quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Por um triz

Um colega de jornal, certo dia, teve uma missão: ir ao Jardim Itatinga, em Campinas (SP), bairro conhecido como a "zona da cidade". Fotografou o ambiente, pessoas nas ruas, garotas de programas, clientes, e carros. Foi um placa de carro que, mais tarde, geraria uma confusão.

Tempos mais tarde, o colega fotógrafo parou em um bar. Sentou-se a seu lado um homem, amargurado. Ele pediu uma cerveja e ofereceu ao fotógrafo, que não sabia a profissão. Perguntou: "Você trabalha onde?" Meu colega respondeu o nome da empresa. O desconhecido logo disparou: "É deste jornal que tem um fotógrafo que acabou com meu casamento. Tirou foto de meu carro na zona. Você trabalha em que área do jornal?"

Meu colega respondeu que era no Administrativo, ainda mais eloquente depois de o homem citar o nome dele como autor da foto. Final feliz: meu colega terminou a cerveja e se mandou o mais rápido possível do bar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Desacordo comercial em Campinas

Após alguns dias, de sumiço, retorno. Um caso diferente, na década de 2000, em Campinas. Um problema entre um travesti e um "cliente" se transformou em um desacordo comercial. Vejamos: policiais militares passaram perto do Bosque dos Jequitibás, lugar muito visitado durante os dias na cidade, e notaram uma discussão entre um travesti e um analista de sistemas.

Os dois se atracavam. Os PMs pararam, informaram-se sobre a discussão e levaram os envolvidos para o 1º Distrito Policial. No DP, ao serem indagados pelo delegado Oswaldo Diez Júnior, já cansado no plantão desde 18 horas da sexta-feira, na madrugada do sábado, apresentam situações diferentes para o mesmo caso. O analista disse que o travesti invadiu o carro dele e tentou roubo. Já a outra parte envolvida falou que se havia  combinado um programa.

Houve o programa, porém o cliente se recusou a acertar. E então começou a discussão, o bate-boca. Em determinado momento, o travesti abre sua bolsa e dela tira algo. O que? Uma camisinha usada. E explica a Diez Jr. : esta é a prova do crime!. Após tudo isto, os envolvidos foram para casa.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sem planejamento, roubo pela metade

A falta de planejamento implica em situações que não dão muito certo. Mesmo no crime. Três bandidos roubaram parte de uma carga de mercadorias compradas pela internet, em ataque desferido em Campinas. Levaram oito produtos e largaram 20, possivelmente porque apenas tinham um Chevette para a fuga e todas as mercadorias não caberiam no carro. Foi um 'meio assalto'.

Os ladrões armados desceram do Chevette e renderam o motorista, de 54 anos, de um Fiat Fiorino, onde estavam os produtos. A abordagem foi na Rua Aurélio Martins, no Jardim Estoril. O veículo foi levado por um dos assaltantes. Os comparsas fizeram a cobertura. O Fiorino, de placas LUH-2259-Osasco, foi encontrado na Rua Ademar Cardoso, horas depois. Estava com o baú aberto e mercadorias no interior dele e também no chão.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Pequeno Polegar furta carro em Campinas


A ousadia é a arma do negócio. Esta afirmativa foi constatada, na prática, em Campinas, na primeira década dos anos 2000. Três garotos, com idades entre 12 e 14 anos, furtaram um carro, uma Brasília. Para a fuga, o de 12 anos, mais novo e mirradinho, afirmou: “Se vocês têm medo de guiar, eu faço isto”. O problema era a altura dele. Era um "pequeno polegar". Mesmo assim, com muita imaginação, não desistiu do crime.

Fez os dois minicomparsas apanharem um paralelepípedo e o colocarem no assoalho do carro, pois o banco do veículo ficava alto para ele. Feito isto, saiu acelerando baixo. Por várias ruas de bairros de Campinas, até ocorrer a abordagem de policiais militares.

Mas na cabeça dos PMs ficou um mistério: da viatura, eles não enxergavam o pequeno motorista. Assim, parecia que o carro andava sozinho. Após descerem da viatura, os policiais verificaram aquele pequeno garoto, sentado no paralelepípedo para que seus pés alcançassem os pedais do carro. O trio foi então detido e depois entregue a parentes, pois o crime era de furto e não considerado tão grave.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Advogado defende dupla e é roubado

Todas as profissões têm seus momentos de glória e mais penosos. Mas a gente sempre espera o melhor, é claro. Campinas, Estado de São Paulo, uma madrugada da primeira década do século 21. Dois homens são presos pela Polícia Militar; um deles está armado. Os dois, que confirmam ser amigos, são levados para o 1º Distrito Policial, no bairro Botafogo.

Apresentados ao delegado de plantão, veem que serão autuados por porte ilegal de arma. Como de praxe, são informados que se querem que alguém seja avisado, como parente e advogado. Eles não têm defensor, mas logo aparece um. Daqueles advogados que rondam delegacias e estão sempre à procura in loco de clientes.

Os homens aceitam que ele os defenda, mas existe um problema: não estão com dinheiro para pagar a fiança e o trabalho a ser exercido por aquele profissional. Aí vem a solução: o advogado e os dois acusados resolvem se ajudar: o advogado paga a fiança e os homens vão até a casa de um deles para apanhar dinheiro e efetuar o pagamento para o defensor.

O advogado paga, então, a fiança estipulada e os homens são colocados em liberdade. Na escadaria do 1º DP, outro obste: moravam longe e perguntaram se o advogado os poderia levar, para adiantar o negócio. Como já tinha desembolsado um dinheiro, o defensor colocar os clientes em seu carro a fim de buscar o pagamento pela fiança e por seu serviço.

Pouco tempo depois, surge o advogado na delegacia para dar queixa de um crime. Seu carro tinha sido roubado. Quem o assaltara? Os homens que naquela madrugada havia defendido. O advogado ficou sem o dinheiro da fiança, sem o pagamento pelo serviço e recuperou o carro, mas com danos. Foi uma madrugada que este advogado, com certeza, ainda quer tirar de sua memória...

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pulo de cerca descoberto na delegacia

Lá por 2005, antes de a Lei do Desarmamento passar a vigorar, uma história diferente. Um homem foi preso com arma irregular. Ele estava em casa da região do Jardim Ouro Verde, em Campinas. Os policiais militares o detiveram com o revólver. A moça que o acompanhava chorou muito ao vê-lo ir para a delegacia. Era perto da casa.

Ao chegar no 9º Distrito Policial, foi autuado e o delegado determinou fiança para que o homem ficasse em liberdade até a decisão final da Justiça. Eis que a moça na qual ele estava foi para a delegacia e desatou a chorar, pois não tinha este dinheiro e ele ficaria preso. Pensaram os policiais: "Ela ficará sem o marido ou namorado".

Eis que em determinado momento entra pela pequena porta do DP uma mulher. Ela pergunta: "Meu marido está preso aqui?". Um policial respondeu: "Tem um preso, mas a mulher dele está ali naquele canto já faz tempo". A recém-chegada questiona o policial. "Quem está aqui é fulano de tal?". O investigador responde: "Sim, mas a moça do canto é que está com ele".

Então veio a descoberta: o homem quando foi preso estava na casa da amante. Resultado final da história? A mulher dele mesmo pagou a fiança e foi embora com ele. A "outra" ainda recebeu um sinal com a cabeça de que alguma hora o homem a procuraria. Final feliz.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um grito, uma olhada, talvez a salvação

Penúltimo dia do ano. Possivelmente 1993. Todo mundo somente a pensar na folga, pois eu havia trabalhado no Natal. Dia quente. A manhã começa e já são três histórias policiais que despertaram atenção; uma delas em potencial: uma garotinha, de mais ou menos 8 anos, havia ganho uma bicicleta no Natal e logo em seguida desaparecido.

O caso chegou aos policiais civis e militares. Equipe do Setor de Homicídios se entregou à apuração. A direção apontava para o pior: assassinato. Neste dia, isto se confirmou. Fui acompanhar os policiais desde a prisão do suspeito até onde ele dizia ter enterrado o corpo: perto de linha férrea, no bairro Matão, limite de Campinas e Sumaré.

Fato se confirmou, espera-se perícia no meio do mato e com o calor danado. Para voltar, uma trilha, pois carros não chegavam. O homem é levado para a delegacia. Eu penso nesta história e em outras duas que já tinha apurado, mas precisava escrever. Porém era preciso acompanhar aquele acusado de matar a menina e ainda com agravante de suspeita de violência sexual.

Na Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas (SP), o homem é levado para o segundo andar e fica trancafiado com policiais. Após bom tempo, entro na sala - como conhecia os policiais, tive certa dose de camaradagem para entrar antes dos demais colegas de imprensa.

Olhei muito para aquele homem, que apenas ficava de cabeça baixa, sentado. Quando eu procurava conversar, ele balbuciava palavras, que eu aproveitava. Mas antes de "tirar todo o serviço", outros colegas de imprensa entraram na sala; microfones e câmeras na frente daquele homem, que se calou por completo.

Nada mais falaria. Não desisti. Aproximei-me, agachei-me e lhe disse que era uma chance de ele se defender, pelo menos de negar o crime sexual - que na cadeia não é aceito mesmo, ainda mais com criança. Em determinado momento, o homem levanta a cabeça, nega o estupro, mas grita "Eu não mereço viver, não mereço não!!".

Corre em direção a uma das grandes janelas. Eu, mais de que depressa, também grito, com tom de implorar: "Não, não faça isto, não pule, uma quarta pauta (história) para hoje não aguento não". Um monte de policiais pulou sobre o acusado e o tirou de perto da janela. Após isto, muito riso: eu havia gritado para ele não se matar, pois pensei em minha situação. Pois a história ficaria ainda mais intrincada a ser relatada no jornal, levaria mais tempo e eu longe de minha folga.

Depois ouvi de colegas de mídia e policiais: "Você pode ter salvo este homem; ao gritar, ele perdeu segundos para te olhar e houve tempo de ser agarrado". É, talvez eu tenha mesmo evitado um mal maior para aquele homem, pois a lei já lhe seria aplicada com a prisão.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Preso Margarina: certeza para fuga

Lá pela segunda metade dos anos 1990 havia três cadeias junto a delegacias da cidade de Campinas (SP). Verdadeiros depósitos de presos, uma vez que sempre a capacidade era muito estourada. Onde devia ter 24, ficavam 200. E daí por diante. Assim, rotina era ter planos de fuga. Até se dizia que fugir "era um direito do preso".

 Em certa ocasião, na cadeia do 5ºDP (Jardim Amazonas), uma fuga deu certo, mas pela metade. Mas o que deu errado? Calcularam mal o buraco da cela para dar acesso à área externa e um dos presos, "mais gordinho", ficou entalado na "televisão" - como os presos chamavam os buracos feitos nas paredes.

Com o acontecimento inesperado, que saiu primeiro, fugiu; quem ficou para depois do "fofinho", dançou. Após este "entalamento", nos planos de fuga os presos adotaram a tática de se passar margarina nos corpos para evitar que alguém ficasse enroscado nos buracos. E mais: os gordinhos, se não eram chefes, ficavam por último.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Quando virei "Cobrinha"

Anos 1990. Eu já atuava no jornalismo. Mas de uma hora para outra, em 1992, passaram-me para a cobertura policial. À época, este setor não era bem considerado dentro do jornalismo e, por vezes, tido como um "refugo". Passei a correr delegacias de Campinas, ter contato com policiais civis e militares de várias cidades. Mas já existiam repórteres policiais mais velhos. Um deles era uma lenda viva: Doná.

Ela já trabalhara por anos em jornal impresso e rádio. Na oportunidade, fazia rádio. Conhecia todos os policiais, todos os caminhos. Chegava nas delegacias e chegava a se apropriar de Boletins de Ocorrência (BOs) para ganhar tempo.

Ele sempre foi muito bom com o gravador e suas fontes. Mas um dia surgiu o celular. E ele não se adequou. Eu, por outro lado, procurei juntar uma graninha e comprei um. Foi o pulo do gato. Eu sempre ficava a olhar os BOs ao lado de Doná e, por vezes, ele dizia que não tinha nenhuma história, para ficar sozinho com informações. Vontade do "furo" que ainda acalentava.

Meu apelido sempre foi Gandhi. Mas Doná me rebatizou: "Cobrinha". Por quê? Pois com o celular, comecei a formar um grupo de fontes e de receber informações pelo aparelho. Os policiais também mudavam. Assim, quando folheava os BOs e caía uma ligação, largava tudo e me mandava. Doná questionava: "Desistiu hoje?". Eu respondia: "Não, acho que volto mais tarde".

Mas na real, da mesma forma que ele sumia com os BOs, eu corria para as histórias com os dados passados pelo celular. Um dia, entro em uma delegacia e um policial me olha e diz: "bom-dia Cobrinha". Espantado, achei estranho.

O policial explicou que Doná tinha passado por lá e se referido a mim como "Cobrinha", pois dava um banho nele várias vezes, quando corria da delegacia, após atender um telefonema. Era "Cobrinha" por ser rápido e, ao mesmo tempo, na avaliação dele, um puxador do tapete. Eu tinha aprendido a dar uns golpinhos para ter algumas histórias em primeira mão. Ainda mais em cima da lenda viva.

Anos depois, já bem abatido pela doença, Doná ainda percorria com bastante dificuldade as delegacias para continuar no trabalho. Por vezes me falava "Cobrinha, o que tá escrito que não enxergo direito". Eu lembrava de toda a história e até anotava dados para ele. E ele continuou a me chamar de "Cobrinha". Foi um professor, com a diferença que ele fez parte do rol de repórteres em que o atual "politicamente correto" (que por vezes provoca uma autocensura) não existia. Isto era um complicador, pois temos que ter o equilíbrio. Mesmo assim, Doná foi o cara.
                                                                       
                                                                           (em memória a Vanderley Doná)