quarta-feira, 18 de abril de 2012

Elias, profeta da Polícia, repórter da vida

Elias, este era o cara. Dos maiores jornalistas policiais que conheci. Sem ter diploma, sem viver da profissão. Repórter da vida. Mas ele tinha, como o profeta da Bíblia, a voz de Deus a acompanhá-lo. Vou-me explicar então. Elias era dono de uma banca de jornais e revistas, na esquina da Rua Marechal Deodoro com Avenida Andrade Neves, bairro Botafogo, em Campinas, SP. Esta esquina era, sem sombra de dúvidas, como a mais movimentada da Polícia Civil da cidade. Conheci-o no comecinho dos anos 1990, salvo engano, agosto de 91.

A localização da banca era demasiadamente estratégica. Bem na esquina de onde ficam vários prédios da instituição, onde ficam os senhores que cuidam da Polícia Civil na cidade e região. Assim, com copinhos de café nas mãos, toda manhã era aquela rotina. Conforme chegavam os policiais, aglomeravam-se no comércio do Elias, talvez pudesse chamá-lo de "o profeta da Polícia".

Não que ele adivinhasse as coisas, mas por saber de tudo, sempre, sempre mesmo. Nenhum jornalista tinha esta categoria de saber tudo, com tanta nitidez, como Elias. Todas as manhãs, sua banca era minha parda obrigatória, é claro. Como ele tinha um sobrinho jornalista, gostava muito de mim, ainda mais por parecer um pouco com seu parente.

"Fica esperto porque chegaram uns caras algemados aí pelas 5h30. Fica de olho porque tem coisa", revelava ele, com toda propriedade. Era batata. Tinha mesmo. Até os casos que aconteciam quando ele ainda não tinha começado o serviço do dia, ele sabia. Por vezes, eu ficava na banca, enquanto ele ia na lanchonete da esquina tomar um café. Apesar de uma lesão em um dos pés (era torto), Elias se fazia suficiente até nisto. Ele mesmo queria ir à lanchonete.

Por vezes, fugia um pouco do papo Polícia e me dava dicas de novas coleções que chegavam. Ele guardava exemplares e eu acertava tudo mensalmente. Até quando a instituição teria mudanças na alta cúpula, Elias apontava um provável novo chefe. E, oras, acertava.

Certo dia, passei diante da banca. Estava fechada. Ninguém sabia ao certo o que tinha ocorrido. Era uma segunda-feira e eu não havia trabalhado no final de semana. Passaram-se alguns dias, já descoberto que Elias teve um problema gastrointestinal grave e estava internado. Até que veio a data trágica. O profeta morreu. Talvez tenha ido para contar mais umas histórias policiais a Deus. Um dia, quem sabe, terei o sabor de desfrutar de seu companheirismo de novo.

                                              em memória de Elias, um repórter policial natural

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