sábado, 22 de abril de 2017

De um bate-papo, a história do dia

Quando se está atrás  de histórias, por vezes o acaso é fundamental. Foi isto que ocorreu lá pelos idos  de 2010. À procura de um bom assunto para abordar, eis que me detenho diante um garoto, que se aproxima e pergunta se trabalho na  delegacia. De pronto, respondo que não. E engato a pergunta: "O que faz aqui, de que precisa?". O adolescente, então, olha-me de forma fixa. Olha para os lado. leva alguns segundos para vir com a resposta.

"Estou aqui pois fui numa festa. Quando saía de lá, fui assaltado. Agora não tenho como voltar para casa e não sei como explicar para meus pais. Não contei que saí de casa ontem para ir numa festa rave", relatou o garoto de 15 anos. Pensei profundamente e disse a ele que precisava registrar o roubo, principalmente se tivessem levado documentos dele. Também falei que o melhor era ligar para os pais e contar a verdade, pois, caso contrário, em outra ocasião, não mais lhe deixariam sair.

O garoto sorriu e, pausadamente, disse que era mesmo. Falei a ele que precisaria pegar uma senha para ser atendido. Assim, ainda toquei no assunto da festa. Perguntei onde tinha ocorrido e desde que horas no dia anterior. O adolescente me relatou. E daquele breve contato, enquanto aguardava o carro do jornal passar para me apanhar, consegui uma história, que se tornaria maior, a principal do dia, pois descobri que mais pessoas tinham sofrido assalto na saída da mesma festa.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Manhã de outono e violência: ainda não entendo o porquê

Era uma manhã de outono, segunda quinzena de maio do começo dos anos 2000, e o dia começou com céu claro e um ventinho que gelava as pontas das orelhas. E mais um dia de trabalho se desenhava. Antes mesmo de chegar na Redação, veio a informação sobre um assassinato na região do Jardim Satélite Íris, bairro da área Oeste de Campinas, distante cerca de 15 quilômetros do Centro da cidade. O carro me pegou na porta do 1º Distrito Policial, no Botafogo, e rumei para o local.

Ao chegar, viaturas da Polícia Militar, local isolado, no aguardo da perícia. A vítima, um rapaz, idade de 20 anos, com vários tiros, um deles, à queima-roupa, na cabeça. Dentre várias perguntas minhas, algumas sem respostas. Quando a equipe da Polícia Técnico-Científica chega, ao mesmo tempo vi pessoas que correram para o local, uma viela, perto de córrego, que corta a parte baixa da região. Eram parentes da vítima.

Pessoas que choravam e falavam da "má sorte" daquele rapaz, que desde bem cedo entrara para o mundo do crime. Enquanto os soluços tomavam tomavam conta do ambiente, a equipe da perícia revirava o local e o corpo. Foram constatadas 63 perfurações na vítima, conhecida por Japa. Um dos disparos, efetuado com espingarda calibre 12, abriu a cabeça do jovem, que ficou semelhante a uma melancia.

Eu nunca vira, até aquele momento, um disparo de 12 na cabeça. Nunca vira o estrago que fazia. Passei dias a questionar o porquê de tanta violência naquele local, naquele momento. Mesmo assim, fiquei por anos a fios a presenciar cenas violentas. E, até hoje, sem entender o motivo delas. Apenas com uma certeza: o homem é o único animal que mata por maldade.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Onde as ruas não têm nomes

Já vivenciava fazia um bom tempo as coberturas policiais em Campinas. Conhecia de forma legal os bairros dos quatro cantos da cidade a tal ponto de quando chegava um motorista novo na empresa, ele era designado para "fazer a ronda" comigo. Pois eu poderia dar uns toques por conhecer vários caminhos. E não somente em Campinas, mas cidades próximas, como Hortolândia, Sumaré e Monte Mor.

Mas eis que a partir da segunda metade dos anos 1990 Campinas passa a ter um novo desenho. Surgem muitas comunidades, chamadas invasões ou ocupações (como a mídia preferia). Com estes pontos mais recentes, a vida no dia a dia das ruas também foi modificado. Assim, já ocorriam crimes que eram em áreas antes inabitáveis.

Desta forma, houve uma drástica alteração no dia a dia. Casos aconteciam em locais que nomes, por vezes, que eram os mesmos de bairros já existentes, só que de outro lado da cidade. Foi quando se começou a rodar mais e mais, mesmo por não ter GPS naquele tempo. Campituba, Parque Oziel, Jardim Santo Antônio, Eldorado dos Carajás, DIC 5 de Março.... E mais e mais locais. Com o passar do tempo, descobri serem invasões "onde as ruas não tinham nomes" - lembrando uma música do grupo U2.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Histórias são histórias, nunca sejam desprezadas

Para quem gosta de apurar histórias, não há enredo mais importante que o outro. Não há bola perdida, como se fala no futebol. Para o repórter que batalha diariamente, por anos, todas as histórias são importantes, todas precisam ser bem apuradas e escritas, pois o leitor sempre, sempre merece o melhor, com esmero e fidelidade aos fatos. Daí ir para cada apuração, como frequentemente digo, para cima dos fatos como quem ataca um prato de comida.

E foi exatamente uma história que nasceu pequena, acanhada, que mais me trouxe comentários em minha vida profissional. Um garoto, que sumiu de casa, por causa de um beijo, disparado em uma amiga de escola, foi a personagem. Sumido, sua mãe procurou a Polícia. Dentre tantos Boletins de Ocorrência (BOs) que eu via, diariamente, reparei neste desaparecimento. E fui atrás. Descobri endereço da família, fiz as entrevistas, obtive fotos, que foram reproduzidas e publicadas em um jornal diário de Campinas.

Eis que poucas horas depois de o jornal estar em circulação, uma pessoa viu a criança, então com uns 10 anos, confrontou o semblante dela com o da foto publicada, acionou policiais militares, que, com a altivez e a responsabilidade de sempre, chegaram até o garoto. A mãe do menino foi avisada e o reencontrou. Ela ligou-me para agradecer. Anos depois, quando fui à cidade da regiáo onde a família morava, para uma cobertura jornalística, a mãe do garoto me encontrou pessoalmente. E por caso.

Ela trabalhava no local onde fui e percebeu quando me apresentei pelo nome aos policiais que ali estavam. A mulher se aproximou e me abraçou para, mais uma vez, agradecer por ter ajudado a encontrar seu filho, que agora já tinha 18 anos. Então reparei, de novo, o quão importante era dar atenção a todos os fatos.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Boa vida, comerciante usa avó para golpes em hotéis

Para um boa vida, tudo vale para se ter bons momentos. E, neste aspecto, um homem, pequeno comerciante, mostrou, em Campinas, como viver de forma tranquila e no bem bom e melhor, nos últimos meses de 2016. Como forma de poder ficar em hotéis renomados e confortáveis, recrutou a própria avó, para, com ele e a mãe, aplicar golpes na cidade. A ousadia teve um limite, com ação  de policiais civis do 1º Distrito Policial (Botafogo), que, após receberem denúncia, acharam o homem e sua comitiva - avó e mãe, em um hotel da área central de Campinas. Detido, ele foi acusado de estelionato e acabou indiciado.

A história parece até banal, mas tem ares pra lá de ousados. Além de usar a avó, de 86 anos, para blindar seus golpes, pois alegava que a senhorinha estava doente e dependia de cirurgia imediata, razão pela qual precisava passar dias em Campinas, o comerciante ficou com 15 dias no hotel onde  foi flagrado, porém já tinha permanecido um mês em outro, no bairro Botafogo, onde é um flat. E neste, ainda ousou mais ainda, pois instalou sua empresa falsa no endereço do próprio hotel e a usou para conseguir se hospedar, sem que a traquinagem fosse descoberta.

Desta forma, o homem ficou por 45 dias em Campinas, após chegar de Fortaleza, no Ceará, de onde alegou ter saído. "pois as coisas estavam muito difíceis. De verdade na história do comerciante apresentada na rede hoteleira, seu nome e a idade da avó, que era carregada por ele, de um lado para outro, com um andador, para dar um ar de situação drástica na elaboração do golpe de estelionato. No 1º Distrito Policial, o comerciante e suas parentes prestaram depoimentos, Ele ficou para responder à acusação em liberdade.