginário de tantos, estava ali, caído, em um corredor de quintal de casa localizada na Estrada da Rhodia, distrito de Barão Geraldo, Campinas. Um jovem magérrimo, cabelo curto e pintado, bermuda longa, camiseta, e uma submetralhadora ao lado. Poças de sangue eram notáveis, e se arrastavam conforme policiais e curiosos tentavam passar por lá. Pois é Capeta estava morto. Alguns comparsas foram presos nesta empreitada da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas.

Não me cansava de olhar para o cenário. Durante 1 ano e meio, até parecia que ele, Capeta, sabia quando eram meus plantões de final de semana. Eram neles que este jovem aparecia ou que, pelo menos, pessoas pensavam se tratar dele em alguns crimes. Em duas oportunidades, fui a locais onde ele atirara granada contra viatura da Polícia Militar (PM). Um destes casos na então recente Vila San Martim. Nenhum dos artefatos explodiu.

Também foi em um sábado, já meio de tarde, que surgira informação de um roubo e que havia perseguição a Capeta na região do Matão, em Sumaré, que faz limite com Campinas. Lá fui eu. Sirenes da PM, correria, muitas viaturas. E o carro do jornal logo atrás. Até, loucura, percorremos o acostamento pela contramão da Rodovia Anhanguera. A perseguição terminou quando o suposto Capeta entrou em uma empresa e, segundo policiais, pulou a cerca de trás e sumiu pelo bairro Jardim Aclimação, em Sumaré.

Foi em um domingo, em que ao passar por uma delegacia aberta 24 horas, o 4º DP, no Taquaral, soube de um duplo assassinato de irmãos, que tiveram um Escort roubado, perto de um pesqueiro e da estrada que liga Campinas a Pedreira. Também tive ciência de um roubo em motel, perto da Rodovia Dom Pedro, e onde três pessoas - duas mulheres e um rapaz - tinham sido sequestrados.

Poucas horas mais tarde, as histórias começam a se colar. Reféns do hotel foram encontrados assassinados e envoltos em cobertores na Estrada do Barreiro, em Sumaré. As vítimas: um arrumadeira do hotel e um casal de clientes (a mulher era professora do seu acompanhante). Houve então a ligação dos casos, pois o Escort roubado dos irmãos assassinados foi achado perto dos corpos. Cinco execuções que foram atribuídas ao bando do Capeta. A arrumadeira foi morta porque reconheceu um dos integrantes do bando.

Estes fatos foram em fevereiro de 1997. Um mês depois, em 18 de março, terça-feira, perto das 12h15, seria a vez de me defrontar com Capeta. O rapaz bandido que policiais apontavam como terror e que a mídia começou a mitificar, estava ele ali, naquele corredor de quintal, caído, ensanguentado, imóvel, com uma arma a seu lado, mas que não era a sua preferida. Ele tinha gosto por um fuzil AR-15, que naquela época era o mais falado dentre as armas modernas de grosso calibre.

Com passos lentos, passei ao lado do corpo de Capeta. Observei-o atentamente, como que querendo dizer algo, talvez algo como: por que você não foi preso pra eu poder te entrevistar. A repostas talvez seja: por que Capeta se mitificou. Caso desse alguma entrevista, a mídia poderia descobrir que era bandido, mas com menos características do que aquelas atribuídas a ele.

Como se não bastasse, dia seguinte, fui ao funeral no Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, nos Amarais.Cerca de 200 pessoas presentes, grande parte moças, que choravam sobre o caixão de Capeta. Tentaram colocar faixas e bandeiras, mas estas ações foram impedidas pela PM, como forma de evitar a idolatria a um acusado de crimes. Foi como se eu tivesse participado de uma obra literária, chamada Capeta, em que vi o personagem, nascer, crescer, morrer, e ser sepultado.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Terno, gravata, Bíblia e assalto

Para a prática de roubos, os bandidos são cheios de ideias. Não medem esforços mesmo. Ano de 2004, Jardim Londres, área Oeste de Campinas, Estado de São Paulo. Um homem com terno escuro, até gravata, e uma Bíblia na mão. Ele se aproximou de uma mulher, numa noite de domingo, quando ela se preparava para entrar no carro.

A mulher, ao pensar que o homem iria entregar algum panfleto, parou. Ele simplesmente abriu a Bíblia e tirou uma pistola. "Mãos para o alto. É um assalto", afirmou. A mulher, boquiaberta, ficou estática. O ladrão de terno apanhou a bolsa da vítima e correu. Desapareceu. Outros dois casos ocorreram em espaço de um mês. Após o período, não mais se ouviu falar do ladrão. Mas a Bíblia com espaço para a pistola foi achada por policiais e apreendida.

Desratizar sim; enganar, não

Era o ano de 1992. Fazia cobertura de Esportes. Mas experimentei, um pouquinho, do que seria minha vida profissional nos anos seguintes - com a Polícia. Eu cobria esporte amador. Certo dia passei diante da Liga Campineira de Futebol Amador e notei que estava fechada. A exatos dois dias de encerramento das inscrições para eleição. Situação, pelo menos, estranha.

Fui fuçar e descobri que o prédio havia sido fechado por causa de uma desratização. A partir daí, foram horas, praticamente 12 horas, para que eu conseguisse finalizar a reportagem. Ouvi declarações de quem era candidato da oposição e ainda não fizera a inscrição. Ouvi outros desportistas. Faltava o atual presidente da Liga.

Ele, político de carteirinha, não se deixava ser encontrado. Como não havia celular, restava-me ir até ele e usar telefone fixo para ouvir a explicação dele, de efetuar uma desratização em período tão importante para a Liga. Após várias horas, um assessor dele, jornalista, entendeu o meu recado: melhor o presidente falar do que publicar que ele não quis comentar o assunto. Ele falou e ampliou as inscrições.

Disseram que eu perderia o emprego, porque era homem-forte e que pediria "minha cabeça". Nada disto houve. Fiquei no emprego. O homem-forte perdeu a eleição e se passou a ocorrer transformação grande na Liga. Hoje penso: foi algo como a história de Davi e Golias. O gigante foi derrubado...

As fichinhas de orelhão e as corridas

Por vezes o tempo passa e a gente nem se dá conta direito de tantas transformações. Foi o que reparei nesta semana, mais precisamente na terça-feira (10/4/2012). Em uma rede social, vi as imagens de duas fichas telefônicas, daquelas usadas para ligações em orelhões - tanto nacionais quanto para o exterior. Foi quando um colega de profissão, pela rede social, lembrou-me de quantas fichas eu já não tinha usado para fazer coberturas policiais.

Pois é. Respondi a ele sobre a verdade que ele tinha escrito. Para juntar "provas", lembrei-lhe sobre rebeliões em penitenciárias de Hortolândia, ao lado de Campinas, S. Paulo. Quantos motins não cobri e em que  tive de correr do local onde havia a revolta para achar um orelhão e passar novidades para os chefes. Existia em Hortolândia um presídio chamado Casa de Detenção, que depois viria a se chamar Penitenciária 3 (P-3).

Pois é, em determinada data, motim em andamento, saí a correr da Casa de Detenção para o orelhão. Onde ele ficava. A cerca de 800 metros, na frente na P-2, outra unidade. Parece brincadeira, mas é real. Uma prova de meia distância - risos - de 800 metros. Só faltavam as barreiras oficiais para eu pular, pois os obstáculos existiam: policiais militares armados e que ao te ver correndo podiam pensar que você era um preso fugitivo, viaturas que formavam barreiras, agentes penitenciários espalhados pelos locais, colegas jornalistas.

Enfim, um batalhão que era preciso vencer. E não foi apenas uma vez que vivenciei isto. Atualmente os repórteres tês telefones celulares, laptops, tablets. Uma gama de instrumentos que ajudam no trabalho. Mas não se pode esquecer de tempos atrás, até o começo da primeira década dos anos 2000.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O garoto de muitas delegacias

Ele poderia ser chamado de Ligeirinho - aquele ratinho mexicano dos desenho do Pernalonga. Mas era Robertinho. Este garoto, em questão de pouco mais de um ano, foi parar em delegacias de Campinas por oito vezes. Em seis oportunidades, o mesmo delegado, Diez Júnior, foi quem o recebeu. Este garoto, morador de um bairro da periferia de Campinas, meteu-se em todo o tipo de confusão, de furtos até estar com um bandido que levava uma pessoa em sequestro-relâmpago e que se envolveu em troca de tiros com policiais militares.

Bem, o delegado o conhecia muito bem. Tinha em mente que, caso o garoto, então com cerca de 12 anos, continuasse naquela vida, não tardaria a morrer. "É uma questão social. Mas ele precisa de apoio para virar a vida", não se cansava de falar Diez Jr. Delegado novo de idade, mas com boa experiência em vários setores da Polícia Civil, ele sabia qual poderia ser o fim de Robertinho. E bem breve.

Em certa data, o garoto novamente foi pego por policiais com carro furtado. Ele ria por saber que nada aconteceria, que seria liberado para voltar às ruas. Mas exatamente nesta noite, o delegado conseguiu que o garoto ficasse em um abrigo, como forma de garantir a própria segurança dele. Robertinho aprontou mais outras. Porém não mais ouvi ou li relato em Boletins de Ocorrência (BOs) sobre ele. Talvez tenha se regenerado. Talvez mudado de cidade. Ou talvez ocorrido o pior. Lembram-se da história de Pixote, que vioru filme? É para se pensar em medidas sociais para evitar maiores problemas para a sociedade.

A perda de um ídolo e a profissão

Bem, esta história não é, efetivamente, sobre a profissão. Mas sobre como uma determinada data marcou um dia em minha vida de jornalista. Foi quando o cantor Renato Russo morreu. Lembro-me como se fosse hoje. Soube da notícia pelo rádio do carro da empresa em que trabalhava. Aliás, um dos dois únicos veículos que tinham o equipamento.

A notícia caiu como um avião sobre minha cabeça quando eu, fotógrafo e motorista chegávamos na cidade de Mogi Guaçu, a cerca de 1 hora de Campinas. A intenção era apurar a história de fuga na cadeia da cidade. Mas a partir do momento em que o carro estacionou e a notícia saiu pelo rádio, a fuga se tornou secundária naquele dia. Mesmo que fosse este o meu trabalho.

Pela minha cabeça passaram-se os vários anos em que enquanto estudante de Jornalismo ouvia a Legião Urbana. Aliás, recordei-me da primeira vez que ouvi as canções da banda, em um disco trazido por um colega que estudava na Unicamp, Jarbas, que era carioca. Em um almoço na república dele, em uma tarde, quase rachamos o disco de vinil de tanto tocar.

E alguns anos depois, vinha o luto. Nunca pensaria que a banda se perderia, acabaria. Nunca pensei na morte de Renato Russo. Quantas festas embaladas pelas canções eu tinha passado. Quantas madrugadas eu havia estado a ouvir as músicas mais românticas e a pensar em alguém que gostaria de estar mais próximo? Tantas vezes pulei e cantei nas festas "Fábrica" e "Quase sem Querer". Enfim, fiz a reportagem sobre a fuga, triste, mas fiz. Pois "não temos tempo a perder" na profissão.

domingo, 8 de abril de 2012

Dormiu no local do crime

Em uma determinada manhã, deparei-me com uma situação inusitada. Um rapaz chegava em uma delegacia de Campinas, levado por policiais militares. Ele havia sido flagrado dormindo quando invadiu um pequeno comércio para furtar mercadorias.

Ainda atordoado, o homem, de cerca de 20 anos, mal conseguia falar, tal a quantidade de bocejos que disparava. Nem bem sabia o que ocorria com ele. Após chegar na delegacia, pôde lavar o rosto. Então descobriu que estava preso. "Tô preso. Agora a coisa ficou feia", exclamou. Mesmo em situação ruim, ainda procurou uma negociata ao me ver.

"Tem jeito de arrumar um café. Depois eu posso dar entrevista". Assim foi feito. Tomou o café forte, coçou os olhos de novo e contou sua história.

A moradia de Xuxa em Campinas

Conhecida por Xuxa, ela viveu por vários anos, na seguda metada da década de 1990, praticamente a morar no 1º Distrito Policial (Botafogo) de Campinas. A mulher tinha cerca de 40 anos, magra, mas em virtude da vida nas ruas, aparentava mais. Passsava os dias a perambular pelas ruas da cidade. Já à noite, o endereço era certo: os bancos do 1º DP.

Xuxa chegava, com sua bolsa de roupas e alguns alimentos. Cumprimentava a todos. Era bem recebida. Para ela não tinha tempo ruim. Certo dia, logo pela manhã, passei pelo 1º DP e ainda a encontrei. Ela logo me relatou todos os casos mais importantes que tinham sido registrados na noite anterior. "Eu acho que o mais importante foi o roubo de uma loja", lembro-me, que contou naquela manhã.

Por vários anos a encontrava quase que diariamente. Até que em certa data, veio a not´´icia: Xuxa tinha morrido. Mas para sempre ficou guardada na mente de todos que a conheceram a gargalhada, que era sua marca registrada.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mortadela e sanduíches

Não conheço quem não goste de mortadela. Mas, em Campinas, bandidos ultrapassaram o limite da adoração. Em 3 de abril de 2012, simplesmente furtaram 2.800 quilos, que estavam em um caminhão, que também foi levado. A ação criminosa inusitada ocorreu no bairro São Bernardo.

Eis que, se pensarmos que um famoso sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo leva 500 gramas do frio, os bandidos poderiam montar 5.600 lanches iguais, para onde levaram a mercadoria furtada e avaliada em R$ 20 mil. É "sanduba" pra mais de metro, com certeza....

A camisa sagrada

Na década de 1960 um filme chamado "O Dólar Furado", história passada no Velho Oeste dos Estados Unidos, fez muito sucesso. Nele, um rapaz era salvo de um tiro por estar com uma moeda no bolso, bem no local em que o disparo acertou. Pois bem...

Estava no começo do ano de 1999. Mais precisamente primeira semana de fevereiro. Poucos dias após 340 quilos de cocaína terem sido furtados do Instituto Médico Legal (IML) de Campinas, Estado de S. Paulo. Após este crime, chefes da Polícia Civil decidiram que outras tantas drogas que havia no lugar não mais poderiam lá ficar. Foi determinada a retirada.

Eis que se montou um grande esquema de segurança para que a ordem fosse cumprida. Diversos repórteres na Rua Barão de Parnaíba, onde fica o IML, foram acompanhar a operação. Policiais muito armados. Começa a retirada. Mas em determinado momento, um fato fora dos planos. Um tiro. Saído de uma submetralhadora que um dos policiais portava. Barulho, susto, corre-corre.

Estava eu lá. Senti algo que incomodou meu pescoço, como se fosse uma linha de náilon de uma etiqueta. Olhei. Qual não foi minha surpresa ao encontrar no colarinho um pedaço de chumbo. Sim. A munição disparada bateu na grade do IML e se partiu. Um pedaço foi para cima de uma árvore. Outro acertou a frente de um hotel, do outro lado da rua.

A terceira parte? alojada no colarinho de minha camisa. Sorte ou destino? Acredito, ainda hoje, que foi obra divina. O disparo poderia me ter causado problemas na coluna vertebral. Mas nada aconteceu. E onde entra a história do dólar furado? Foi a camisa vermelha que me protegeu com sua etiqueta mais grossa. Havia ganho a camisa, no Natal de 1998, de um amigo, policial militar, que acompanhava fazia tempo em suas ações. Adib era um daqueles policiais incansáveis, boa índole, honesto e correto. Ele me havia presenteado com a camisa. E foi exatamente esta camisa, que considero ser sagrada, que me evitou ser ferido naquele fevereiro de 1999.

Depois desta data, sempre que olhava a camisa, lembrava-me do episódio. Até hoje o tenho forte em minha memória. Com a certeza de que a camisa "estava fechada", como que blindada por obra de Deus a pedido de Adib.

                                                           Em homenagem a Paulo Adib, grande homem

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Preso duas vezes em um dia

Lá pelos idos de 2010, a situação em Campinas havia melhorado em relação à violência do começo da década. Mesmo assim, os crimes ocorriam e não de forma corriqueira. Entretanto, houve uma situação inusitada: um ladrão acabou preso pelos policiais militares duas vezes no mesmo dia. Pois é: nem bem teve tempo de deixar a cadeia, já aprontava mais uma e era detido.

A história que parece insólita começou quando o bandido foi pego ao furtar em estabelecimento comercial. Ele foi agarrado e levado para a delegacia, autuado em flagrante e depois mandado para a cadeia em um sábado. Eis que o caso  dele foi parar no plantão judicial e o juiz entendeu que poderia determinar a soltura do homem, uma vez que o furto é considerado um crime mais brando.

Ele deixou a cadeia por volta das 9 horas e horas depois seria novamente flagrado ao cometer um delito. Desta segunda vez, não teve choro. Foi autuado na delegacia e depois parar na cadeia, para tomar café de canequinha.

Promoção ajuda na venda de drogas


A cada dia, uma surpresa. Policiais militares do 47º Batalhão prenderam homem que fazia 'promoção' de maconha no Jardim Lisa 1, região Oeste de Campinas, com venda de porções a R$ 2. Em outros locais o entorpecente, segundo diversas verificações de policiais, é comercializado a R$ 5. A abordagem foi na Rua Professor Doutor Ottílio Guerneli. O final da "liquidação" foi na noite de 1º de abril de 2012.

Além desta droga, o homem carregava 72 microtubos plásticos com cocaína 159 pedras de crack, vendidos a R$ 10 e R$ 5, respectivamente, conforme os policiais militares notaram após conversa com o suspeito de tráfico de drogas. Os PMs da Força Tática também encontraram R$ 61 com o acusado de 23 anos. Ele foi levado para a Central de Flagrantes e autuado por tráfico de entorpecentes. Também se descobriu que era fugitivo do Centro de Progressão Penitenciária 2 (CPP-2) de Bauru.