terça-feira, 29 de maio de 2012

O assassino clama se afastar do crack

Certa vez, diante de um homem, acusado em investigação policial de assassinato, tive que parar bastante tempo com ele. Isto porque quando estava no meio da entrevista, acabei por me ver a dar conselhos a ele. O homem falava sobre suas desventuras sobre o uso constante do crack, que apenas cometera o crime por causa da droga e que estava arrependido.

Por vezes é difícil saber sobre o arrependimento de uma pessoa. Mas desta vez, no Setor de Homicídios da Polícia Civil de Campinas, acreditei. Cri no que o homem me contava e em sua afirmativa de arrependimento a partir do momento em que se deixou gravar, em vídeo. Ele disse que desejava falar mesmo.

Questionei: "Já que você quer falar, que tal dar uma mensagem para que jovens não entrem neste túnel sem fim, que é o crack Que acha?". Após meditar, o homem me olhou: "Tudo bem. Não quero que mais gente fica perdida como eu. Vou falar".

Foi um dos depoimentos mais graves e emocionantes que presenciei em mais de duas décadas de trabalho no jornalismo. O homem chegou a chorar e a pedir perdão para toda a sociedade. Neste dia, saí do serviço com a impressão de que tinha sido correto, convencido de que eu ouvira a verdade da boca daquele homem.

Preguiçoso furta painel inteiro de ônibus

Ladrão que age durante o dia é ousado. Agora, para furtar todo o painel de um ônibus deve ser, além de ousado, preguiçoso. Foi isto que aconteceu em Campinas, em maio de 2012. O motorista e o cobrador de um coletivo saíram para almoçar e, no retorno, tiveram a surpresa: o painel do ônibus do Jardim Santa Terezinha tinha sumido.

Pois é. Para evitar o trabalho de desmontar o painel e depois o regorganizar de novo, os ladrões foram mais racionais: retiraram-no inteirinho. No painel havia instalados diversos "instrumentos" do ônibus, como velocímetro, odômetro, marcador de combustível, abre e fecha das portas, luzes de emergência, tacógrafo. Diante do fato, ocorrido na Rua João Costa, Jardim Santa Terezinha, restou aos funcionários da empresa ir ao 6º Distrito Policial (Campos Elíseos) para registro do caso.

Além de painel "integral" (risos) de ônibus, neste mês de maio pelo menos outro furto despertou a atenção de policiais. Dupla simplesmente entrou em empresa do Jardim do Lago, na madrugada, para se apossar de duas câmeras de segurança. Exatamente os dispositivos instalados para espantar os ladrões. Só que estes dois homens não deram sorte: foram presos em seguida por PMs do 35º Batalhão.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Traficante preso em 1º dia de serviço

Como ocorrem em todas as profissões, existem riscos a serem observados e bem pensados antes de se aceitar um serviço. Foi o que ocorreu com um rapaz, em Campinas, em maio de 2012, quando foi preso pela Guarda Municipal (GM), acusado de tráfico de drogas.

"Este é meu primeiro dia de serviço!" afirmou o rapaz, logo após ser cercado pelos guardas, que dele desconfiaram. Estava no Centro de Campinas, em uma área conhecida por Boca do Lixo, por concentrar lanchonetes e garotas de programas à disposição.

Efetivamente, era o primeiro dia em ele vendia drogas. Mas foi logo descoberto pelos guardas municipais, com sete pedras de crack, um comprimido azul para disfunção erétil e ainda R$ 19. "Comecei a vender porque estava sem emprego e precisava de dinheiro para minha família", tentou explicar o açougueiro desempregado de 18 anos. Mas existem leis. E ser traficante não é trabalho reconhecido no Brasil. Mas um crime. Pelo menos, por enquanto.

Adolescentes roubam e vão para igreja

Dois adolescentes não respeitaram sequer igreja e, após assalto, entraram em uma, num sábado à tarde. Os dois bandidos, de 15 e 16 anos, empunhavam revólver e roubaram telefone celular de um homem, na Vila Industrial, em Campinas.

Mas após o roubo e entrarem na igreja evangélica, a vítima foi para o mesmo local, a fim de pedir socorro. E eis qual não foi sua surpresa ao se deparar com um dos ladrões. Diante deste bandido, o homem cobrou dele o aparelho. Como resposta, obteve apenas um sorrido. Mas eis que na igreja havia um policial militar, que deteve o ladrão.

Sem chance de qualquer reação, o bandido mostrou onde havia escondido o revólver calibre 32; embaixo da escada da igreja. Assim, o policial chegou ao segundo assalttante, que estava do lado de fora do prédio, com o celular, mas sem chip. Assim, a dupla acabou mandada para a Fundação Casa - tipo de cadeia para adolescentes. Realmente, a ação de Deus foi imediata, sem chance de fuga para os adolescentes. Quem sabe entrem em uma igreja, em breve, para outro fim: orar...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O queijo e o tricô na delegacia

O dia a dia do profissional de imprensa é, em geral, bastante diversificado. Mesmo que ele seja um setorista, ou seja, aquele repórter que trabalha exclusivamente, ou quase, com um só assunto. Como por bastante tempo tenho as atribuições de seguir os  fatos policiais, ou de segurança pública (como começaram a denominar pra ficar mais bonito, acho), é lógico, que guardo muitas passagens.

Desta vez quero falar sobre algumas engraçadas e inusitadas. Duas delas, uma mais recente, maio de 2012, e outro com bom tempo. Mas ambas tiveram uma mesma personagem: uma colega policial civil, que, nas duas datas, estava em plantão e fez os atendimentos.

"Eu preciso fazer um Boletim de Ocorrência para depois ir no Procon, minha senhora", afirmou o homem, meia-idade, bem aparentado, logo após entrar em uma delegacia de Campinas. A policial, uma pessoa sempre de bem com a vida, questionou ao homem qual era o assunto, antes de iniciar o BO. É lógico, precisa-se saber o assunto, para caracterizar o registro.

"Pois bem, quero o BO mesmo. Sei que é fim de semana, mas na segunda-feira, com o documento da Polícia, já posso fazer minha queixa", explicava o homem. Diante da insistência, a policial civil novamente perguntou qual era o problema. "Comprei um queijo e vei um absorvente (daqueles femininos) junto", relatou o homem, constrangido.

Diante de tal afirmação, a policial questionou se a pessoa havia guardado alguma coisa desta compra inusitada. O homem disse que sim. E lhe mostrou o queijo com o tal absorvente. Qual não foi a surpresa da policial quando olhou nas mãos do homem; o queijo estava em uma bandeja de isopor e, com esta bandeja, uma daquelas embalagens brancas em papel mais fofo e com um plástico, exatamente usadas para evitar que o alimento estrague mais facilmente. Não se pode dizer que não pareça absorvente, mas... O difícil foi explicar isto para o homem...

Já em outra oportunidade, também em período de plantão, quando trabalham menos policiais, estava a intrépida funcionária da Polícia Civil a correr para dar conta do número grande de pessoas que ali estavam para prestar uma queixa. Uma delas era um senhorinha, baixa, magra, com olhar sereno.

Enquanto as pessoas se entreolhavam e por vezes reclamavam da demora, em virtude do pequeno número de funcionários, a mulher permanecia impassível. De uma coisa ela não tirava a atenção: de seu tricô. Era bastante hábil nesta arte.

Eis que já passada mais de uma hora, aproxima-se o momento da mulher idosa ser atendida. As pessoas próximas dela começar a lhe dizer para ficar preparada, para assim que for chamada, correr ao balcão e contar sua história. Finalmente ela foi chamada. Neste momento, olhou para a policial, e, com tranquilidade, falou: "a senhora pode esperar mais um pouquinho para me atender, porque faltam pouquinhos pontos para eu acabar o tricô que estou fazendo..." A policial, diante do pedido, ficou boquiaberta. E acatou o pedido. Chamou uma outra pessoa para ser atendida antes da idosa.

Ladrão é assaltado em Campinas

Um ladrão foi assaltado, em Campinas, e ficou sem o telefone celular que, minutos antes, tomara de um estudante de 16 anos. A história pode parecer insólita, mas está registrada na Polícia Civil da cidade desde a noite 21 de maio de 2012, e mostra que nem entre bandidos 'existe mais perdão'.

Este rouba e assalta aconteceu no Centro e o 'ladrão inicial' acabou preso por policiais militares, que o cercaram quando estava desolado pelo ataque de assaltantes, na esquina das Ruas General Osório e Regente Feijó, diante do Fórum Central.

Os policiais militares receberam a confissão do roubo do celular Motorola EX 128 por parte do ladrão, que também se tornou vítima. Ele reclamou de moradores de rua que o assaltaram. Foi levado para a Central de Flagrantes da Polícia Civil, autuado por roubo e mandado para a cadeia anexa à Delegacia do 2º Distrito Policial (São Bernardo).

Toda a história do celular Motorola começou às 21h15, quando o "primeiro ladrão", com uso de um objeto pontiagudo, que não foi encontrado, rendeu o estudante na esquina das Ruas Ernesto Kuhlmann e Bernardino de Campos.

O adolescente, após perder o aparelho, correu pela Avenida Francisco Glicério e, nervosos, pediu ajuda no posto da PM diante da Catedral. O estudante contou que andava, quando o bandido apareceu, pediu dinheiro e, em seguida, com o objeto pontiagudo por baixo da camiseta, enfiou a mão em um dos bolsos da calça da vítima e roubou o telefone celuar. Em seguida, o ladrão fugiu.

O estudante passou as características físicas do acusado, assim como relatou que o bandido usava camisa azul. O adolescente saiu com os policiais para procurar o ladrão. Foi quando o suspeito foi visto e detido.

Ao notar que era cercado e detido, o ladrão nem reagiu. Os policiais militares então, ouviram dele que também tinha sido vítima de roubo, logo após assaltar o estudante. Diante da situação, o rapaz foi autuado por acusação de roubo e mandado para a cadeia. Ele e o estudante ficaram sem o celular no final da história.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A morte do presidente e o blog

Na data em que consegui chegar - e até ultrapassar!! - os mil acessos no blog, 21 de maio de 2012, permito-me relembrar um momento de minha vida, quando engatinhava no jornalismo. Foi em uma noite de 21, mas de abril de 1985. A TV ligada, 22h30. A notícia pela voz do jornalista Antônio Brito: morte do presidente eleito Tancredo Neves. O homem, civil, que depois de 21 anos, mesmo de forma indireta, fora eleito para o cargo e não assumira. Um dia antes da posse, marcada para 15 de março, foi anunciada sua doença no intestino. A partir daí, foi um martírio, apenas encerrado na data de um personagem tido como mártir - Tiradentes.

Após o anúncio da morte, uma série de pensamentos permearam minha cabeça. O que poderia ocorrer? Eu, na época representante estudantil, lembrei-me de parte das décadas de 1960 e 1970, quando houve uma verdadeira caça às bruxas no país. Com a notícia da morte de Tancredo, uma de minhas primeiras medidas foi retirar da estante os livros que poderiam ser considerados "subversivos", caso ocorresse uma ação de algum grupo.

A noite e a madrugada foram de quase vigília. Era difícil entender como o país responderia a aquele fato. E, de fato, a incógnita causava uma insônia quase que premeditada, pois, eu, em momento algum nos últimos dias, acreditava que o político internado em São Paulo assumiria o cargo de presidente. Ele que fora primeiro-ministro do governo João Goulart, deposto em 1964, não seria o mandatário da nação.

Apesar de sabedor da morte e da decretação de luto oficial, na manhã  de 22 de abril, não me fiz de rogado a ficar deitado até tarde. Pulei da cama no horário que seria normal para ir à universidade. Porém, tomei rumo diferente. Troquei, inicialmente, o campus pelo centro de Campinas. Era uma manhã fria, mas com sol. Temperatura que considerava agradável. Lembro-me das ruas vazias. Pessoas procuravam as bancas de jornais.

Eu caminhava lento, a olhar os carros que passavam. As pessoas que passavam. O mundo que girava. Qual seria o futuro do país? Esta era a questão. Até que, em certo momento, reparei em um garoto, que passou ao meu lado. Ele assoviava a canção "Coração de Estudante", de Milton Nascimento, e que fora elevada ao patamar praticamente de um hino na campanha eleitoral. Neste instante consegui entender que, como aquele garoto, o país cresceria, mesmo sem aquela personagem perdida. Apesar de ter incurtido este pensamento, que se concretizou, algo ocorreu que jamais pensaria: poder contar esta história em um espaço denominado blog, que, hoje, tenho em mãos, e com que posso, de alguma forma, ajudar a sociedade a crescer, mediante reflexão.

domingo, 20 de maio de 2012

Nem câmeras de segurança são poupadas

Como se não bastassem as várias formas de ações dos ladrões, não se poupam nem mais os dispositivos de segurança. Pelo menos fato neste sentido pôde se ver notado, em maio de 2012, em Campinas. Por incrível que pareça, dois bandidos não semostraram de rogado e tomaram em mão, nada mais, nada menos, que as câmeras instaladas em uma firma.

Pois é. Os equipamentos que colocados em pontos estratégicos para defender o local dos ladrões, para gravar imagens ou mesmo dar um susto em quem pretende agir, foram os alvos da dupla. Para colocar as mãos em duas câmeras, não se preocuparam em escalar muro. E arrancaram as câmeras.

Mas não era a madrugada da dupla moradora de rua. Poucos minutos se passaram até que policiais militares vissem os homens e tomassem conhecimento do furto dos dispositivos. Um dos equipamentos foi achado com os suspeitos, que disseram ter achado em uma caçamba. Mas a história deles "não colou". Assim, ficaram presos e uma das câmeras foi recuperada. A outra, ninguém soube onde foi parar.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Jornalista no lugar certo e na hora correta

Por algumas vezes, o mundo parece que conspira a nosso favor. Isto pude comprovar em várias vezes no trabalho. Sabe aquela oportunidade em que você está no lugar certo, na hora certa? Pois é. No caso do jornalista, é quando você está em um local onde ocorre um fato, que poderá ser transformado em notícia.

Foram várias vezes em que o dia começava devagar, sem nada de importante. Mas. De repente... Parece que o mundo desabava. Eram aqueles dias em que tinha uma história em certo local da cidade. Mas de outro lado da cidade, mais um caso, ambos importantes.

E estava nos locais exatamente na hora em que ocorriam. Seja um flagrante de prisão de ladrão de carga, que entrava pela porta da delegacia, quando estava lá para olhar os Boletins de Ocorrência (BOs) da noite, seja quando passava por uma rua, percebia viaturas da Polícia que passavam e as seguia. E acabava em algum local de crime. Ou seja: em muitas oportunidades, o jornalista conta com a sorte, para ser um bom profissional.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Longos caminhos e conhecimento

Conhecer a cidade. Este foi um ganho que obtive ao ficar, por bastante
tempo, a cobrir reportagens policiais por Campinas e região. A
experiência adquirida até me levava a dizer que após me aposentar na
função, poderia exercer cargo de taxista ou caminhoneiro. E sem
precisar de GPS.

O conhecimento era tamanho que até os motoristas novos na empresa
eram, geralmente, recrutados para "fazer os DPs" - forma usada para
dizer que iriam circular a cidade com o repórter que cobria polícia. E
olha que, pelo tempo de serviço, por vezes conhecia melhor os caminhos
mesmo que os motoristas mais antigos da empresa.

Assim, para poder rodar tanto todos os dias era preciso, antes de
tudo, muita vontade. E ser meio aloprado... Pois cruzar a cidade de
Leste a Oeste não era nada tranquilo no serviço, ainda mais para fazer
isto todos os dias. De segunda a segunda, quando havia plantão de
final de semana. A vantagem: aprender a traçar rotas para chegar
rapidamente aos locais e também ter um olhar de o que seria
prioritário para determinado momento. Com certeza, uma baita escola...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Polícia sob um olhar diferente

Quando se fala em delegacias de Polícia, sempre se pensa em locais escuros, onde trabalham pessoas mal-humoradas e que poucas palavras. Mas esta é uma visão que não tem nada a ver com a realidade. Em vários anos de trabalho como repórter nos distritos policiais e nas ruas, descobri um mundo totalmente diferente deste.

Pessoas alegres, descontraídas, engraçadas, educadas, inteligentes. Como em qualquer gama de profissionais. Vejo, então, que os jornalistas ainda guardam um rancor muito grande em relação aos policiais. Pelo menos parte dos jornalistas. É como se ainda estivéssemos nos tempos de repressão e de embates.

Das pessoas que encontrei nas polícias civil e militar, além de guardas municipais, posso dizer que muito vi e descobri. Desde discussões acirradas sobre futebol, bate-papos sobre músicas, filmes, livros, transporte, política e brincadeiras. Vi de tudo. Como se não bastasse, nesta quarta-feira (16/05/2012) até um policial amigo a escutar música grega no DP.

Realmente situações diferenciadas, que apenas os que vão aos locais e os vivenciam é que podem traçar qualqueropinião acerca deles. Uma surpresa depois de outra. Situações que ficaram em minha memória, que muito me deixaram feliz e me esclareceram que não se pode "comprar imagem" de alguém ou de alguma profissão sem, no fundo, conviver com ela. Ainda bem!!!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Quando as máquinas de escrever caíram

Começo dos anos 1990 e uma revolução. As máquinas de escrever cederam lugar aos computadores. Fazia pouco mais de um ano em que estava na redação do jornal, de volta, quando, em um determinado dia, cheguei para o trabalho e ouvi: "Hoje haverá uma mudança".

Após esta frase, passei a trabalhar normalmente. Porém, notei que havia um corre-corre incomum na redação do jornal em Campinas. Em determinada hora, as máquinas de escrever começaram a ser retiradas. Rapidamente.

Máquinas diferentes colocadas no lugar. Eram os computadores. Desde meu primeiro contato com um jornal, para trabalhar, em 1985, jamais tinha visto tal mudança. Drástica. De hora para outra. Como uma avalanche.

Era como a cena do filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço". A cena em que os homens da caverna jogam um osso para o alto e, instantaneamente, aparece uma nave espacial. Pois era o que ocorria naquele dia. Os repórteres se entreolhavam. E temiam o que poderia ocorrer.

Até que uma das máquinas foi ligada. Monitor com fundo preto e letras em um verdinho. Era para funcionar no que, depois, saberia ser o MS-DOS. Pois é. Preto e verde. Assim era o monitor. Com relação a escrever, era como na máquina, como se pôde depreender rapidamente. Mas, com certeza, a mudança foi drástica. E o mundo continuou a girar...

sábado, 12 de maio de 2012

A prudência e as pessoas

Existem algumas situações em que é melhor ficar calado. Isto aprendi no dia a dia do trabalho. Eis que durante bastante tempo no serviço de campo, a coletar informações para as reportagens, notei que, por vezes, algumas pessoas com quem eu falava, referiam-se com críticas a outras.

Até aí nada mais normal, dentro da vida de cada um. Somente uma distinção. Ocorriam oportunidades em que as pessoas criticadas também eram minhas interlocutoras, fontes de informação e até mantinha laços de amizade mais próximo.

Assim, o que fazer quando ouvir falar de pessoa que você curte e respeita. E a pessoa que fala também é respeitada por você? Aprendi, de forma prática, como proceder. Ficar calado, ouvir e não emitir a opinião. Isto não é se esconder ou ser alienado. É uma forma de se poder manter com bons vínculos com todas as partes envolvidas. Mesmo porque as divergências não eram entre eu e a pessoa criticada, mas de quem eu ouvia naquele momento. Assim, melhor calar por vezes... É prudente e não faz mal.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Rael, adolescente que atirava sem dó

Era ainda adolescente. Mas com fama de mal. Assim foi a passagem de Israel, apelidado Rael, pela mídia de Campinas, durante o final dos anos 1990. Ele morava na região do Jardim São Marcos, mesma do já mencionado no blog, Capeta. Rael, muitos disseram, chegou a agir com Capeta em alguns planos.

Considerado "dedo mole" por policiais - aquela pessoa que atirar sem muito pensar, sem dó - Rael tinha cerca de 13 anos quando começou no mundo do crime. Mas foi ao 15 anos que, definitivamente, passou, inclusive, a empunhar uma pistola semiautomática calibre 9 milímetros - a arma que era "menina dos olhos" de todos, de policiais a bandidos.

Diversos roubos, assassinatos e confrontos ocorreram com participação do rapaz na região de Campinas. Alguns até diziam que era ele quem atirava com frequência nas ações do bando de Capeta. Seria um tipo de "escudeiro" do outro bandido.

Mas a história dele cedo terminou. Em determinado ataque, a um caminhão com carga em Minas Gerais, Rael tombou morto. aos 17 anos. Morreu antes de chegar à maioridade criminal.

Chuva e sapato sem amarrar: não dá certo

Por vezes, nosso dia a dia nos prega boas peças. Mas que muito nos ensinam. Esta foi para eu aprender. E diz respeito ao vestuário. Nunca fui adepto de sapato ou tênis que não fossem de amarrar ou pelo menos de serem presos por velcro. Mas em um determinado dia, ganhei um e decidi usá-lo.

Era lá pelos anos 1990. Um período em que eu começava a trabalhar por volta das 13h. Em determinada data, dia extremamente chuvoso, tive de sair às ruas para acompanhar o trabalho de bombeiros, que procuravam um garoto, que caíra em córrego de Campinas, perto do Parque Brasília.

Eis que depois de mais de 2 horas na região, houve informação de que, realmente, a criança tinha sido arrastada pela correnteza e levada para outro ponto. Eu precisava ir até lá. Assim, com um descuido, pés na enxurrada. E um dos sapatos começou a sair do pé.

A água o puxava e eu não sabia se defendia o sapato, se jogava o bloco de anotações na enxurrada. Em suma: santa confusão. Por sorte, consegui defender os dois. E fui, de carro, para o outro ponto onde bombeiros tinham achado o corpo da criança.

Após esta data, fiquei por mais de uma década sem usar sapatos que não fossem de amarrar com cardaços ou velcros. Até que ganhei outro par. Passei a usá-lo. Curti. Mas em dias de chuva não o uso. Aprendi a lição. Com certeza.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Codinomes "braço curto" no trabalho

Quando se trabalha no meio jornalístico, em muitas vezes ocorrem situações em que não se pode, ou pelo menos é melhor evitar, falar muita coisa de forma aberta. Para evitar algum problema, eu e uma fonte (informante) passamos a nos tratar por apelidos, ou, pensando de outra foram, por codinomes.

Como falávamos muito sobre as pessoas que trabalhavam pouco, que enganavam no serviço, e assim as chamávamos de braço curto. Para que não houvesse dúvida, a gente passou a se considerar, na brincadeira, "braço curto alfa" e braço curto "beta". Eu, repórter, que recebia a informação, era o "beta. E assim passamos a nos falar ao telefone. Desta forma, mesmo quando eu usava o telefone com número restrito, o "alfa" sabia que era eu, por dizer "braço curto beta" rapidamente.

Em determinada época de 2012, quando a fonte efetuou mais uma de suas grandes operações para prender bandidos, passei a me referir a ela como "braço longo". Pois foi uma prova de que tinha amplas condições de desenvolver grandes trabalhos.

Marley e o debate sobre crack

Em um dia com debate sobre drogas, especialmente o crack, na Cãmara de Campinas, a detenção de dois rapazes, horas antes, apenas demonstrava mais um episódio dos já tantos em que gente nova é presa pela Polícia com entorpecentes na cidade. No ano de 2012, a impressão é de que principalmente o crack tomou todas as ruas da cidade.

Durante o debate, ocorre um comentário sobre o uso de drogas e o músico Bob Marley. Houve alusão à situação de que os jovens precisavam deixar de pensar que o músico era "filosofia de vida". Houve muita conversa sobre isto após a reunião na Câmara.

Eis que, como um exemplo do que havia sido dito, no final de tarde, na redação, recebi informação, que dava conta de que dois rapazes, acusados de tráfico, estavam em moto e em um dos capacetes que usavam havia a estampa de uma caricatura do Bob Marley, seguida de inscrições como Jamaica, Haiti e Caribe. Foram apreendidos pelos policiais militares crack, cocaína e maconha. E o Bob Marley mais uma vez marcou espaço no debate sobre o tráfico de drogas.

terça-feira, 8 de maio de 2012

"Objetos do prazer" de bandidos

Durante vários anos de cobertura policial, um dos fatos que consegui depreender: de tempos em tempos, os ladrões mudam o "seu objeto do desejo". Assim como migram dos tipos de crimes, também alteram os "produtos" que mais visam. De televisores diferentes, como tela plano e atualmente de LEDs, até os games. Playstations nao saem de moda. Modelo 1, 2, 3. Sempre enchem os olhos dos bandidos.

Outro chamariz, no final dos anos 2000, foi o telefone celular, pela constante mudaça pelo que passam sempre, praticamente de dias em dias. Os ladrões passaram a invadir casas para se apoderarem de produtos pequenos, como os celulares, notebooks e videogames. Valem mais que joias, muitas vezes.

São fáceis de carregar e não precisam ser passados para frente, podem ficar nas mãos dos próprios bandidos. Pois é: "objetos do prazer" serão sempre mudados de tempos em tempos, para trauma de nós, cidadãos, que não temos muita escolha para fugir da ação dos "amigos do alheio".

Reflexão: celular e a preguiça

Telefone celular. Grande aliado do jornalista, mas, ao mesmo tempo, um inimigo. Pois bem, vou para minhas consideração acerca do uso deste aparelho que, desde o finalzinho dos anos 1990, vem a compor, obrigatoriamente, o dia a dia do jornalista. Antes dele, os informes que precisavam ser repassados para chefias em redações eram pelo telefone público, o conhecido "orelhão".

Mas com o advento do celular, muita, muita mesmo, coisa mudou. O aparelho era grande, passou a ser minúsculo e, nos anos 2008, voltou a crescer - smartphones. Apesar das mudanças, o celular jamais deixou a vida do jornalista. Ajuda na profissão. Sim. Pois você pode fazer contatos rápidos a todo instante.

Porém, sempre há um MAS. O aparelho, como já falei em uma entrevista para universitários, em minha opinião, transformou alguns colegas de profissão. Deixou-os "meio preguiçosos". Como assim? Em vez de os jornalistas irem aos locais onde ocorrem os fatos, por oportunidades limitam-se a telefonar e obter as informações. Mesmo quando o entrevistado é de alguma instituição e tem local de trabalho conhecido, não mais se usa o acesso pelo telefone fixo. Ou ir até ele. É o celular o caminho.

Vejo o aparelho com bons olhos. Mas também entendo que deveria ser o último recurso em relação a uma entrevista. E nunca o princípio; Tal qual a pauta. Não é o fim, mas o começo de tudo. Bem, é para se refletir...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sasquati e o respeito pelo repórter

Existem entrevistas e entrevistas. Reportagens e reportagens. Vejo que, até hoje, maio de 2012, após vários anos de trabalho jornalístico posso pontuar algumas entrevistas que considero "mais contundentes", sejam pelo caso que envolveram, seja pelas respostas do entrevistado, seja pela repercussão diante da sociedade e daí por diante. Para eu, como jornalista, as respostas obtidas com um homem, preso em 2003 e apontado pela Polícia como um dos "generais" do Primeiro Comando da Capital (PCC), foi que colocaram este personagem como dos principais com que já pude relatar uma história.

Começo de trabalho em 24 de outubro de 2003 - antevéspera de aniversário de 40 anos e sem estar de plantão no jornal. Logo de manhã vem a informação; Sasquati foi preso pela Delegacia Antissequestro de Campinas (Deas). Ele era um dos homens mais procurados no Estado de São Paulo. A detenção foi em Itapetininga, região de Sorocaba, e logo ele chegaria em Campinas.

Horas depois estava ele ali, Sasquati. Estatura mediana, magro, com cabelo despenteado e aspecto ainda assustado. Policiais civis que participaram da operação bem-sucedida davam informações, contavam sobre bastidores da ação, a primeira bomba de efeito moral atirada, o barulho, a invasão da casa e o domínio sobre o homem-alvo antes que ele pusesse as mãos em alguma arma. Ação sem nenhum tiro.

Conversa vai, conversa vem, e o homem preso fica a olhar todo um cenário de mídia ao seu redor. Não afeto às câmeras, procurava abaixar a cabeça. Respostas apenas uma ou outra, em tom baixo. Até que disse. "Não falo mais nada".

Esta afirmação foi como um raio sobre meu corpo, pois ainda queria saber mais sobre aquele homem. Então, aproximei-me mais dele e, com voz mansa e baixa, tal qual a dele, passei a fazer algumas perguntas, inserindo-o no cenário com outros homens considerados bandidos, como ele. "Você passou por presídios de Hortolândia. Ficou no mesmo que Bandoleiro (outro homem apontado como integrante de facção criminosa)?"

"Tua fuga foi naquela ação em que 12 homens saltaram muro, caíram perto da linha de tiro e conseguiram, como que dançando, espacar de forma fantástica dos disparos?" E tuas ligações são apenas com o PCC ou quando esteve perto de Sorocaba teve contato com o pessoal do TCC (Terceiro Comando da Capital)?"

Após estas perguntas, que foram respondidas "na boa", Sasquati ou Manoel Alves da Silva, na época com 31 anos, afirmou: "Você é gente boa, conhece bem o nosso meio e faz perguntas com respeito. Eu também te respeito e respondo mais o que você quiser".

Assustado com a afirmativa, continuei por mais alguns minutos a entrevista. E não me contive, antes de encerrar: "Por que Sasquati?" A resposta veio rápida: "Quando eu era criança, tinha os pés grandes, como aquel personagem de desenho. Aí o apelido pegou e ficou". Fato: com respeito, muito se consegue...

Vida estrangeira no Brasil

Quando ainda era estudante e vislumbrava o dia a dia em redações de jornal, deparei-me com uma situação inusitada: morar em uma república onde a maioria dos residentes não era de brasileiros. Pois é. 1984, começo de curso em  Campinas. Um amigo, de São Caetano do Sul, cidade onde estudara antes, estava em Campinas já fazia bom tempo, encontrou-me e fez convite para morar na casa dele.

Aceitei, pois niguém conhecia em Campinas. Eis que houve momento em que eu e meu amigo Júnior éramos minoria na república: dois contra quatro rapazes do Panamá. Sim, Panamá, não Paraná. Estudavam na Universidade Estadual de Campinas em diversos cursos. Procuravam ficar juntos, pois seria mias fácil a vida em outro país.

Apesar de ser minoria, o período foi fantástico. A troca de ideias por causa das culturas diferentes fez-me crescer muito. Muito mesmo! Trocávamos ideias sobre política, esportes, músicas. Enfim, sobre tudo, até mesmo expressões de palavrões. E como se não bastasse, poucos meses antes do final de 1984, eu fiquei como único brasileiro, pois meu amigo foi para outra casa. Assim, terminei o ano a conhecer o espanhol até que de forma legal. Ainda guardo alguns amigos de lá.


                                             in memória de Aquiles, que morou junto e já se foi

A altura que mete medo

Um dos meus maiores medos, se não o maior, é estar em lugares altos. A ponto de quando visito alguém que esteja em apartamento, procuro, de todas as formas, não chegar perto da varanda. Mas eis que, na profissão, existem momento em que a gente tem de se suplantar. E fazer o que integra o serviço, como forma de ser o mais profissional possível.

Assim foi com o receio com altura. Determinada manhã, ida para Piracicaba. O "Cadeião" estava a ferver. Rebelião de presos corria solta. Saí de Campinas e, cerca de 50 minutos depois, estava diante do prédio. Eis que a gritaria era intensa. Os presos ateavam fogo em colchões e cobertures. Atiravam comida em quem se aproximasse das celas.

Em determinado momento, queriam a imprensa para encerrar o motim. Mais uma vez a velha história: garantir que não sofreriam retaliações. Até este ponto, sem problemas, pois já tinha passado por situações semelhantes. Mas agora havia uma diferença. Em outros casos, entrei na ala da carceragem e perto das grades conversei com os presos. Mas agora a carceragem estava bloqueada.

Qual a única solução? Conversar com os presos pelo telhado, pela tela de arame que cobria o pátio de sol. Assim foi preciso fazer: subir uma escada longa e estreita. Chegar lá em cima e, para que tudo desse certo, ficar na parede que delimitava a cadeia. A uma altura de cerca de 5 metros. Espaço estreito para se apoiar. Ainda mais para olhar para baixo e fazer anotações, para demonstrar atenção com os homens ali encarcerados. E ventava um pouco. Ao descer deste local, estava suspergelado. Não por causa do vento. Adivinhe por que...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Andrezinho: primeiro caso seguido

Se a memória não falha - e olha que ainda está em perfeitas condições neste 2012 - um rapaz chamado nos meios policiais como Andrezinho foi o primeiro sobre quem escrevi e era tido como bandido. Começo dos anos 1990. Apontado como ladrão perigoso, ele era procurado por policiais de Campinas em todos os cantos, apesar de normalmente se esconder pelos lados da região Oeste da cidade.

Os policiais também apontavam alguns crimes de homicídio sobre ele. Fiz umas cinco ou seis histórias sobre o rapaz. Em determinado sábado, que não estava de plantão, liguei para o jornal para comentar sobre uma história e soube que Andrezinho havia caído morto em tiroteio. E depois de alguns meses a acompanhar a história dele, eu fiquei de fora da cobertura final do "capítulo" de Andrezinho.

Mesmo desta forma, na segunda-feira seguinte, fui eu, com alguns policiais, até uma pequena casa no Jardim Satélite Íris. Os policiais apontavam que era o esconderijo de Andrezinho. Várias coisas foram achadas no local, inclusive instrumento musical. Foi difícil chegar até a casa, já que ficava em um tipo de vale e era preciso caminhar bastante. Mas foi deste jeito que terminei minhas histórias sobre Andrezinho.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Grilo escapa em latão de lixo

Uma fuga espetacular. Foi isto que proporcionou para a imprensa de Campinas um dos nomes mais ligados pelos policiais ao tráfico de drogas na cidade até o começo dos anos 2000: o Grilo, morador da Vila Rica (VR). Ele, simplesmente, escapou  da Penitenciária do São Bernardo dentro de um tonel de lixo. Isto em um sábado pela manhã. Justamente meu plantão.

Para a fuga, ele tinha bom comportamento e por isto tinha chance de ajudar na coleta do lixo. Mas naquela manhã, resolveu "dar linha" (fugir). Ao se aproveitar do transportes dos latões com lixo para frente do presídio, Grilo entrou em um deles. A grande lata rolou pela frente da unidade prisional, localizada na Rua Alagoas, em trecho de descida.

Assim que o latão parou, Grilo saiu de dentro dele, correu e subiu na garupa de uma moto, que deixou o local em alta velocidade. Ele escapou sem olhar para trás. O preso que estava a colocar os latões para fora, ficou na mira da direção da penitenciária.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

"Vai tomar café de canequinha"

Repórter de rádio da antiga, Ari sempre corria as delegacias de Campinas com muita sede de notícia. Ele tinha extrema pressa, pois o rádio requeria notícias breves, com gravações e que fossem apuradas de forma detalhada. O rádio tinha uma importância tal qual a internet de alguns anos para cá (2012). Apesar da pressa, Ari usava voz mansa e tranquila.

Convencia quem não queria falar, a até gravar. Tirava o gravador da bolsa, colocava à frente da pessoa e obtinha o discurso necessário para "dar caldo" em sua reportagem. Já havia sido policial militar, contavam alguns policiais. Também fazia uso de um bordão, que se tornou famoso: "Vai tomar café de canequinha", afirmava, quando queria mostrar que um suspeito de crime tinha sido preso e mandado para a cadeia.

Mas os áureos tempos do rádio migraram para a internet. E, não somente Ari, mas outros porfissionais de imprensa da época, como Vanderlei Doná, "ficaram vencidos" com a revolução. Entre o começo dos anos 1990 e o final, os homens da imprensa pularam da máquina de escrever para o computador no Brasil.

Saltaram do uso de grandes gravadores para os digitais. Uma verdadeira revolução, que as empresas de comunicação puseram em andamento e atingiu, com certeza, todos os profissionais de imprensa. Assim, Ari ficou meio sem chão. E desestimulado após alguns problemas pessoais. Mas tenho convicção de ele ter usado a profissão para tentar ajudar a sociedade.


                                                                         em lembrança a Ari Costa

Fuga de casa por um beijo

Existem histórias, quando se trabalha no jornalismo, em que se chega a elas por um grande acaso. Esta que conto agora foi um destas. Lá pelos idos da primeira década dos anos 2000, um garoto de Hortolândia desapareceu. A mãe dele foi quem ligou para o jornal e me procurou. Isto porque, tempo antes, um menino da mesma cidade veio para Campinas, foi alvo de uma reportagem e acabou encontrado. Foi esta mãe ajudada antes que passou meu fone para outra mulher desesperada.

Os dados eram parcos. Nome do garoto, idade de 11 anos, a roupa que vestia e suas características físicas. Eis que no dia em que recebi a informação passei a ficar atento em alguma criança encontrada em Campinas, porventura. Mas eis que fiquei assustado, quando na TV, em uma emissora, via um garoto, que estava em cidade do Norte de Minas Gerais e dizia que vinha de São Paulo.

Olhei bem o menino e achei parecido com as características fornecidas pela mãe. A pessoa que abrigou o garoto mostrou as roupas com que ele chegou na casa dela. Eram parecidas com as descritas pela mãe desesperada. Era tarde da noite. Aguardei e, logo pela manhã, telefonei para a delegacia de Polícia Civil da cidade.

Conversei com policiais, que foram à casa onde o garoto estava, E, bingo!! Era o próprio sumido de Hortolândia. Por telefone da delegacia, havia poucos na cidade, conversei com ele, que relatou ter pego ônibus com dinheiro que a mãe guardava. Havia deixado a casa pois colegas de escola estavam a tirar "sarro" dele, pois diziam que havia beijado uma menina.

Diante da conversa com o garoto, a mãe foi avisada e parentes o buscaram em Minas Gerais. No retorno para Hortolândia, que fica ao lado de Campinas, ele contou que tinha medo do pai da menina e, depois que deixou sua casa, da mãe, de apanhar. Mas nada de ruim aconteceu. História com final feliz: garoto de volta para sua casa, família contente e a certeza, possivelmente na cabeça dele, que um beijo nenhum mal faz a ninguém. E acho, até hoje, que ele gostou...

terça-feira, 1 de maio de 2012

A exibição do filme proibido por Sarney

Esta oportunidade não é para relatar fatos do trabalho de jornalista, mas relembrar um fato que me ajudou, e muito, na formação profissional. Mais, com certeza, que uma pós-graduação ou qualquer curso em qualquer nível. Já atuava no jornalismo, porém ainda estudante, e cheio de "pegada", contestação, briga na veia e no coração.

A indignação se fez muito presente em 1986. Por causa da censura a um filme de Jean-Luc Godard - "Je vous salue Marie". Como se tratava de uma história atual para Jesus, onde Maria era uma jogadora de basquete e |José, um taxista, a Igreja Católica fez todo tido de pressão contra o governo do então presidente, José Sarney. Pois é, veja a história! Sarney mesmo.

Ele havia herdado a cadeira da Presidência de Tancredo Neves, morto um ano antes, após martírio de mais de um mês. Quem diria que o primeiro presidente pós-governos militares censuraria um filme. Ledo engano de quem pensou que ele não faria isto. Com toda a Igreja na pressão, Sarney impediu o lançamento do filme. Assim, a película se tornou um ponto de honra para a democracia. E foi aí que entrou o sangue jornalístico.

Com diversos colegas de curso foi decida a obtenção do filme para ser exibido. Como estava proibido, todas as cópias eram de má qualidade. Quem fosse pego com elas seria preso pela Polícia Federal. Assim, foi montada toda uma estratégia para que o plano desse certo. Coube a mim e um amigo a obtenção da fita. Ele trabalhava em aeroporto, o que facilitaria chegar à película.

Por cerca de 20 dias nos falávamos para que o filme pudesse ser exibido. Até codinomes assumimos, pois temíamos ser flagrados pelos agentes em ligações - e olha que não havia celulares. Com a certeza da fita, decidimos pelo local de exibição: o Diretório Acadêmico do curso de Comunicação Social da PUC de Campinas.. Por que? Pois se tratava de um "território livre" dentro da universidade ligada à Igreja. Conseguimos o videocassete. Mas faltou a TV.

Qual a solução? Eu pedir para o amigo com quem morava a TV da república. E assim foi feito. Na data marcada, colocamos a TV dentro do diretório, com a tela voltada para o pátio da lanchonete. Na  segunda sala do diretório ficamos com janelas abertas. Aproveitamos que do lado de fora, encostado na parede, havia um freezer desativado. Ele seria usado para esconder a fita.

Assim se fez: exibimos o filme, com uma imagem turva, mas mostramos e quebramos a censura. Logo ao final da fita, mesmo antes  do final dos créditos, arrancamos a fita do videocassete, corremos para a outra sala do diretório e jogamos a VHS dentro do freezer. Passado um tempo, quando todos tinham ido embora, retiramos a fita do freezer e saímos  com ela em uma mochila. Eu a levei embora.

Peguei carona e voltei para casa, também com o televisor. Ainda bem!, pois caso contrário eu e meus amigos Júnior e Wilson teríamos ficado sem TV por bom tempo. Fiquei com o filme por bastante tempo, até  que a então presidente do Diretório Acadêmico foi chamada na Polícia Federal. Ela quis a fita, mas não a entregou. Não sei o final que a deu para o filme. Mas de uma coisa tenho certeza absoluta: esta tomada de atitude na exibição do "Je vous salue Marie" me apontou que o jornalisrmo era meu destino, quer pela luta por liberdade, quer pelas ideias de cidadania, quer pela formulação de modos de burlar o prestabelecido e de criar maneiras para abordar os assuntos, quando entrei, definitivamente, no mercado de trabalho.

Estepe e tapetes levam 2 para cadeia

Quando a gente pensa que já viu de tudo, acaba por aparecer uma nova. Foi o que aconteceu na Rodovia dos Bandeirantes, em Campinas, no 30 de abril de 2012. Policiais rodoviários prenderam dois homens que, ao passar pela estrada e notarem um carro envolvido em acidente, pararam a fim de fazer "um rapa". Apanharam dois tapetes e um estepe de dentro de um Celta.

Eis que já tinham levado os tapetes para dentro da caminhonete deles, os homens deixaram o pneu escorado atrás de uma defensa de concreto do acostamento. Foi quando os rodoviários apareceram. A dupla, encharcada, ainda tentou despistar. Mas não houve jeito.

Os rodoviários acharam o estepe escondido e os tapetes na F-1000. Resultado: os dois homens presos por furto. O carro que foi alvo do ataque tinha capotado na rodovia algumas horas antes. O motorista, por sorte, sofrera ferimentos leves. Agora os ladrões não tiveram tanta sorte assim...