quarta-feira, 20 de junho de 2012

Nika, a mulher sem rosto

Crime sempre choca e é cruel, idependente de quem seja a vítima ou a forma como é praticado. Discordo da expressão de algumas pessoas, quando falam ou escrevem "assassinato violento" ou "crime com requintes de crueldade". Esta característica de como encarar estas situações é que, em anos de tralhalho na apuração de assuntos policiais, o assassinato de uma moça, simplesmente identificada como Nika, fez-me jamais esquecer o crime.

Embora ocorrido nos anos 2000, ainda permanece bem claro, em minha mente, a forma como a moça, possivelmente usuária de drogas, foi morta. O corpo foi encontrado jogado em terreno baldio da Avenida Carlos Lacerda, na região do Campos Elíseos, em Campinas. Muita magra, a moça, branca, apresentava diversas lesões pelo corpo.

Mas o que mais despertou a atenção foi a forma como estava seu rosto. Quem praticou o crime, praticamente fez um trabalho de cirurgião, pois toda a pele do rosto de Nika foi retirada, como que a usar um bisturi. Ela se transformou na "mulher sem rosto". Ficou apenas parte do cabelo na nuca. Dos olhos, apenas se notava existirem por causa dos buracos profundos, onde ficavam antes de o corpo perder sua pele. Os olhos podem ter sido comidos por animais, como cães.

Os cortes feitos para a retirada da pele do rosto eram, efetivamente, perfeitos, sem deixar marcas a mais do que as necessárias, como em cirurgia plática. Era como se a moça tivesse uma máscara, que fora arrancada dela. Ela morava perto de onde o corpo foi encontrado pela Polícia Militar. Possivelmente foi assassinada e desfigurada por traficantes, a quem, de acordo com informações à época, tinha dívidas. A imagem da "mulher sem rosto" ficou como marca em minha vida profissional.

Um comentário:

  1. Adagoberto, nessa época eu exercia o cargo de Chefe dos Investigadores do Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (S.H.P.P.), e compareci com minha equipe no local. ainda tenho na lembrança a cena que presenciei,e ainda guardo as fotografias. Muitas histórias surgiram na época sobre o crime, algumas totalmente absurdas. a mais absurda de todas partiu de um renomado legista, o qual realizou a necrópsia. foi ele que constatou a "precisão cirúrgica" da remoçao da máscara facial, e ficou intrigado. Compareceu ao local alguns dias depois, juntamente com o médico diretor do IML (à época). Ao verificar o que sobrou do local, as manchas de sangue, a pedra que esteve sob o corpo, e outros detalhes, diagnosticou que "Nika" havia sido vitimada por alienígenas baseados em Varginha/MG...
    Com os pés no chão, após dias de investigação, conseguimos encontrar a família da jovem (infelizmente não consigo recordar o seu nome), que nos disse ser ela usuária de drogas e, para pagar suas contas com o traficante local, passou a comercializar. No entanto, ela consumia mais do que vendia. No dia de sua morte, ao perceber que seria abordada e agredida pelos marginais, ela engoliu as "petecas" de cocaína (naquela época eram embaladas em saquinhos plásticos, não nos atuais tubetes plasticos). Na tentativa de recuperar a droga, os assassinos cortaram sua garganta... e para garantiar que os outros "vendedores" não fariam o mesmo, decidiram arrancar-lhe o rosto. O mandante do crime não chegou a ser punido pela lei, pois foi morto por outros traficantes. Apesar dos meus 25 anos de policial e depois de ver todo tipo de cadáver e situações de violência, esse também é um caso difícil de esquecer...forte abraço, Ghandi!!!

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