segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sasquati e o respeito pelo repórter

Existem entrevistas e entrevistas. Reportagens e reportagens. Vejo que, até hoje, maio de 2012, após vários anos de trabalho jornalístico posso pontuar algumas entrevistas que considero "mais contundentes", sejam pelo caso que envolveram, seja pelas respostas do entrevistado, seja pela repercussão diante da sociedade e daí por diante. Para eu, como jornalista, as respostas obtidas com um homem, preso em 2003 e apontado pela Polícia como um dos "generais" do Primeiro Comando da Capital (PCC), foi que colocaram este personagem como dos principais com que já pude relatar uma história.

Começo de trabalho em 24 de outubro de 2003 - antevéspera de aniversário de 40 anos e sem estar de plantão no jornal. Logo de manhã vem a informação; Sasquati foi preso pela Delegacia Antissequestro de Campinas (Deas). Ele era um dos homens mais procurados no Estado de São Paulo. A detenção foi em Itapetininga, região de Sorocaba, e logo ele chegaria em Campinas.

Horas depois estava ele ali, Sasquati. Estatura mediana, magro, com cabelo despenteado e aspecto ainda assustado. Policiais civis que participaram da operação bem-sucedida davam informações, contavam sobre bastidores da ação, a primeira bomba de efeito moral atirada, o barulho, a invasão da casa e o domínio sobre o homem-alvo antes que ele pusesse as mãos em alguma arma. Ação sem nenhum tiro.

Conversa vai, conversa vem, e o homem preso fica a olhar todo um cenário de mídia ao seu redor. Não afeto às câmeras, procurava abaixar a cabeça. Respostas apenas uma ou outra, em tom baixo. Até que disse. "Não falo mais nada".

Esta afirmação foi como um raio sobre meu corpo, pois ainda queria saber mais sobre aquele homem. Então, aproximei-me mais dele e, com voz mansa e baixa, tal qual a dele, passei a fazer algumas perguntas, inserindo-o no cenário com outros homens considerados bandidos, como ele. "Você passou por presídios de Hortolândia. Ficou no mesmo que Bandoleiro (outro homem apontado como integrante de facção criminosa)?"

"Tua fuga foi naquela ação em que 12 homens saltaram muro, caíram perto da linha de tiro e conseguiram, como que dançando, espacar de forma fantástica dos disparos?" E tuas ligações são apenas com o PCC ou quando esteve perto de Sorocaba teve contato com o pessoal do TCC (Terceiro Comando da Capital)?"

Após estas perguntas, que foram respondidas "na boa", Sasquati ou Manoel Alves da Silva, na época com 31 anos, afirmou: "Você é gente boa, conhece bem o nosso meio e faz perguntas com respeito. Eu também te respeito e respondo mais o que você quiser".

Assustado com a afirmativa, continuei por mais alguns minutos a entrevista. E não me contive, antes de encerrar: "Por que Sasquati?" A resposta veio rápida: "Quando eu era criança, tinha os pés grandes, como aquel personagem de desenho. Aí o apelido pegou e ficou". Fato: com respeito, muito se consegue...

Nenhum comentário:

Postar um comentário